sábado, 12 de fevereiro de 2011

84, CHARING CROSS. DANDO UMA VOLTINHA POR AÍ...

Por Alline Storni

A idéia da coluna é fazer relatos sobre a Itália e a minha vida de imigrante... mas como me deu uma saudade danada do mar, do sol, do calor, eu resolvi escrever sobre a minha viagem de lua-de-mel. Que foi no início de 2009, em um lugar pouco conhecido e muito, muito lindo...


Bom, a idéia de ir pra Ilha de Páscoa (Rapa Nui) foi do Alberto. Na verdade, eu nunca tinha prestado atenção neste lugar e não sabia nada.

Pois ele fixado nos Moais e em toda magia que envolve a ilha, cismou. Aliás, nossa viagem toda foi planejada a partir da Ilha de Páscoa... fomos pesquisar (eu fui pesquisar, né, porque ele queria ir mas nem sabia por onde, se tinha avião, enfim) e eu vi que o melhor era ir pelo Chile (tem vôo direto da Polinésia também), porque daí dava pra gente ver o deserto :-) e também porque era mais barato.


A Ilha tem 20 km de extensão. Picolissima! Ainda mais pra mim, que tô acostumada com a Ilha Grande, no litoral de Angra dos Reis, onde morei uns anos. Bom, Rapa Nui também quer dizer Ilha Grande, hehehe, o que prova que o padrão de tamanho varia muito entre as pessoas!

Também é conhecida como Te pito o te henúa ("umbigo do mundo") e Mata ki te rangi ("olhos fixados no céu").

É uma ilha vulcânica, em forma de triangulo, e é o pedaço de terra MAIS ISOLADO DO MUNDO! Fica há cerca de 4500 km de distância do Chile, Pacífico adentro.

Bom, o grande lance da Ilha são os misteriosos MOAIS. As enormes esculturas de pedra vulcânica... são em torno de 800, OITOCENTOS, mas em boas condições, são em torno de 500. Todos estão de costas pro mar, virados em direção à cidade, exceto o altar que representa os 7 navegadores que foram os primeiros a chegar por lá, segundo reza a lenda.

Os navegadores chegaram, viram que era possível colonizar a ilha, tornaram pra dizer isso ao Rei de uma das ilhas da Polinésia (diz a lenda que o rei sonhou que existia a Ilha de Páscoa, e como sua ilha estava afundando, ele resolveu mandar os 7 exploradores pra confirmar o sonho). Bão, fato é que o rei mudou com todo seu reinado MENOS os tais 7 navegadores, que não quiseram morar em Rapa Nui. Os 7 Moais voltados pro mar indicam que eles foram embora...

O vulcão Rano Raraku era onde eles faziam os Moais. Segundo a história ali, os moais eram representações dos "sacerdotes" que morriam (sacerdotes no sentido amplo da coisa, Aqui quero dizer as pessoas mais importantes, os sábios, pajés, etc). Os Rapa Nuis acreditavam que fazendo o Moai, aquele sacerdote ganhava vida e espalhava o MANA (a força, a energia) para o seu povo. Eram diversos clãs na ilha, e cada clã fazia seu moai (os moais tem “tatuagens” nas costas, que mostram que a qual clã pertencia). O transporte dos Moais para os respectivos Ahus (altares) ao redor da Ilha é o maior mistério de todos. As esculturas são enormes, atingindo até 12 metros de altura e algumas pesam até 20 toneladas. Segundo a corrente mais aceita, eles foram transportados através de troncos que serviam de "trilhos". Essa é a corrente mais aceita porque num certo momento não existia mais nenhuma árvore na Ilha, eles tinham derrubado tudo pra transportar os Moais!! Tudo de árvore que tem lá é introduzido...Há um certo ponto cada clã queria fazer um moai maior que o outro clã, então serviam mais e mais troncos.

Além dos Moais, eles também faziam os chapéus dos Moais (Pukao) num outro vulcão, que tem a rocha vermelha. Daí eles tinham que transportar também os pukaos até onde estariam os moais. Os chapéus são imennnnnnnnsos.

Os olhos dos Moais eram a última coisa a serem feitas. Porque segundo os Rapa Nuis, os olhos é que emanam o Mana, um Moai sem olho não serve pra nada! Então os Rapa Nuis dizem que os moais que encontramos no caminho (eles estão em toda parte) sem os olhos talhados, nunca chegaram a pertencer a nenhum Ahu (altar). Ainda estavam sendo transportados e não foram terminados. Os olhos eram feitos com coral branco e a pupila era feita com a mesma pedra do chapéu (vermelha).

Na Ilha toda só tem um Moai com olho. Mas mesmo assim o olho foi reproduzido depois. O único olho verdadeiro está no Museu Arqueológico.

Agora, se vocês forem ver as fotos, vão ver uma cava no vulcão com um Moai escavado (Foto 49 neste álbum http://picasaweb.google.com/allinestorni/IlhaDePascoa?feat=directlink).

Pois bem, eles esculpiam os moais diretamente da cava. Não é que pegavam um pedaço de pedra e esculpiam não...Era diretamente da cava, daí eles faziam uma "quilha" nas costas do Moai e depois cortavam a quilha e faziam escorrer pelos trilhos de tronco. Trabalhoso, não?

O vulcão onde eles esculpiam os moais, Rano Raraku, é LOTADO DE MOAIS POR TODAS AS PARTES! Parece uma coisa assim tipo Senhor dos Anéis. É impressionante.

Acontece que com a escassez de comida (afinal, eles acabaram com todas as árvores e além disso, todas as pessoas estavam ocupadas fazendo moais cada vez maiores e ninguém ia pescar ou plantar) e a quantidade de gente que tinha, começou a guerra, né? Como forma de desrespeito eles tombavam os moais do clã adversário. Tem muitos Moais no chão, muitos pela revolta mas muitos por causa do (a) tsunami que teve ali nos anos 60. Mas dá pra ver quais foram destruídos na guerra e quais foram tombados pelo (a) tsunami. Porque os destruídos tem as cabeças cortadas...enquanto os outros estão só tombados.

Pra decidir quem mandava depois da revolta eles resolveram fazer uma competição para eleger o REI da Ilha. O mandato durava só 1 ano. O vencedor da competição era eleito rei ou podia designar quem quisesse pra assumir o cargo. É a tal competição que tem no filme RAPA NUI. Chegavam as gaivotas para nidificar numa ilhazinha perto de Rapa Nui (Orongo) na primavera. Daí a competição consistia em os participantes descerem pelas rochas (é um muro imenso), nadar até a ilhazinha (com tubarão na água, lórrico), pegar o primeiro ovo da tal gaivota e trazer o ovo INTACTO até Rapa Nui. Essas competições realmente aconteceram, porque as primeiras expedições espanholas e holandesas que lá chegaram por volta de 1700 registraram nos diários de bordo. O rei era chamado de MANUTARA, o homem pássaro. Tem petroglifos do ManuTara em todo canto, e, inclusive a igreja católica de lá, tem o ManuTara pintado na fachada (o que os católicos não fazem pra conquistar fiéis!).

Os habitantes da ilha (cerca de 4000 pessoas) são muito mais parecidos com os polinésios do que com os chilenos, o que comprova a colonização por parte da Polinésia. Falam espanhol e o idioma local, Rapa Nui. A escola ensina os dois. São muito simpáticos, sorridentes, bonitos e de bem com a vida.

Além dos moais, que é o grande must, a ilha é linda geograficamente falando. Praias com águas azuisssssssss e quentes, coisa estranha em se tratando do Oceano Pacífico. Parece Caribe (eu nunca estive no Caribe mas vi fotos). É o lugar menos poluído do mundo, segundo pesquisas científicas realizadas pela NASA (que tem uma base lá!!! MEDA!). Tem muitos carros e motos, mas é tão isolado do mundo que nem os gases expelidos pelos carros polui o ar, o CO2 vai embora com o vento :-)

A pista de pouso no aeroporto é uma das maiores do mundo (!!) porque a NASA construiu para pousos de emergência de ônibus espaciais (tem este ponto no Pacifico, outro no Atlantico).

É quente mas a gente nem sente porque tem sempre vento.

O turismo é grande e é a principal economia da Ilha, mas não é ainda aquele turismo de massa, amém nós tudo.

Eu e Alberto achamos que é caô essa historia de 4 mil habitantes. Porque a gente via sempre as mesmas pessoas. Tipo: o tatuador era bailarino do ballet tipico e também professor de surf. O motorista do hotel era músico do ballet e também guia turistico. A garçonete da nossa lanchonete preferida era também garçonete de outro restaurante. Era muito engraçado...

Come-se muito bem. Peixes, claro, mas também é possível comer outras coisas. Agora com vôos constantes da Lan Chile, chega absolutamente tudo na Ilha.

Não se pode comprar casa ou terreno por lá se você não for Rapa Nui ou descendente de um rapa nui. Os donos das casas não pagam impostos, nada. É uma maneira de manter a ilha "viva", as tradiçoes locais ali. Achei interessante. Porque se começa a vender casa, vai encher de gringo que vai ali só pro verão, 1 mês de férias e pronto. A Ilha aos poucos "morreria"!

Bom, tem diversas correntes, cada uma conta uma história com algumas diferenças, mas parece que a mais aceita é esta que contei mesmo. E eu estou escrevendo aqui o que eu lembro que a guia falou, então não confiem 100% na minha memória.

Ensaio fotográfico: Alline Storni