quinta-feira, 17 de março de 2011

HELLO, DOLLY! NAMORADEIRA, SEM FILOSOFIA

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Por Dorothy Coutinho

Boa parte das moçoilas de hoje mesmo com tantos atributos seguem solteiras, temem não haver tempo para formar a própria família, e se queixam de que não há homem “no mercado”. Essa probabilidade de encontrar “qualquer um” vem de longe.

Eu que tenho mais de 40 anos, 50? O.k.60?, só mesmo na ficção mais desvairada poderia ter minha vida transformada em filme, e só pra esculachar com a narração da Fernanda Montenegro!

Afogada num poço de necessidades com o relógio biológico me pressionando na puberdade, na pré-adolescência, adolescência e na primeira juventude, também imaginei um garçon me comendo!

O primeiro namorado foi o Zeca – campeão de bola de gude. Nós tínhamos 12 anos. O primeiro beijo puro e tímido foi descoberto e tive que pagar penitência: dois padres-nosso, três salve-rainhas e meia hora de joelhos sobre alguns grãos de milho.

O Carlos foi o autor do primeiro beijo na boca. Combinamos um dia sonhar com o outro. Seria um sonho só. Claro que não sonhamos, mas mentimos um para o outro.

Com o Dário o primeiro beijo de língua. Primeira mão no peito. Só por fora. Não rolou mais nada.

Com o Aragão, meu Deus! Intermináveis negociações. Deixa. Não deixo. Pega aqui. Eu não. Só um pouquinho. Não.

O sexo com o Márcio não passou de uma simulação razoável. Namoramos durante um ano. Fizemos até um pacto suicida. Demorei a responder. Ele achou que era má vontade e o namoro acabou.

O Chico gostava de tomar banho juntos. Pedia para que eu dançasse o can-can. Era chegado numa tocha-cubana, mas não me deixou dar um malho no pai dele, o que me decepcionou.

Conheci o Cosmo. Meio blazê. Ficamos noivos, até o dia em que ele me viu descascando uma cenoura e teve uma crise. Por alguma razão, o meu jeito de descascar aquela cenoura desencadeou uma crise.

A seguir apareceu o “esquisitão” Agenor que me deixava esperando. Gostava de pizza de estrogonofe com banana e misturava steinheger com cerveja. Urg!

Finalmente o meu 1º dia de calcinha preta e sexo animal. Foi com o Adilson. Antes de sair para o encontro pensei: “serei vítima das mais bárbaras sevícias”. Descobri que ele nem sabia quem era Roman Polanski.

Chegou o tempo da coca e do fumo, do álcool e da bola, do big Mac e dos cigarrinhos de chocolate. Ficamos muitos de nós, largados por aí, fazendo amor e revolução, mandando tudo pra dentro, com o lado negro da força imperando nas noites de Sodoma e Gomorra. Por um bom tempo estive alone, solteira, free e desimpedida. Era feliz e não sabia.

Na década seguinte, mesmo sem intimidade com a cozinha, dei um jeito na minha vida. Arrumei um emprego, um marido, casei, constituí família e hoje chego à conclusão de que um “saquinho de esperma saudável” tem o seu momento de bravura para a humanidade. Eu? – Eu devia ter estudado filosofia.