terça-feira, 11 de janeiro de 2011

OUROS E DIAMANTES DA ESTRADA REAL

Por Ana Laura Diniz




A Estrada Real, criada pela Coroa portuguesa no século XVII com a única intenção de fiscalizar a circulação das riquezas e mercadorias que transitavam entre Minas Gerais - ouro e diamante - e o litoral do Rio de Janeiro - capital da colônia por onde saíam os navios para Portugal, guardam ainda nos dias de hoje alguns antigos registros e postos fiscais de controle. 

Os prédios dos registros, como é fácil imaginar, eram instalados em locais estratégicos como em desfiladeiros, passagens entre serras e margens de cursos de água. No seu interior estavam os empregados: um administrador, um contador, um fiel e cerca de quatro soldados. Um portão com cadeado fechava a estrada.

Reestruturada e abraçada por uma série infindável de comerciantes que abriram negócios em todo percurso, a Estrada Real é convite para todo cidadão, principalmente aquele precavido monetariamente. É porque os preços, tanto de hotéis quanto de restaurantes e/ou de mercadorias são "tabelados" em todo trecho. Em outras palavras, pesquisa de melhor preço nessa região é sinônimo de perda de tempo. Em Ouro Preto, por exemplo, um hotel decente, mas sem luxos, não fica por menos de R$ 150, a diária.

Vale a pena? E como! Para quem não conhece, a Estrada abrange dezenas de municípios mineiros e está dividida em três principais setores: Caminho Velho (liga Parati a Ouro Preto); Caminho Novo (liga o Rio de Janeiro a Ouro Preto); e Rota dos Diamantes (liga Ouro Preto a Diamantina). Por duas vezes, em menos de dois meses, o Primeira Fonte fez seu próprio traçado e o cumpriu da seguinte forma: na ida, saiu de Caxambu e seguiu para as cidades de São João Del Rey, Tiradentes, Entre Rios de Minas, São Brás do Suaçuí, Ouro Branco, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Caraça, Santa Bárbara, até terminar em Barão de Cocais. Na volta, houve apenas o acréscimo de Congonhas, a cidade dos 12 profetas.

Muito fotojornalismo, muitas reportagens e milhões de conversas descompromissadas. Em cada cidade, um "legítimo café mineiro", um "legítimo pão de queijo", uma "legítima empada" ou um "legítimo rocambole" à venda. Os mineiros da Estrada Real parecem gostar mais da palavra "legítima" que a já consagrada expressão "uai". 

Turistas, grupos de estudantes, professores, pesquisadores, gente de toda praça, de todo canto do mundo. Olhos curiosos unidos a um prazer comum: o do conhecimento e do desbravamento.

Das pedras deslizantes das ladeiras de Ouro Preto, que por duas vezes fizeram o carro escorregar sem conseguir vencer a pirambeira, à poeira que transformou a cidade de Congonhas prazerosa apenas no Centro Histórico, justamente onde estão "reunidos" os 12 profetas. Da magnitude da poesia e da casa da poeta norte-americana Elisabeth Bishop em Ouro Preto à escultura emocionante e expressiva de Aleijadinho nas cidades de Santa Bárbara, Ouro Preto e Congonhas. De artesanatos em Tiradentes à exploração de minério de ferro da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) na região de Barão de Cocais, em São Gonçalo do Rio Abaixo: lá está a mina de Brucutu, que segundo a empresa, chegou à totalidade de produção da capacidade instalada de 30 milhões de toneladas de ferro por ano, em 2008. A mina de Brucutu faz parte do Complexo Minas Centrais, que conta ainda com as minas de Gongo Soco, Água Limpa e Andrade.

Como se vê, o Primeira Fonte caminhou muito longe para chegar até aqui, e sem respeitar a linha da estrada, ora indo, ora vindo, continuará a revelar cada parte dessa aventura regada a um céu avermelhado, mais parecido a um vinho do Porto, em um pôr-do-sol jamais visto em São Brás do Suaçuí.
Ora por texto, ora por imagem, ora tudo ao mesmo tempo. Assim é que seguiremos. Porque entre vindas e idas e idas e vindas é que o Pêéfe lança um convite para algo mais valioso que todos os ouros e diamantes: a vida. Permaneça conosco nessa aventura!