Por Ana Laura Diniz
QUAL
A SUA INTERPRETAÇÃO
SOBRE
EMPREENDEDORISMO E A
IMPORTÂNCIA
DESSE CONHECIMENTO
PARA
A SOCIEDADE?
Ouviu a palavra empreendedorismo
e pensou em ação imediata? Ótimo. Mas se ao contrário, o termo remeter a você apenas a ideia de negócio, conversa de empresário, vale o alerta: mais do que reciclar os seus
pensamentos, é momento de reavaliar o seu comportamento diante da vida.
O
dicionário Houaiss define a palavra da seguinte maneira: 1 disposição ou capacidade
de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços, negócios; 2
iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já existentes,
ger. com alterações que envolvem inovação e riscos; 3 Derivação: por
metonímia. conjunto de conhecimentos relacionados a essa forma de agir. Mas segundo o professor e escritor Fernando Dolabela,
autor de O segredo de Luísa, “o
empreendedor é definido pela forma de ser, e não pela maneira de fazer. A meta
é que todos se preparem para empreender na vida”. Mas como?!
Antes
de se desesperar, respire calmamente. E pense: a sua vida está hoje da forma
como a imaginou? Se sim, sinta-se satisfeito e com sorte, pois essa sensação de
bem-estar é cada vez mais rara nos dias de hoje. Se não, pense, em que momento
da vida (ou por qual motivo) você abandonou os seus sonhos? E aí, quase que
inevitavelmente, perceberá: empreendedorismo é, na verdade, a capacidade que
todos têm de transformar sonhos em realidade. Portanto, independe se você é
dono do seu próprio negócio, se decide vender goiabada cascão – a exemplo da
personagem Luísa, criada por Dolabela –, ou funcionário de firma qualquer. Se é
um executivo ou uma pessoa que se dedique apenas ao lar. A pergunta que vale é
outra: você é bom naquilo que se propõe a fazer? Mais. Você se sente realizado
com o que faz? Você agrega valor à sociedade – de maneira positiva, claro! –
com aquilo que executa? Ou age apenas sob a tutela de interesse próprio, de
forma egoísta na obtenção de lucro exacerbado?
“O
fundamento do empreendedorismo é a cidadania. (...) Visa a construção do
bem-estar coletivo, do espírito comunitário, da cooperação. (...) Só pode ser
chamado de empreendedor aquele que gera valor positivo para a coletividade,
incluída aqui, evidentemente, toda a natureza. (...) O empreendedor é o responsável
pelo crescimento econômico e pelo desenvolvimento social. Por meio da inovação,
dinamiza a economia. (...) O empreendedor é um insatisfeito que transforma seu
inconformismo em descobertas e propostas positivas para si mesmo e para os
outros. É alguém que prefere seguir caminhos não percorridos, que define a
partir do indefinido, acredita que seus atos podem gerar consequências”, afirma
Dolabela.
Concordo
com o autor. Há quase dez anos, publicamos uma reportagem que sustentava o seguinte slogan: “para presidente do Brasil, vote
em uma dona de casa”. É desnecessário dizer que a matéria teve grande
repercussão. As pessoas ficaram muito assustadas com essa possibilidade de
governabilidade, mas a ideia era até bem básica: se uma dona de casa administra
com cuidado, capricho e dedica atenção a todos os “departamentos” de um lar,
cuidando inclusive do seu orçamento mensal, ela seria capaz de repetir esses
feitos cuidando bem do país. E aí, fazendo paralelos com os diversos matizes da
administração de uma casa/lar com os ministérios então necessários para gerir a
nação, era possível definir metas, traçar planos a curto, médio e longo prazos:
como uma despensa é igualmente pensada ao ser abastecida – e o mais importante,
varrer e jogar fora o que é lixo, o que não presta, o que impede a
casa/sociedade de prosperar.
Em
suma, não importa o que se queira ser na vida, mas a forma como faz para ser o
que se deseja é que fará a diferença entre um ser comum e um ser que aprende e
empreende. “Sabe-se que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, é
fruto de hábitos, práticas e valores das pessoas. Existem famílias mais
empreendedoras que as outras”, esclarece Dolabela.
Certamente.
Se todos entendêssemos a vida como uma empresa, poderíamos, e seríamos,
empreendedores de nossos sonhos. Afinal de contas, o futuro é algo pelo qual
vale investir. Mas quem é que ainda se importa com sonhos?
Você
sonha? Você é aquilo que sonhou? O que você é? O que você tem?
Entre o ter e o
ser, nos idos da década de 50, ganhando maturidade na de 60, alguns jovens
cineastas brasileiros subverteram a maneira de fazer os filmes sob o mote de
“uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Com a falência das grandes
companhias cinematográficas, a ideia nasceu para promover uma arte mais
realista, com mais conteúdo e, obrigatoriamente, com menor custo. Tudo valia
para romper a inércia, com o costume da época. Diretores ousaram então com
novos ângulos, jogos de câmera inusitados, novas formas de se contar um enredo,
e fizeram história dentro da História. O velho Cinema ficou Novo.
“Na Natureza
nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Lei de Lavoisier, que o
ex-presidente Juscelino Kubitschek tanto enalteceu. E por que? Nada vem do
nada. Ou seja, é preciso ter olhos para “ver” e “enxergar”.
Uma ideia, uma paixão e um plano de negócios: é assim que nasce
o empreendedor e se cria uma empresa?
Tudo
é muito complexo. Ao menos, aparentemente. Mas as pessoas que realizam, que
fazem as coisas acontecer, que não se acomodam, nem se intimidam com as
dificuldades, transformam ideias em negócios, e transformam a própria vida e a
vida de outras pessoas. E de que maneira? Instituindo planejamentos. É nesse
momento que empreender vira sinônimo de realizar.
Atualmente,
o agronegócio, o interesse em poluir menos o planeta, a busca do menor gasto
com energia elétrica e o maior aproveitamento da água, seja pluvial, fluvial ou
de nascente, tem feito pessoas idealistas se reunirem em torno de ideias
práticas, baratas e viáveis. Há na zona rural, caso de pessoas que com sacos de
areia, estrategicamente colocados, diminuíram o volume da água trazido pelas
chuvas, que erodiam o solo, e, após passarem, deixavam o solo ressecado e sem
nutrientes que propiciassem o crescimento de qualquer vegetação. Além de evitar
a erosão, estas pessoas construíram pequenos açudes, lagoas, que mantiveram a
umidade do entorno até que, enfim, criaram pequenos rios que resistiam à seca
do inverno. Esta ideia foi compartilhada e, juntamente com a energia eólica e o
aproveitamento do calor do sol, muitos pequenos proprietários melhoraram sua
produção e, consequentemente, a qualidade de vida.
Casos
de jovens que começaram o próprio negócio e conseguiram crescer
profissionalmente já não são tão raros. A pouca idade e a falta de experiência
são muitas vezes compensadas com inovação e ousadia. E quando as pessoas
esbarram em assuntos de caráter administrativo – o desafio mais comum –, é
preciso estudar e escolher entre os vários cursos que o mercado oferece para aprimoramento.
Em suma, quem deseja abrir o próprio negócio precisa buscar informações sobre a
área escolhida, fazer pesquisas de mercado e preparar um plano de negócios.
Mais ainda. É preciso cultivar uma curiosidade positiva: aquela que faz
desbravar caminhos para criar.
E
qual a função do seu plano de negócio para a sua jornada empreendedora? Integrar todas as áreas do empreendimento, seja ele qual for,
para que se obtenha sucesso organizacional. Esse planejamento, vale a ressalva,
deve ser flexível o suficiente para incluir novas realidades, novos modelos,
novos serviços, para que não se corra o risco de tornar obsoleto.
Vale a
equação: Planejamento = definição + análise escrita das principais variáveis do
negócio. Ou seja, na elaboração de um plano de negócio, é
imprescindível que o empreendedor, não apenas para a busca de recursos mas para
a execução do projeto, investigue, sistematize suas ideias para planejar de
forma eficiente, antes de investir em um mercado sempre competitivo.
E por quê? É natural que ocorra mudanças extremas no projeto
ou até mesmo o abandono da ideia inicial, quando se começa a pesquisar e checar
as suposições iniciais para a montagem do plano de negócio. E é justamente aí
que reside o verdadeiro valor de qualquer planejamento: é muito mais
fácil alterar um negócio que existe somente no papel do que quando ele já está
estruturado, já é algo concreto, embasado entre tantas variáveis, incluindo a
“aura” da credibilidade.
Luísa, na
obra de Dolabela, resolve fazer uma guinada em sua vida quando percebe que
executa o sonho do seu pai, não o dela. Que está noiva, mas quando pensa em
casamento, não é necessariamente a imagem do noivo que vê. Sabe que tem algo
errado em sua vida e toma coragem para ser feliz. A força vem do desejo, do
sonho de fazer algo que verdadeiramente a realize.
Sim, de
todos os planos de negócios, o maior é ser feliz. E para tanto, é preciso sonhar para depois realizar. Porque empreender
é inovar em todos os aspectos. É este um fator indispensável na sociedade,
principalmente nos dias atuais em que a concorrência é altamente elevada e os
casos de desemprego e desigualdade são evidentes.
A
vida de cada um é importante para a própria sociedade, levando em conta que
cada um ocupa um papel nela. E este papel, quando aprimorado pelo
empreendedorismo, torna a pessoa e, por conseguinte, a sociedade, mais
avançada.
Portanto,
é mesmo natural pensar que a arte de empreender deveria ser trabalhada nas
escolas, e assim, melhor difundida na sociedade – visto que é algo que faz bem,
e que a sociedade em si não deixa de ser uma empresa, na qual todos somos
funcionários e responsáveis pelo seu futuro.
Sem
as noções de planos de negócios, de empreendedorismo, do sonho se vai
rapidamente a um pesadelo, e as chances de viver como vítima da desigualdade
social, má distribuição de renda se ascendem. É preciso partir para a ação. É
preciso preparar os indivíduos para o mundo e decrescer o índice de miséria a
que estamos cada vez mais expostos, subjugados, jogados – muitas vezes – à
própria sorte. Sem sorte.