sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

TATUM, JAMAL e PETERSON

Por Jorge Carrano

Art Tatum, pianista, criou um estilo que virou escola seguida por muitos outros, durante e após a sua morte.

Um estilo rebuscado, cheio de notas supérfluas, que o imperador Joseph II criticaria, eis que por muito menos criticou duramente ao Mozart durante a apresentação deste de “As Bodas de Fígaro” (The Marriage of Figaro).

Vejam no rodapé, parte dos diálogos do filme “AMADEUS”, um clássico no gênero.

Mas o Tatum foi um virtuoso que nos deixou muitos registros, inclusive em piano solo, e em parceria com outros mestres, como por exemplo o exaustivamente por mim citado BenWebster.

O Jamal, perdulário nas notas ao estilo Tatum, talvez seja pouco conhecido da maioria, mas sua discografia é incrível.

Tenho – olha aí eu outra vez autorreferente, mas eu avisei que só falaria do que conheço, vi ou escutei – dois bons CDs do Ahmad Jamal, com seu trio, nos quais encontramos interpretações muito boas de velhos temas, considerados clássicos do cancioneiro popular. Os CDs são: “Ahmad’s Blues” e “Live at The Pershing & Spotlight Club”.

Destaco as faixas: “Moonlight in Vermont” e “Autumn Leaves”, neste segundo álbum e Let’s Fall in Love” e Autumn in New York” no primeiro citado.

Oscar Peterson
Já o Peterson tem para mim uma enorme virtude. Saber se comportar em cada momento como deve ser. Ou seja, se é o solista, e existem dezenas de gravações de seu trio, ele é exibido e prolixo musicalmente, utilizando todo o teclado, bem ao estilo do Art Tatum.

Mas se, todavia, ele é acompanhante, sabe se comportar como tal, evitando roubar a cena. É ele – Oscar Peterson – que está ao piano nas únicas gravações feitas em estúdio pela famosa dupla Louis Armstrong e Ella Fitzgerald. Ele está contido, limitando-se a preencher parcimoniosamente os intervalos deixados pela voz e pelo trumpete. Daí que suas intervenções chamam a atenção pela simplicidade rica.

Estas gravações do Satchmo com Ella são obras que precisam ser ouvidas. Chamam-se ‘Louis & Ella” e “Louis & Ella again”.

Há um outro álbum de ambos, que é o da opereta “Porggy and Bess”, que merecerá um capítulo especial no futuro. Só a abertura vale o preço pago.

Já que fiz uma alusão à música chamada clássica (opereta), e são inúmeros os apreciadores deste gênero, vou tentar mostrar a compatibilidade que existe entre o clássico erudito e o clássico popular.

O Oscar Peterson gravou duas faixas, em seu CD “We Get Requests”, que são imperdíveis para quem tem xodó pelo jazz mas aprecia também o erudito, pois o pianista faz nas tais faixas uma leitura ao estilo de Bach, ou Vivaldi (especialistas, pronunciem-se), que são duas obras primas. Recomendo sem receio de desapontar, que ouçam “My one and Only Love” e “You Look Good to Me”.

Diálogo do filme (encontrado no Google):

Cena do filme "Amadeus"
Imperador  Joseph II: -  My dear young man, don't take it too hard. Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect.

Mozart:  - Which few did you have in mind, Majesty?

Ou seja, grosso modo, o imperador recomendou ao Mozart que ela cortasse algumas notas de sua obra, porque haveria em demasia. Logo, se Joseph II tivesse ouvido Art Tatum também acharia que ele usava muitas notas.