Sabe, Ana Laura,
Penso nas cidades que conheci, como Friburgo e Teresópolis , a primeira onde fiquei alguns meses dos verões da infância e, Teresópolis, que frequentei sempre . Ao vê-las nas fotografias do após o dilúvio de lama e água com que foram bombardeadas, não as reconheço.
Onde está a Praça do Suspiro, em Friburgo, residente na minha memória e que posso contar da cor ainda, mesmo destruída? Minha lembrança fala sobre o perfume das plantas nos jardins das casas e das matas vizinhas; o odor de bife de fígado frito na manteira, o pirê de batata baroa que aprendi a apreciar lá.
Onde está dona Dora, que trabalhou no Hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro, e morava em Teresópolis onde tinha um haras ao lado do rio Piabanha, com quem fiz escola espanhola de equitação? O haras ao lado do rio, ficava próximo ao hotel Brasil, onde me hospedava, pertodo restaurante la Cremaillere, onde jantava comida francesa. Nas margens do Piabanha, à sombra de um ficus, protegida por suas raízes os versos de Fernando Pessoa marulhavam em mim .E a taberna Alpina de dona Erna, onde à noite nos reuníamos para tomar chope preto, comer chucrute e salsichão com mostarda preta? Ah...e o golfe clube onde fui algumas vezes andar com tacos e acertar bolas nos buracos até chegar ao nineteen hole, o bar do clube.
Não morei nestas cidades, era turista, e sinto falta das paisagens, principalmente as de Friburgo. e isto me angustia.
Imagine como deve sentir quem lá mora e sempre morou e tem como referência de vida, como história, a convivência com a paisagem que avistava das janelas das casas , as pessoas com quem conversava e trocava trocados do cotidiano que construíam sua história? Olhar para o que era e nada reconhecer.
Como o urbanista pode encarar o desafio de recriar mundos?
Como o psicólogo pode explicar a cada um sua perda?
Como o neuroeducador pode abordar a reconstrução da nova imagem que cada um , morador ou turista, precisa fazer de si mesmo ?
esther
Ana Laura Diniz
Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero,
professora de Redação, Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio e Pré-Vestibular dos sistemas Objetivo e Anglo, em Caxambu e São Lourenço, e pós-graduanda em Neuroeducação no Instituto de Pesquisa em Neuroeducação, em São Paulo.
Esther,
Tudo é muito complexo porque não dá para dimensionar as perdas, que vão muito além das vidas e dos deslizamentos de terras. Como pós-graduanda em Neuroeducação pelo Instituto de Pesquisas em Neuroeducação (parceira da UNIÍTALO – Centro Universitário Ítalo-Brasileiro e do Sieeesp – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), ouso dizer que houve uma mudança forçada do Universo Holográfico de cada um.
Interpreto dessa forma porque de acordo com as minhas pesquisas até o presente momento, no caso das tragédias supracitadas, se por um lado as referências concretas se foram, por outro, tudo que resta é a memória do que um dia existiu.
A Neuroeducação congrega conhecimentos da Programação Neurolingüística, da Neurociência e da Física da Consciência. Embora dirigida especialmente para sanar quaisquer dificuldades de aprendizagem de alunos, pautamos boa parte dos nossos estudos na teoria do universo holográfico.
Aí você deve estar me perguntando o que isso tem a ver com a tragédia? Explico. Quem conheceu ou viveu nesses lugares terá para sempre registrado o que eram as suas ‘gentes’, suas esquinas, ruas, casas e o que mais estiver atrelado a essa experiência. Quem não estabeleceu esse tipo de conexão com essas cidades, o máximo que terá são imagens fornecidas pela imprensa do ‘antes e depois’, mas o depois provavelmente terá supremacia na informação do antes; uma vez que não havia vínculo qualquer.
O contrário não acontece. A perda de referenciais, em geral, é no mínimo traumática, e embora se saiba que de um jeito ou de outro será necessário prosseguir, essas pessoas perderam também as suas raízes culturais nos deslizamentos. No entanto, para o bem ou para o mal, num Universo Holográfico tudo é possível.
Michael Talbot, autor de O Universo Holográfico, tem uma teoria na qual concorda outro cientista, físico nuclear, David Bohm: mesmo o tempo e o espaço não podem mais serem vistos como essenciais, pois definições como localização se rompem diante de um universo em que nada está verdadeiramente separado de nada – tempo e espaço tridimensional –, como peixes em aquários também podem ser vistos como projeções de ordem mais profunda.
Este tipo de realidade seria compatível a um super holograma no qual o passado, o presente e o futuro existem simultaneamente.
Bohm sugere que tendo as ferramentas apropriadas pode ser possível algum dia entrar dentro deste nível de realidade super holográfica e trazer cenas do passado há muito esquecido. Por enquanto, apesar dos estudos intensos e variados, inclusive realizados por nós, cientistas neuroeducadores, tudo ainda é uma questão em aberto.
Para alguns, o super holograma é a matriz que deu origem a tudo em nosso universo e, no mínimo, contém cada partícula subatômica que existe ou existirá; cada configuração da matéria e energia que é possível, de orvalhos a quasars, de formigas aos raios gamma. Tudo deve ser encarado como uma espécie de "almoxarifado" de ''tudo que é".
Projeção holográfica de Obi-Wan, no filme Guerra nas Estrelas. |
Por mais de meio século, inúmeros estudos têm revelado que muito mais que confinadas a uma localização específica, as memórias estão dispersas por todo o cérebro.
Assim, se isso tudo é verdade, e eu creio muito nisso porque me especializo, o fato "positivo" em toda essa tragédia é que num universo holográfico podemos alterar o tecido da realidade de maneira ilimitada. Afinal, o que concebemos como realidade é somente uma forma esperando que desenhemos sobre ela qualquer imagem que queiramos.
Da mesma forma como o urbanista, o arquiteto recriam ou criam cidades a partir da projeção de suas idéias no papel e o psicólogo ajuda o indivíduo a se reinventar o neuroeducador pode colaborar principalmente com enfoque na neurolinguística.
É a forma “matrix” de ser e viver. Sejam bem-vindos!
COMO FUNCIONA UM HOLOGRAMA