sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

BALLADS

Por Jorge Carrano

Sob este título existem dois álbuns, de dois dos mais requintados saxofonistas de todos os tempos.

As faixas executadas não são, a rigor, o jazz improviso tão ao gosto de críticos e jazzófilos em geral, e resolvi falar deles, menos pelo talento dos músicos, mas principalmente pelos repertórios que executam. O título já denuncia, são baladas.

Minha idéia é começar por um caminho bem light, para não afugentar os não iniciados e os não muito aficionados. Nada melhor do que velhos e bons standards, conhecidos de todos, que alguns sabem até assobiar, para darmos início a esta série de conversas sobre jazz, blues, soul , gospel e o que mais tenha raiz comum.

Pessoalmente não gosto de muitos improvisos em cima de temas conhecidos, que por vezes até descaracterizam a obra, a ponto de você não identificá-la, senão em algumas poucas frases musicais.

Os dois saxofonistas são Ben Webster e John Coltrane.

Em 1978 em  LP duplo, conjunto, do Ben Webster (sax tenor), a Verve fez e lançou  sob o título já mencionado de Ballads,  uma coletânea de vários temas consagrados, como por exemplo “Love is Here to Stay”, “There is no Greater Love”, “Sophisticated Lady”, “My Funny Valentine” e “Blue Moon”.


Estes números musicais foram compostos por gente do porte deDuke Ellington, Richard Rodgers, Billy Strayhorn, George Gershwin, Harold Arlen, Johnny MercerDuke Ellington, Richard Rodgers, Billy Strayhorn, George Gershwin, Harold Arlen e Johnny Mercer. Já ouviram falar deles, pois não?

John Coltrane

As gravações originais foram feitas nos anos 1950, em diferentes ocasiões, com excelentes músicos dando suporte. Falarei deles adiante, pois são um capítulo a parte.

Já me antecipo, pois estou louco para decretar que a melhor faixa, disparada é “My Funny Valentine”. Interpretada com alma, o que resulta numa musicalidade  de arrepiar.

Ben Webster extrai de seu instrumento um som denso, profundo, que permite ouvir as paletas vibrando. Acompanham-no,  Teddy Wilson – genial - ao piano; o onipresente Ray Brown no baixo e Jo Jones, na bateria.

Se você ouvir esta faixa e não gostar, pule este post (mas mantenha-se no blog), pois você está no assunto errado.

Eu ia falar dos músicos que escoram os solos do Ben Webster, neste álbum, mas vou poupa-los da enfadonha citação pois a lista é grande. Na contracapa eles estão indicados,  por faixa. Afinal foram várias sessões em momentos diferentes. Mencionarei, apenas, Teddy Wilson e Hank Jones, porque são dois de meus pianista favoritos. Para quem está distraído, o Hank Jones foi o pianista da Ella Fitzgerald durante muitos anos. Teddy Wilson dispensa apresentação, ou não? Você ouviu o “My Funny Valentine” como sugeri? É ele ao piano.

O outro álbum Ballads, com John Coltrane e seu quarteto composto por McCoy Tiner, Jimmy Garrison e Elvin Jones, também nos brinda com alguns temas conhecidos do grande público, como “What’s New” e “I wish I Knew”.

O Elvin Jones, baterista acima citado, vem a ser irmão do Hank Jones, pianista de êxito que aparece tocando com Ben Webster, como já mencionado.

MacCoy Tiner tem uma carreira solo bem sucedida, tendo gravado, também, um álbum com o título que remete às baladas: “Nights of Ballads & Blues”, com seu próprio trio, composto pelo baixista  Steve Davis e pelo baterista Lex Humphries.
Elvin Jones

E o Elvin Jones criou seu próprio trio, depois de anos acompanhando John Coltrane no quarteto do saxofonista (tenor e barítono), tendo se apresentado inclusive no Brasil, assim como o MacCoy Tiner com seu trio.

Viram como as coisas vão se encadeando e desdobrando, e as pessoas “roda d’aqui, mexe d’alí”, acabam sendo praticamente as mesmas. Somente os bons, claro.

Por fim, quero deixar uma sugestão para os românticos (as). Baixem para seus: ai pedes, podes, tablets, emepês, celulares, ou peçam emprestado ao amigo, vizinho, ou comprem o CD ou LP, mas não deixem de ouvir o álbum  “For Lovers”, com BenWester.

Trata-se de uma coletânea de grandes hits, todos conhecidos e interpretados como sussurros nos ouvidos do parceiro (a).

Minha faixa preferida é My Funny Valentine, como escrito lá em cima. Gostaria de saber qual a sua, porque isto me ajudará a conhecer o distinto público leitor e ir adequando minhas dicas ao gosto da maioria.

Vejam algumas das faixas: “When I Fall in Love” “Someone to Watch Over Me”, “Stardust”, “Over the Rainbow”.



Alguém dirá que isto não é jazz. Eu retrucarei: e o tempero, a alma, o sentimento,  tão característico do gênero. Está tudo ali.






Acima, Ben Webster em "Over the Rainbow".