domingo, 20 de maio de 2012

SENHORA DO TEMPO- VENINA INVENTOU O GRAFITI

Por Esther Lucio Bittencourt

Quando era criança, no tempo de eu menina, (parafraseando Manuel Bandeira) tenho certeza de que não havia ninguém mais comportada, quieta e submissa.

Mas um dia, sei lá, deve ter batido um vento estranho e com um pedaço de cavão fiz desenhos primorosos na parede exterior do quarto de Venina Pantoja.

Venina, que era minha fonte de observação comportamental; saía para namorar às tardes de fim de semana com seu vestido de florezinhas pequenas, duas rodelas de rouge, bem definidas, nas bochechas; a boca de melindrosa bem delineada e o guarda chuva, fizesse sol ou chuva.

Ela era o fascínio de minha infância. Seu quarto guardava réstias compridas de cebola, e o mais fascinante um rádio que não tocava: era o seu cofre forte.

Ela era , como se diz, daquelas pessoas que fazem parte da família sem o ser? Mas com mando superior a qualquer ser vivente da casa? Agregada. Sim, Venina era agregada.

Naquele tempo isto era muito comum.

Nunca me perguntei ou a qualquer pessoa de onde viera Venina. Mas bastava sentar na cama dela e conversar sobre o rádio que não tocava, sentir o perfume forte da Coty, que todos os detalhes do mundo tinham a devida importância: detalhes.

Mas deixe voltar ao caso do rabisco. Foi um escândalo na família. Era quase hora do ajantarado de domingo quando fui denunciada por alguém. Pai e mãe aflitos, tias e tios, ofegantes e primos felizes com arte de quem era o exemplo para todos.

Crime dos crimes.

Teria sido um desenho semelhante a este:


Mas a parede precisaria ser pintada novamente daquela cor amarelo ocre que se usava muito antigamente e voltou a ser moda. Minha avó, a dona da casa, foi a primeira chegar e elogiar o desenho em seguida veio Venina com uma bala na mão e foi enfática: "não quero que tirem o desenho daí". E ele ficou lá, até que a casa foi toda repintada. Bem , isto é para introduzir o meu tema de hoje: PIXAÇÃO. Noutro dia o Google fez homenagem a ele: Keith Haring e falou sobre seus vários murais, que são grafites em muro e selecionei especialmente este por que foi feito em Pisa, na Itália num apelo à paz mundial:
O mundo gira e se modifica. O tempo passa e se repete e reconstrói. Antigamente era as pinturas nas cavernas, que hoje chamamos de rupestres:
Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Pintura escolhida para a logomarca do Parque Nacional da Capivara, no Piauí). Hoje são as expressões do homem urbano que deseja contar sua história para a posteridade. Retornamos à linguagem antiga: a das pinturas, já que a fala, a voz, as letras estão momentaneamente em desuso. Hoje os grafiteiros, nem todos, são conhecidos como designers. E o são. Nicholas Ganz, pintor, grafiteiro e designer alemão escreveu um livro sobre o assunto - "O Mundo do Grafite: Arte Urbana nos Cinco Continentes" (Graffiti World):
O grafiti nasceu como arte contestadora mas hoje é exibida em galerias o que significa que não é arte de protesto mais e sim faz parte do esquema. Veja este caso da Vila Madalena, em São Paulo, onde numa viela com entrada para a rua da Harmonia as paredes são todas grafitadas e as imagens mudam sempre:
Coisa de moleque de rua, anteriormente, o grafite hoje é arte.

O conde de Glasgow, encomendou a dois brasileiros, conhecidos como os Gêmeos - Nina Pandolfo e Nunca - encomendou a eles que grafitasse seu castelo medieval na Escócia. Só que a justiça de lá está processando o Conde.


Mais trabalhos dos gêmeos Em síntese, creio que foi Venina Pantoja, ao dar força à minha pixação quem iniciou esta expressão urbana de arte, Ela e minha avó. Se tivesse podido ler o futuro certamente não teria me dedicado tanto aos estudos e sim ao desenho e ainda curtiria uma boa adrenalina: