Por Jorge Carrano
Art Tatum, pianista, criou um estilo que virou escola seguida por muitos outros, durante e após a sua morte.
Um estilo rebuscado, cheio de notas supérfluas, que o imperador Joseph II criticaria, eis que por muito menos criticou duramente ao Mozart durante a apresentação deste de “As Bodas de Fígaro” (The Marriage of Figaro).
Vejam no rodapé, parte dos diálogos do filme “AMADEUS”, um clássico no gênero.
Mas o Tatum foi um virtuoso que nos deixou muitos registros, inclusive em piano solo, e em parceria com outros mestres, como por exemplo o exaustivamente por mim citado BenWebster.
O Jamal, perdulário nas notas ao estilo Tatum, talvez seja pouco conhecido da maioria, mas sua discografia é incrível.
Tenho – olha aí eu outra vez autorreferente, mas eu avisei que só falaria do que conheço, vi ou escutei – dois bons CDs do Ahmad Jamal, com seu trio, nos quais encontramos interpretações muito boas de velhos temas, considerados clássicos do cancioneiro popular. Os CDs são: “Ahmad’s Blues” e “Live at The Pershing & Spotlight Club”.
Destaco as faixas: “Moonlight in Vermont ” e “Autumn Leaves”, neste segundo álbum e Let’s Fall in Love” e Autumn in New York ” no primeiro citado.
Oscar Peterson |
Já o Peterson tem para mim uma enorme virtude. Saber se comportar em cada momento como deve ser. Ou seja, se é o solista, e existem dezenas de gravações de seu trio, ele é exibido e prolixo musicalmente, utilizando todo o teclado, bem ao estilo do Art Tatum.
Mas se, todavia, ele é acompanhante, sabe se comportar como tal, evitando roubar a cena. É ele – Oscar Peterson – que está ao piano nas únicas gravações feitas em estúdio pela famosa dupla Louis Armstrong e Ella Fitzgerald. Ele está contido, limitando-se a preencher parcimoniosamente os intervalos deixados pela voz e pelo trumpete. Daí que suas intervenções chamam a atenção pela simplicidade rica.
Estas gravações do Satchmo com Ella são obras que precisam ser ouvidas. Chamam-se ‘Louis & Ella” e “Louis & Ella again”.
Há um outro álbum de ambos, que é o da opereta “Porggy and Bess”, que merecerá um capítulo especial no futuro. Só a abertura vale o preço pago.
Já que fiz uma alusão à música chamada clássica (opereta), e são inúmeros os apreciadores deste gênero, vou tentar mostrar a compatibilidade que existe entre o clássico erudito e o clássico popular.
O Oscar Peterson gravou duas faixas, em seu CD “We Get Requests”, que são imperdíveis para quem tem xodó pelo jazz mas aprecia também o erudito, pois o pianista faz nas tais faixas uma leitura ao estilo de Bach, ou Vivaldi (especialistas, pronunciem-se), que são duas obras primas. Recomendo sem receio de desapontar, que ouçam “My one and Only Love” e “You Look Good to Me”.
Diálogo do filme (encontrado no Google):
Cena do filme "Amadeus" |
Imperador Joseph II: - My dear young man, don't take it too hard. Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect.
Mozart: - Which few did you have in mind, Majesty?
Ou seja, grosso modo, o imperador recomendou ao Mozart que ela cortasse algumas notas de sua obra, porque haveria em demasia. Logo , se Joseph II tivesse ouvido Art Tatum também acharia que ele usava muitas notas.