sábado, 16 de abril de 2011

84, CHARING CROSS




Pois, pois, LISBOA.


Por Vera Guimarães

                                                         calçada de Lisboa




Por mais que a Fal tenha tentado me ilustrar, acho que não sou ilustrável e ainda vou gastar muito tempo digerindo o que ela me contou.
Os lugares a que vou capturam um ou algum dos meus sentidos de forma imediata. Amsterdam, para mim, ficou sendo seus tijolos, do branco ao preto, passando pelo creme, marfim, bege, amarelo-ovo, ocre, terracota, vermelho, marrom e quaisquer outras cores nesse meio. Lisboa, Fal, ficou sendo suas calçadas de basalto, lisas, brilhantes e certinhas, onde tenho certeza de poder andar, escorregar, patinar e dançar.
O centro é uma obra em progresso: prédios e mais prédios estão sendo reformados. A gente só vê a casquinha deles, sustentada por vigas e pilares de ferro, enquanto se promete que de lá de dentro surgirão hotéis, apartamentos, escritórios.
E as comidas são deliciosas. Aceitando o desafio da Monix, descobri o que é uma alheira e uma açorda de gambas. Por mim, nem precisava variar: seria bacalhau todo dia.
Sei que lá tem museus fantásticos, alguns eu conheci. Mas descobri que dois velhinhos só conseguem ver um por dia, não adianta forçar. Então, fomos ao museu de carruagens http://www.museudoscoches-ipmuseus.pt/  , lindo, e ao Museu Nacional do Azulejo http://www.mnazulejo-ipmuseus.pt/  , este revelação e surpresa.
 Era a semana mundial dos museus, algo assim, e praticamente todos estavam com uma programação paralela de concertos, visitas, palestras, poesias etc. Depois de vermos azulejos e painéis inimagináveis, quando íamos saindo, vimos uma movimentação no café. Estava começando a apresentação do coral alentejano de Vila de Cuba, uns tiozinhos vestidos com roupa típica daquela área rural, entoando com vozes fortíssimas e muito bem harmonizadas  suas canções de trabalho, de reza, de amor...  Vejam como eles são: http://cantoalentejano.com/calendario/?id=218&det=1 Não tem preço. Mas tem lágrimas abundantes escorrendo.
Isa, acho linda a maneira de eles, vocês,  falarem, a clareza de que não se abre mão, os pronomes todos. Não tem isso de o objeto direto ficar subentendido: tem-se que o explicitar, como tento fazer nesta frase. Mas a estranheza e a ignorância também provocam risos. Tarcisio tropeçou na entrada de um bondinho. Acudiu o motorneiro: “Aleijou-se?”
Outra: minha filha me havia encomendado o livro QUI GARDERA LES ENFANTS? Lá vem outro ataque de riso: procurando por ele numa FNAC de Lisboa, Tarcisio falou, com sotaque supostamente português, que eu deveria procurar por QUEM CUIDARÁ DOS PUTOS? 
                                              Cantores Alentejanos