quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meninos, eu vi

Por Telinha Cavalcanti


Meninos, eu vi Cousa de Mulher, a peça da Fal. Eu estava lá, na platéia, fila G, cadeira do meio. Fui com amigos queridos para a estréia - e o Domingos, tão lindo, disse que não é o melhor momento para se ver uma peça, há o nervosismo, há arestas a aparar, enfim, ainda falta o traquejo. Pois foi justamente por isso que eu gostei.

Começam as três no palco, separadas pelo cenário que foi muito, muito bem pensado. A cozinha da casa no centro, a mesinha com a cadeira no lado de cá, a mesa do bar do lado de lá. E já começaram sem piedade, a vida nos arrasta em sua correnteza, a gente mal consegue deixar o nariz de fora para sobreviver.

A Fernanda Zau é a Ana. Ana, a mãe de família. Ana, a que tem gêmeos e casou com o primeiro namorado. Ana, a desperate housewife. Depois vem a Bárbara Formarolli como a Paola, loira, gostosa, cheia de casos e cousas. E aí vem a Malu Rossi, como a Bia, mulheríssima, sempre quase lá, quase estrela de tv, quase um personagem de Almodóvar. E todos os homens da peça são um só, o Victor Rosalem, o bendito fruto entre estas mulheres e responde à altura. É o homem apaixonado, é o canalha, é o marido frustrado e frustrante, é o amigo gay, o garçom bonito.

A peça é da Fal, mas é do Anderson também. Quem leu o livro, quem lê o blog, vê bem onde ela está, onde ele está, onde os dois dão as mãos e nos levam. As três estão ali, sustentando suas personagens na frente das amigas: a Ana é feliz com o marido e os gêmeos, a Lia é quase uma estrela em ascenção, a Paola é feliz com seus casos e seu apartamento com vista pro mar de Copacabana. Sim, tem vista, é só olhar pela janela do canto e inclinar a cabeça assim, ó. Tá vendo? É o mar.

E na hora em que se inclina a cabeça é que cai tudo pelas tabelas, o casamento da Ana tá uma merda, a Lia desliga o glamour e chora porque não sabe o que fazer com tanto amor que sente pelo namorado casado, a Paola grita que não quer amar.

A Ana é o ponto principal da peça. Ela e seus problemas tão nossos: filhos, mães, contas a pagar. Ela é o nosso desespero, é a lata de leite moça que a gente esconde para o marido não ver que já tá na metade, é a amiga que nos liga e chora sua dor. E foi ela que recebeu aplauso em cena aberta, catártica.

Essa peça não é brincadeira. A menina sentada do meu lado saiu com o nariz vermelho de tanto chorar. Viver é muito perigoso, já dizia o mestre Guimarães Rosa. O teatro tem vezes que também é, eu retruco, baixinho.