terça-feira, 11 de janeiro de 2011

AS PERNAS NEGRAS RÁPIDAS COMO O AVIÃO

Por Esther Lucio Bittencourt


Luzes da cidade...

Detalhe das pernas...
As pernas negras correm velozes na noite de luzes baças. A caminhonete as perseguem. "Acelera, acelera", fala alguém dentro do carro. O rapaz já sumiu da visão. E a motorista acelera como pode. Evita chocar-se com outros veículos e o povo que se espalha pela rua de calçadas estreitas.



É um pivete, um ladrão barato, um assassino perigoso? E as pernas negras confundem-se com o escuro das ruas. O carro mal consegue acompanhar o ritmo de sua corrida. E o motorista se pergunta de quem são estas pernas que correm mais do que as rodas da caminhonete. Seriam as do Super-Homem, do Homem Borracha ou as do Homem-Aranha? Nada disto ele é, sabe o motorista, nem pivete, sequer bandido. Apenas o guia turístico da cidade colonial de Ouro Preto, em Minas Gerais, que o leva aos vários hotéis para que resolva onde se hospedar.

Dez turistas valem uma cesta básica ou 5% de tudo o que for comprado em qualquer loja conveniada com os guias. E assim, vivem vários jovens em Ouro Preto, Minas Gerais, como Everton Rogério da Silva Souza de 18 anos. Ambição? Ser guia turístico em Ouro Preto quando crescer.

A cada fim de semana movimentado, com muitos turistas, Everton pode conseguir 15 tickets. Com 10 deles ele apanha sua cesta básica. Além das gorjetas que ganha.


E foi assim, que numa noite quente de luzes baças a turista seguia com seu carro por ruas estreitas, ladeadas de prédios coloniais, as negras pernas do menino que corria mais do que o carro, além do vento, para saciar a fome da família e ainda conseguir uns trocados para roupas e lazer porque ninguém é de ferro.

MENINO COMO HOMEM FEITO


Ele conversa com os recepcionistas dos hotéis de homem para homem e com um deles ainda marca um encontro depois do expediente para ver as mulheres bonitas que estão na cidade. Quem sabe, com sorte, uma delas pode ser deles?


Everton Rogério da Silva Souza: o "pé de vento".
Tem quatro irmãos o Everton, e sua mãe, que não trabalha mais, mas já foi empregada doméstica e tem 38 anos. Moram todos na saída de Ouro Preto, quando os caminhos apontam para Belo Horizonte.


Estuda na Escola Padre Carmelo Augusto Teixeira na oitava série. O pai morreu cedo e ele e um irmão de 17 anos mantém a família. 


"O que você quer ser quando crescer Everton?" Ele pensa e responde: "Já sou crescido, mas quero ser guia turístico aqui em Ouro Preto." 

"Não pensa em visitar outras cidades?" Silencia e pensa: "ah! Se pudesse, dona", responde. E se perde em seus sonhos.

Não esqueça: quando for a Ouro Preto, em Minas Gerais, procure o Everton na praça central da cidade. Todos os conhecem e não há melhor guia turístico na região.