sexta-feira, 20 de abril de 2012

HELLO, DOLLY! OS MISERÁVEIS DE BRASÍLIA


Dorothy Coutinho

Ser miserável em Uganda é o mesmo que ser miserável aqui, no Nordeste ou em Nova York, tanto faz, ninguém se orgulha, queremos todos nos livrar o mais rapidamente dela.

Mas existe a miséria humana. Essa é diferente, é mutante e se desdobra como pode por aí, quer dizer principalmente por aqui, na política do nosso país. Com pouquíssimas exceções, podemos reconhecê-la em atividade seja na mais modesta administração municipal até os altos escalões dos governos estaduais e principalmente no âmbito federal, onde costuma ser ardilosa e dissimulada como ninguém em seus mimetismos confortáveis e impiedosos sobre a nossa miséria social.

E ela vai se multiplicando como lhe convém para obter o Poder, pois é essa a sua criptonita, é esse o seu anabolizante predileto.
Ao se incorporar ao homem que busca o Poder, a miséria humana falseia, faz bajulações em épocas de eleições. Em seguida se alia ao piores espécimes da raça humana que passarão a se alimentam e a se banhar na piscina sórdida da dinheirama farta e reluzente e aparecerão de peito estufado pelo ego altivo provocado pelo oxigênio aditivado que emana dos narguilés dos três Poderes constituídos: o aquisitivo, o corruptivo e o arbitrário..

A miséria humana é facilmente reconhecida nos homens com seus umbigos avantajados, recheados de frivolidades, que ostentam como troféus nos palanques das praças públicas. Quase sempre são aplaudidos de pé pelos baba ovos e puxa sacos que se alimentam de seus excrementos e nem se dão conta que essa gente faz parte da sub-raça da “geração expontânea”, que não privilegia o cérebro ou o coração. Monitoram sua fome com o sangue alheio como quem bebe um açaí no copão.

Gente de alma embrutecida que traz impresso em si o papel moeda do livre acesso ao mundo perdido, onde ninguém se encontra, ninguém viu e ninguém sabe de nada. Esse tipo de miséria para eles é sedutor já que lhes oferta o passe livre aos iates, aos jatinhos, aos Porsches, à medicina de primeiro mundo, à boa cama, à boa mesa, ao fino trato e à fina camada de vergonha na cara, que de tão transparente se revela.

Muitos desses miseráveis, filhos da “geração espontânea” se aglutinam aos milhares lá em Brasília e só ganham destaque de acordo com o escândalo “da hora”, depois de constatada a sua participação direta ou indireta, e depois de destilar imundície, calando à força e com mordaça a nossa infinda esperança na raça humana.

Qualquer projeto de grande alcance social só terá sucesso se a miséria humana, incorporada aos dirigentes de uma nação não for convidada para a festa. Lembrando que “Só a verdade é revolucionária” – Maiakovski