sexta-feira, 25 de maio de 2012

84, CHARING CROSS - FLORES

Elaine Pereira

Estive no fim de semana em uma cidade com nome de flor.



O Brasil é tão vasto que não há como identificar o mesmo país em distâncias tão exageradas.

Santa Catarina é um pedaço da Alemanha que fugiu para os trópicos. A história de Blumenau é como a história de tantas outras cidades da região, construídas com as mãos laboriosas dos alemães que vieram buscar gerações menos sisudas para sua descendência. Quem vê a Oktoberfest acha que a Alemanha é só festa. Quem trabalha com alemães como eu já trabalhei e convivi ao aprender a língua deles, percebe que existe uma seriedade intrínseca, a própria língua é áspera, cheia de cantos vivos, não é melodiosa. Mas transparece eficiência.

Sabemos que muitas coisas feias foram ditas em alemão e em nome de um povo alemão que nem sabia direito o que estava acontecendo. Passou, mas a lição ficou. Só que aqui tudo se torna estranhamente diferente, inimigos ancestrais no Brasil parecem esquecer onde é que começou essa história.


A cidade já sofreu muito com a água, mas já cresceu muito, trabalha muito. E é linda. E tem capivaras à beira do rio, que eu achava que eram pacas, mas não entendo nada de roedores. O fato é que elas são simpaticíssimas, a gente pára para olhar para elas e elas nos observam de volta, um estranhamento engraçadíssimo. O que é isso minha gente? Capivaras no meio da cidade? Sim. E um barco à beira do rio relembrando o fundador da cidade. E relógio de flores. E o resto todo, igreja, estilo enxaimel, praça, e na cidade toda se respira um ar de Europa.


Blumenau é uma cidade onde se pode ter momentos inesquecíveis. Ou não. Quando viajamos escolhemos o que fazer, ver tudo, comprar tudo, ficar no sol, na neve. Eu desta vez não escolhi nada. Deixei a cidade me surpreender. E não poderia ter sido mais perfeito. Não sou de grandes jantares, de lugares sofisticados, mas se tiver, ótimo. E de repente do nada pulou um momento perfeito, surreal como o olhar das capivaras, mas irretocável. São as famosas lembranças de viagem que não guardamos em souvenirs, fotos, papéis, são aquelas que se incorporam ao nosso corpo, à nossa mente.

É um privilégio tão grande ser capaz de sentir um momento perfeito, sem deixar que ele escape.