domingo, 13 de maio de 2012

SENHORA DO TEMPO- TÁ LÁ UMA FOTO ESTENDIDA NO CHÃO




Isabel Pacheco Bernini, EstherLucio Bittencourt, Inara Rodrigues, Sandra D'Alcantara, Marina, escreveram




A foto estendida no chão

Foi a Bel quem achou esta foto. Isabel Pacheco Bernini. Saía do trabalho para fumar quando viu a foto do casal caída na calçada.
Fotografou a fotografia e a postou no facebook com a legenda “Tá lá uma foto estendida no chão”. Lembrada a música do João Bosco.
Mas Isabel não ficou somente de frente para o crime. Incitou que as pessoas escrevessem sobre o achado. E quem conta um conto aumenta um ponto, foi assim que ensaiamos, várias amigas, a história da fotografia que surgiu na rua:




Alguns acreditavam que, por ter havido desentendimento, um dos pares jogara a foto fora, em alguma cesta de lixo na calçada e o vento a levara, ou teria sido posta em agradecimento por algum milagre, na Igreja da Cruz Torta, que fica perto do trabalho da Bel, no Alto Pinheiros, em São Paulo, e o vento também a levara. Como vimos o vento tem culpa pelos sete costados.

Marina Lobo, disse- Ou não! tudo depende do olhar criativo, de repente o chão pode virar as paredes da igreja...  (independente disso a foto é muito linda!)

Ana Laura Diniz- Belzinha, eu não falei desde sexta sobre essa foto - quando você postou - porque me falta contexto... mas não aguento: achei muito criativa a sua abordagem e não consigo ler essa frase com essa foto sem rir... mas não sei se é pra rir, se pode rir... enfim... e o mais doido é que o chão da igreja se mistura ao chão em que a foto repousa...

IsaBel Pacheco Bernini- NáLaura, podemos até rir. Embora o fim de um amor suponha choro, em certos casos, né?
Esse foi o seguinte: Fui fumar meu cigarrinho e me deparo, logo ali, no chão da rua da empresa, com essa foto, do nada. Deve ter caído de algum saco de lixo?
Eu fiquei boquiaberta, como podia ter caído uma foto dessa, né? Ou foi ele ou ela que jogou pela janela do carro? Várias hipóteses...

Ana Laura - uau, que loucura... a história cada vez mais toma outra dimensão... hahahaha, não demora, os donos da foto então poderão se ver no face . Que doideiraaaaaaaa. mas que a foto ficou ótima, ficou!!!

IsaBel i- ééé, aí um deles pode contar o casamento pra nós... e as doidas vão começar a opinar... umas de nós vão defender o moço. outras a defenderão...

Ana Laura - eu não ia dormir bem se não desse esse comentário hoje. estou desde sexta me coçando, mas estava super sem graça de externar minha emoção.

IsaBel - eu acho que ela veio jogar a foto na porta da igreja onde casou - tem uma famosíssima lá perto mesmo. Onde era moda casar nos anos 80 - época desse casamento aí (pela foto dá pra sacar). Igreja da Cruz Torta...
Ora, minhas amigas... uma igreja com um nome desses, Deus que me livre.
Aí, após voltar da Alemanha (ele tem cara de alemão), ela veio, jogou a foto na porta  desta igreja.
A foto veio voando pelas ruas de Pinheiros e parou bem no meio das minhas lágrimas.

Isabel Pacheco Bernini

Esther - Por que ela jogaria a foto na porta da igreja?

IsaBel - Pra simbolizar a dor do fim. Ela queria continuar. Ele não. Ela não se daptou ao clima da Alemanha, às gentes, a família dele era autoritária demais.
Ele ficou na Alemanha. Ela voltou... tá aí mais um motivo pra raiva .
Ela amou. Olha as costas dela. Toda pra frente... ela virou alemã no início do namoro.

Ele se apaixonou por outra. Uma grega. Ela tinha virado alemã demais.
Ela voltou por mágoa. Tanto tempo de dedicação à alemãzice. Aprendeu até a fazer linguiça, coisa trabalhosa...  E ele querendo feijoada, pratos quentes, samba e a Paula lá, no bordado da Baviera.

Mas foi influência da sogra, ela desejou agradar fazendo frivolites e olha no que deu... e a grga fazia uma feijoada como ninguém. entendo, IsaBel Pacheco Bernini. Mas foi influência da sogra, ela desejou agradar fazendo frvolites e olha no que deu...

Esther - Karl Spaeth. O nome dele, está escrito atrás da foto, você viu? Resolveu da Grécia ir para Manaus derrubar árvores, montar uma serraria e lá encontrou mestiças lindas que cozinhavam pequi perfeitos. No entanto acabou espetando a boca num daquelas espinhos do pequi e o calor propiciou a infecção. Daí que ele veio para o Rio se tratar. Abandonou a serraria e foi morar em Vila Isabel.

Ana Laura- A Paula aprendeu a fazer chucrute...


Inara Almeida Rodrigues

Inara Almeida Domingues-  Preciso ler os próximos capítulos dessa tragédia do chucrute.

IsaBel -  Opa. Osasco na área. Eu tava certa mesmo em ter ido fumar.

Inara - A Paula tem cara de quem não encararia tirar espinho de pequi da língua de ninguém.

IsaBel - Pois é. Agradou demais. Se aculturou muito. Jogou a latinidade fora. E tudo que ele queria era o chaleur do brasil em terras frias, duras..
A Paula descobriu a receita original do chucrute. A sogra queria matar a louca.

Esther - Na realidade, contam que ele veio procurar o chaleur da Joana Francesa, montada no jegue com o decote provocante. Mas , mais uma vez, entra o chico na história e ele era fã de caetano... abhinc 2 momenta • Mihi placet • Ana Laura Diniz e ela se amarrou em cozinhar "kassler mit Sauerkraut", ou seja, costeleta de porco com chucrute acompanhado de batata cozinha. arroz com feijão, necas

Inara - A sogra até gostava dela, mas Paula (a do Rio?) já sabia demais. Precisava ser exterminada. Não restaria salsichão sobre salsichão.

IsaBel- Ah, Inara, minha jovem. Você não conhece o poder do amor. Paula foi encarar o joelho do porco, Inara. Vivo! Por amor ela matava o porco sozinha só pra fazer o melhor joelhinho pro marido, querida. O amor faz coisas que nem Deus faz melhor.

Sandra Salles D'Alcantara- E se os dois morreram, e alguém da família veio deixar a fotografia aos pés da Santa Cruz (já tem a trilha): você se ajoelhou, em nome de Jesus um grande amor você jurou- Zé da Zilda/ Marino Pinto.

Esther - E o mais doloroso, Sandra, é que até hoje neste mesmo ponto, neste mesmo pedaço de calçada, onde a IsaBel Pacheco Bernini foi fumar passa um realejo que toca esta música cantada pelo Adoniran Barbosa.

IsaBel - É, Esther. A Joana Francesa dele virou a Paula Alemoa e ele voltou para as casas brancas e silenciosas da Grécia.
Aí, Sandrinha, a história fica bonita. Mas como a foto voou do altar? Um pé de ventania fortíssimo. O que me lembra uma frase da sua filha, que bem pode ser do seu marido: ninguém dá uma chance pro romance!

Igreja da Cruz Torta , em São Paulo

Inara - Esther, diga-nos, por favor, qual é a música do Adoniran que toca no realejo?

Esther- Como não conheço nenhum música do Adoniran em realejo, falei somente para fazer parte do enredo, lá vai o próprio Adoniran:




Ana Laura -  Mamma mia, foi pra grécia encontrar Sofia.

IsaBel -  Joana Francesa, Inarão. Uma das coisas mais lindas deste mundo. Sim, porque este mundo tem coisas lindas. Que você tem que conhecer já!

IsaBel - Não, Inarão! A Esther tá falando de outra música..

Esther -  e hoje, Sandrinha, Paula e Karl estão profundamente arrependidos das escolhas que fizeram.
Ela foi até a lata de lixo catar a foto depois que recebeu uma carta de seu ex marido vinda da Grécia. mas mal sabe ela que IsaBel Pacheco Bernini  está com sua lembrança guardada e chorou muito quando viu a foto estirada no chão.
Mas um dia, como diz Karl na carta, ele chegará no cais do porto , lá em Santos, e irá em busca de sua Paula especialista em frivolite.

Sandra Salles D'Alcantara- D. Maguinho, como bom pisciano, opinou dizendo que pode ser uma promessa ou algum ritual para segurar o casamento deles!!!Um romântico este meu marido!

Esther - Pode avisar para Dom Maguinho que há possibilidades neste fundamento e que a vida deu certo porque os dois estão juntinhos de novo, recebi notícia por telex inda agora, e pensam em prolixa prole.

IsaBel - Aê, Esther fez um final possível. (minha cara). Mas eu acho que uma vez que ele viu os gregos, NaLaura... difícil ficar saudoso dos frivolites, da feijoada. Karl está em óóótema companhia. E se eu fosse a Paula eu endireitava esse ombro, e andaria com fé, que a fé não costuma faiá.

IsaBel Pacheco Bernini- Ai, muita honra Dom Maguinho na nossa história, hein?

Sandra -  Pois é...o fato de ser músico, pisciano o torna apto a embarcar nesta "viagem" feminina! ( foi a única opinião masculina).

Esther - Paula está confiante, aprendeu a fazer feijoada, carré, leitão a pururuca com a Terlinha , toca uma gaita afinadíssima e canta emboladas paulistas nos bares do Bexiga.
E soube também que Paula aceitou a vinda da grega numa boa, e viverão numa imensa casa, os três mais as crianças-  a grega tem filhos tem filhos com Karl- .

Dom Maguinho, pelo que sei,  prometeu tocar no batizado do primeiro filho/a dele com a Paula. Será festança!

E com esta história contada por sentimentos de várias pessoas sensíveis certamente era virará conto de fada, ou lenda urbana, pois desde que a Bel - Isabel Pacheco Bernini- resolveu fumar na calçada a vida do casal tornou-se pública e as hipóteses de hoje podem ser consolidada em alguma realidade passada ou futura. Não seja o diabo a lhe atrapalhar as botas nem a cruz torta da Igreja.

Pois o vento faz coisas, segundo Riobaldo:  " Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes... O diabo na rua, no meio do redemunho... (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)