Por Alline Storni
Quando fui convidada a escrever aqui a idéia (eu não respeito a nova gramática, então meu idéia tem acento, tem i, enfim...) era falar sobre a vida no exterior e as minhas viagens pelo mundo... As curiosidades, a minha percepção de tudo.
Pois hoje eu vou falar da mais louca das viagens. Ainda é uma viagem em andamento, porque ainda não chegou ao fim e, sinceramente, acho que nunca chegará!
A viagem é um tanto quanto assustadora para mim... Mas muito, muito prazerosa.
A viagem de duas vidas. Uma dentro da outra. E por mais que eu seja bióloga de formação e saiba e creia que “é assim mesmo que a natureza faz” e “é pra isso que estamos aqui”, essa idéia de gerar uma vida ainda me surpreende.
É muito louco, pensem comigo, gerar uma vida. Que depende do que você come, bebe, dorme (além, é claro, de todos os outros fatores que não podemos controlar) pra crescer.
E é engraçado e também surpreendente como uma pessoa que ainda nem vi pode já fazer parte da minha vida. Porque a partir do quarto - quinto mês, a bebezinha começou a se mexer muito (o que nos levou a apelidá-la de Pipoca). E com o passar do tempo eu comecei a entender e a aprender o que provoca os movimentos, quando ela fica mais ativa, quando ela dorme... A partir de então foi mais fácil acreditar que tem realmente alguém dentro da minha barriga!
Estar grávida fora do país envolve também uma busca por aprendizado a respeito não só da gravidez em si, mas também a respeito dos mitos e superstições que envolvem a maternidade. Aqui na Itália a gravidez não é tão festejada ou proclamada quanto no Brasil, pelo menos aos meus olhos. Parece tudo muito “normal”... Nenhum desconhecido pede para passar a mão na tua barriga, por exemplo. Ninguém pergunta muita coisa sobre a gravidez ou sobre o bebê, a não ser que seja um amigo ou alguém da família. Não existe chá de bebê. As pessoas dão presentes, na maioria das vezes, só depois que o neném nasce, porque algumas acreditam que pode dar azar entregar um presente antes. Não existe a tradição de preparar o quarto do bebê, toda aquela loucura que nós brasileiros somos acostumados. O quartinho normalmente é muito simples, berço, trocador, cômoda e pronto... E na maioria das vezes, é feito quando o bebê é já maiorzinho. No início, ele fica no quarto dos pais, numa “cula”, que é tipo um Moisés.
A tendência aqui é parto natural, como na maioria dos países da Europa. Alguns hospitais são radicais e não oferecerem nem a anestesia epidural. Então a escolha do hospital tem que ser feita com calma, procurando saber tudo direitinho para evitar surpresas desagradáveis no momento crucial!
O médico ginecologista não te acompanha na hora do parto, na maioria dos casos. A não ser que você pague por isso. Normalmente como o serviço sanitário é todo de graça, o médico que estará de plantão na hora que você for parir que vai te assistir e pronto.
Mais importante que o médico são as obstetras. São profissionais de saúde com formação específica para fazer o parto, são parteiras com diploma por assim dizer. São elas (digo no feminino porque ainda não vi nenhum obstetra homem) que fazem o parto no hospital, os médicos estão ali só pro caso de dar algum problema.
O serviço sanitário é totalmente grátis se você for legal aqui e tiver direito. Exames, ultrassonografias, hospital, parto, tudo. Soube de uma amiga brasileira que por aí custa uma pequena fortuna parir sem um plano de saúde...
A Pipoquinha aqui parece que já está pronta para sair. Já está na posição correta e tem me dado chutes muito vigorosos. Acho que ela já reconhece a voz do pai, porque quando ele chega do trabalho ela já começa a se mexer. Ela tem muitos soluços, é engraçado isso... Normalmente depois que eu como frutas cítricas ela começa a soluçar. São movimentos ritmados, parece batida de coração.
Graças à tecnologia que temos nas mãos, a viagem fica ainda mais interessante. Eu já sei, por exemplo, que a Pipoca tem nariz de batata igual ao meu porque vi na ultrassonografia em 3D! Sei que é já bochechudinha...
Eu não canso de dizer, de todas as viagens que fiz essa realmente é a mais incrível e louca de todas!
E que a Pipoca chegue com saúde, que venha me mostrar que esse é só um começo de uma longa e maravilhosa viagem. Que é uma história sem fim!