Por Bianca Monteiro
Ter um certo prazer em afirmar coisas é uma característica típica de
um "cabeça-dura". Detesto admitir, mas faço parte disso e tenho certeza
que não sou a única. Não gosto de mudar de opinião e evito completamente
o tão conhecido "virar casaca", ou como eu mesma digo "trair o
movimento". Não sei por que parecer uma pessoa estável é tão importante,
mas, não há nada tão difícil quanto me convencer de algo. Queria
experimentar essa ideia do "prefiro ser uma metamorfose ambulante do que
ter aquela velha opinião formada sobre tudo"...
A pessoas como
eu, digo: é necessário aceitar que não sabemos de tudo, ou conhecemos
todos os lados da moeda. Existem diversos modos de ver uma situação, e
dependendo de onde nos colocamos nela, alguns ficam ocultos, e outros
mais evidentes. A ideia é abrir-se a novas possibilidades, de modo que
logo a nossa condição já não influencie tanto no ponto de vista, já que
nosso foco já alcança distâncias maiores.
Minha cabeça se assemelha a isso na disposição de memórias. |
É até engraçado, depois
de bastante tempo (ou até pouco, por mais que isso seja raro pra mim)
tudo muda de significado devido às lembranças vividas. Eu, como boa
nostálgica, noto isso a todo momento. Ontem mais cedo tive um exemplo
claro: a música que eu ouvia tanto no ano passado pra expressar o quão
partido meu coração estava (como o nome já diz, "Love Hurts", do Nazareth),
era ali cantada por mim e pelo suposto motivo das minhas lágrimas
antigas, e atual motivo da minha felicidade. Sorriso antigo, tristeza
recente, e vice-versa: o poder das lembranças é tão forte que é capaz de
mudar até mesmo uma "cabeça-dura" como eu.
E as fotos que antes
foram tão boas de tirar e hoje não temos mais nem vontade de olhar? O
álbum composto apenas das mesmas pessoas que hoje você nem entende por
que foram parar lá? O livro que antes você gostava mas não leria de novo
por não querer lembrar de ninguém que se indentifique com os
personagens. Os planos que foram alterados, assim como os sonhos... As
vontades que foram surgindo e sumindo sucessivamente. Os novos
interesses, as teorias, ideologias... Os filmes que você já não suporta
de tanto que contam sobre você e as bandas que você não pode nem ouvir o
nome sendo que gostou tanto um dia.
Como a música dos Supercordas, "Meu Vidrinho de Fluidos Oníricos". Guardo minhas amostras não em frascos, mas em linhas. |
Com música então, isso é
realmente mais fácil de acontecer. A expressão "nossa música" já é
previamente destinada a se referir a uma música que nenhum dos dois vai
querer ouvir mais no futuro, quando o prazer em lembrar daquilo for nulo
(ou não, né). Quantas boas músicas deixamos de gostar por terem sido
gastas com pessoas que não eram tão boas assim? Quantos textos e
palavras bonitas desperdiçamos pelo mesmo motivo? Olhar o passado só dá
uma raivinha quando fomos idiotas em algum momento. Mas a vontade de
corrigir inexiste, já que, do contrário, esse aprendizado não teria
beneficiado depois de alguma forma. Não importa a hora exata, mas o erro
será cometido de um jeito ou de outro se desconhercemos algo e não
soubermos lidar, a experiência um dia vai fazer falta.
Andei
sentindo tudo isso e achando... Engraçado, apenas. Eu quis tanto não
mudar, e quando comecei a prestar atenção e comparar, notei outra pessoa
aqui. E estou começando a achar isso bom.