quarta-feira, 16 de março de 2011

PINDORAMA 10° 0' 0" S / 55° 0' 0" W. A ILHA DE VITÓRIA

Vista parcial de Vitória, no Espírito Santo
Por Ana Laura Diniz

Vitória, não a da Conquista, mas a
 do Espírito Santo, é uma das três ilhas-capitais do Brasil (as demais são Florianópolis e São Luís do Maranhão). Limita-se ao norte com o município da Serra, ao sul com Vila Velha, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o município de Cariacica.

Sua população hoje tem cerca de 320 mil habitantes; e apesar de ser a ilha principal, outras 34 também pertencem ao município (originalmente eram 50, mas muitas foram agregadas por meio de aterro à ilha maior).
Moqueca Capixaba

Conhecida por seus dois grandes portos, o Porto de Vitória e o Porto de
 Tubarão, a cidade é tão ou mais famosa por sua Moqueca Capixaba, que, segundo os amantes da iguaria, não existe nada compatível - motivo pelo qual, amigos e familiares sempre julgaram absurdo eu morar na cidade, e não saboreá-la.

Pois é. Oito intensos anos foram poucos para que eu a provasse. Confesso que sempre fui "carnívora", e amante de batata, quando frita e crocante e sequinha por fora e macia por dentro - huuummm - ainda melhor. Então era assim: dia de sol, muito mar, onda, frescobol, vôlei, futevôlei. Almoço no Partido Alto. Todos na moqueca. Eu, filé à parmegiana com arroz e fritas ou qualquer coisa do gênero - rompendo e comprometendo toda a tradição capixaba.

De vez em quando, muito de vez em quando mesmo, uma casquinha de siri, também bem famosa por lá, caía bem. Agora o siri ou o carangueijo mesmo... nem pensar. E as pessoas "martelam" suas partes e as comem com  imenso prazer.
Praia de Camburi

Fui mesmo aprender a comer algum peixe depois “de grande”, na volta à vida em São Paulo. Hoje, para falar a verdade, aprecio muito mais um salmão cru a grelhado – acho extremamente mais saboroso. Se regado a shoyu e acompanhado de raiz forte (wasabi) e gengibre, delícia! Mas nada disso fez parte do meu repertório capixaba. Eu até pescava, mas não comia. Houve um tempo em que além de pescar, também limpava a produção... mas permanecia sem comê-los. Os amigos e a família é quem faziam a festa.

A diversão mesmo estava no ritual. Ir à praia, colocar isca no anzol, entrar no mar e jogar a linha. E esperar, esperar, esperar... o tempo que fosse. Entre uma espera e outra, alguns mergulhos. 
A pesca na Baía de Vitória
foto: blog pesca vitória

Capixaba pesca. Em Vitória, é quase uma tradição. Difícil no findar do dia, não
 ver pares e mais pares pescando na praia de Camburi. Final de semana, então, nem se fala. Todas as praias, da capital  e dos arredores - Manguinhos, Jacaraípe, Nova Almeida, Enseada das Garças (onde tem um pequeno paraíso chamado Tamborim), Vila Velha, Marataízes, Guarapari - ficam pinhadas de gentes com suas iscas, suas barracas, suas cervejas estupidamente geladas, seus esportes. Os surfistas sempre aparecem.

Morei em Vitória de 1982 a 1990. Claro que muita coisa mudou de lá para cá, a começar pelo shopping que foi construído depois da minha saída. Na minha época, eram “dois grandes shoppings” – o Centro da Praia e o Boulevard Shopping. Nada mais que galerias, a bem da verdade, sendo o segundo bem maior que o primeiro. Cinema, apenas um, e no centro da cidade. Agora, não, o shopping oferece as tradicionais salas de cinemas existentes nas grandes metrópoles.
Theatro Carlos Gomes

No centro da cidade também está o Theatro Carlos Gomes. Localizado na Praça Costa Pereira, foi construído em 1927, e sua arquitetura foi inspirada no Teatro Scala, de Milão (Itália), projeto do arquiteto italiano André Carloni. A cúpula foi feita pelo artista plástico capixaba Homero Massena e nela predomina o estilo neo-renascentista italiano.

A cidade é linda, e em geral, deveras ensolarada. Em seu entorno ainda têm 
praias virgens, - algumas, com presença de índios - algas de vários estilos, pouco ou nada explorada pelo homem.
Visão interna do teatro

A sua beleza e os seus costumes são perceptíveis, principalmente a quem chega de fora. Inverno capixaba é verão ainda para paulistanos. E, tirando o capixaba que não imita o carioca no sotaque, é delicioso perceber algumas mini-características linguísticas. Capixaba não fala “caneta”, mas “cãneta”; não fala “camelo”, mas “cãmelo”. Deu pra entender? O primeiro “a” é anasalado, adnasal. Em geral, eles não se dão conta disso, mas é. Sem falar que há praticamente uma única preposição na hora de dizer que fulano vai à casa de alguém: “vou à casa de Ricardo; vou à casa de Joana”. Em São Paulo, por exemplo, o “de” praticamente inexiste: “vou à casa do Ricardo; vou à casa da Joana”.
Terceira Ponte - liga Vitória e Vila Velha

Não à toa, sou uma miscelânea de costumes. Tendo morado aqui, lá, acolá, as expressões ganham vida prática.

Feliz o tempo de infância e pré-adolescência em Vitória. Foi lá que aprendi a nadar aos seis anos com a minha madrinha na piscina do Praia Tênis Clube. E peguei a primeira onda, o “jacaré”. E progredi para o body, e arrisquei no surf.

E mais. Joguei vôlei, basquete, handebol, peteca, frescobol. Quando a rua era extensão dos quintais das casas, e os vizinhos se reuniam para um vôlei, para uma conversa. Soltei pipa e aprendi a cair e a andar de bicicleta e patins. E a subir em árvore e a brincar de polícia e ladrão. E a fazer amigos de uma vida inteira.
Convento da Penha

Se você for à Vitória, faça um passeio de carro pela cidade bem devagar. Aprecie a tudo sem moderação. Sinta o cheiro de maresia. Caminhe nos calçadões das praias. Se possível, também na areia, molhando os pés. Passe pela Praia do Canto, Ilha do Boi, Mata da Praia, Jardim Camburi, Jardim da Penha. Se for de avião, escolha a janela e aproveite a vista aérea. Visite o Centro e a Cidade Alta. Você pegará algum trânsito, talvez, mas vale a pena. Aproveite para também conhecer Vila Velha e o Convento da Penha: maravilhas. A fábrica da Garoto, se amar chocolate. É praticamente ao lado. Basta passar pela Terceira Ponte, aproveitar o visual... e a vida.