sábado, 31 de março de 2012

SENHORA DO TEMPO- SONHEI QUE A NEVE FERVIA







CONVERSA COM FAZ AZEVEDO



Antes de ser uma entrevista é conversa. Sobre tempos idos e vividos. Quando Ana Paula Medeiros expressa seu espanto de que de relações virtuais possam nascer amizades reais é porque era o tempo do espanto. Fal, radiografa isto em seu livro além da dificuldade de pronunciar certas palavras, o aprendizado do singular após anos de plural,a busca de sentido no que sentido não tem. Este o livro. Mas é também nossa vida. Nosso absurdo viver de costas para que lado? O ocaso de nada saber em determinado momento enfiando agulhas nos ossos.... Alguém consegue diagnosticar onde o lado de cada coisa sem se ater na convenção estabelecida? O livro de Faz Azevedo nos afoga no insólito. É assim.

Esther-O bom é conversar à toa , né Fal? É isto que você faz quando escreve ou como os demais escritores costumam dizer, sofre, geme, sua sangue e se retorce.

Fal- Esther, quando escrevo dou voz ao que penso. E, mais importante e só possível após uns bons anos de psicanálise, ao que sinto. A conversa, a toa ou não, vem antes. Tou mais na turma que sofre e se retorce, hahaha.

Esther - Por que você começou a escrever. Quando as palavras formaram frases e se tornaram, contos, crônicas, romances?

Fal- Té, quando era guria, eu escrevia. Basicamente pra minha mãe e meu pai gostarem de mim. Redação, a única matéria na qual eu ia bem de verdade. No começo da vida adulta, fui acometida duma brutal, brutal depressão, com síndrome de pânico de brinde, num tempo em que não era moda ter síndrome de pânico. Daí, fui pra psicanálise. E depois duns anos ali, no divã, voltei a escrever, com o mesmo prazer de menina, mas com um bônus: tendo aprendido que o que eu sentia era tão lícito quanto o que eu pensava. Demorô.

Esther - Todas as histórias poderiam ter acontecido, não é mesmo. Mas sempre têm alguma coisa da gente, mesmo que seja do mal dito alter ego.

Fal- Sempre.Creio nisso profundamente. Tudo é versão, tudo é o que achamos que é, nada é isento, puro e limpinho. A realidade, Esther, não existe. Você se carrega onde quer que vá, para o bem e para o mal. E você é um cara parcial pacas.

Esther - Bem, é de praxe, então farei a pergunta: Como surgiu a ideia de "Sonhei que a Neve Fervia"? Em quanto tempo foi escrito? Quanto para ser editado. Você tem contrato de exclusividade com a Rocco?

Fal- Comecei a escrever aí na sua casa, depois que o Alexandre morreu. Basicamente, porque é isso que faço, né Té, eu escrevo. E aquele montão de folhas soltas foi virando o Sonhei bem devagar. Foi escrito em um ano, ele foi aquilo, um diário. Depois, foi reescrito em mais um ano. Anos e anos pra ser editado. E sim, tenho contrato com a Rocco.

Esther - A literatura te sustenta? Afinal já são cinco livros, não? E, segundo consta o Brasil caminha ou já está, que sei eu, no primeiro mundo, onde ler é ato corriqueiro.

Fal- Hahaha, nem vou discutir isso. Mas não, a literatura não me sustenta. A minha, quero dizer. A literatura alheia me sustenta, porque sou tradutora. E são quatro livros solo. Uma participação num projeto chamado Blog de Papel, que adoro, da editora Genese. E uma participação num livro, pasme, sobre dinâmicas de grupo. Fiz cousas que até Deus dúvida.

Esther - Se não te sustenta cê vive de quê criatura? Como escrever ser precisa correr atrás da sobrevivência quando sugerem que é preciso um mecenas para desenvolver o ócio criativo?

Fal- Traduzo, Esther. E sim, esse negócio de ganhar a vida e pagar areia dos gatos atrapalha pacas a criação. Sou cada vez mais fã do ócio criativo, um sonho distante. Devo texto pra metade da internéte brasileira, mas depois de 14 horas de trabalho, quedê que a criatura consegue escrever o que preste? (hahaha, pronto, começou o mimimi)

Esther- Por que o escritor tem esta compulsão de escrever, você me explica? De onde sai esta necessidade de verbalizar em livro mesmo tendo os canais de convivência como face e Twitter, os blogs... Para que o livro?

Fal- Esther, não sei também. Será que a gente encara livro como algo mais definitivo, real, ‘eu escrevo aqui e ali, cisco, cisco, cisco, mas ó, fiz um livro’? Sei não. Mas sim, eu escrevo. Muito, sempre, loucamente.

FREDZILA - O JAPÃO EM 2025 - PARTE 3


Carlos Frederico Abreu

COMO SE CONSTRÓI UM PAÍS DE VELHOS - O JAPÃO EM 2025

Já que o envelhecimento da população japonesa é crescente, o mercado resolveu trocar seu alvo. Saem os jovens de sucesso e entra a turma de cabelos grisalhos (baby boomers das décadas de 50-60).

Hoje no Japão, três em cada cinco compradores do Nintendo Wii já passaram dos 40 anos. Esta influência cultural, e seu poder de compra, afastou a crônica fixação na juventude. A Nintendo redesenhou o Wii, seu mais novo e brilhante produto do mundo dos games, para as gerações mais velhas, com jogos recreativos e tradicionais, como tênis e golfe.

A Nissan, gigante do ramo de automóveis, refez sua linha de esportivos para adaptar portas deslizantes, facilitando para aqueles com pouca mobilidade física.

Os últimos modelos de celulares (ketai), vem com botões mais largos e displays maiores.

Mesmo a programação da MTV japonesa está investindo em flash-backs nostálgicos, visto que sua audiência está ficando grisalha.

Pesquisas dizem que o homem mais procurado tem por volta de 37 anos, e a mulher 31.

Aquilo que era visto pejorativamente, como ‘velhice’, foi substituído por ‘charme maduro’.
Até as firmas de cosméticos estão se adaptando. Ao invés de produtos para retardar a velhice, cremes com propriedades que mantém a saúde do corpo e preservam a ‘beleza interior’.

A geração que ajudou a erguer o Japão à segunda economia do planeta, está com 60 anos e alcançou a aposentadoria forçada. Quase 4 milhões de trabalhadores se aposentaram em 2009. Contudo, a maioria não irá mendigar com sua pensão, já que, conforme caminham para a aposentadoria, seus salários tendem a subir como prova de lealdade à empresa - e ao se afastarem, recebem um bônus de quase 3 vezes o salário anual.

Mas ainda assim a maioria está relutante em se aposentar. Quase 60% dos japoneses prefere se manter na ativa.

A grande diferença dos japoneses de antes e os atuais, é que, com a erosão da estrutura familiar, esta é a primeira geração que não está preocupada em deixar uma herança para os filhos.

O Japão dos velhos em números:

-Dos 127 milhões de japoneses, 21% tem mais de 65 anos, a média é de 45 anos.
Em 2025, serão 33%, e a média será de 50 anos.

-A expectativa de vida hoje é de 82 anos, a maior do mundo. A segunda é de 78 anos (UK).
-35% dos homens com mais de 65 anos ainda trabalha. O percentual europeu é de 10%.

quinta-feira, 29 de março de 2012

DIÁRIO DE UMA ADOLESCENTE. VALEU A PENA, Ê Ê!

Por Bianca Monteiro

Estive aqui todo o tempo tentando comprovar que o esforço, do jeito certo, sempre dá resultados. Ainda que desprendida de forças maiores como um destino previamente traçado, confiando apenas num mero acaso onde tudo pode acontecer, dependendo das próprias decisões, e correndo o risco de que elas fossem erradas.

Por mais que demore ou venha fracionado: quem acredita, sempre alcança. A espera é a chave, assim como o preparo, é claro. Mas não basta ter esperança, planejar, criar expectativas, sonhar. É preciso ter foco, paciência, e como anteriormente dito: esforço. O maior erro das pessoas é acreditar que tudo se resolverá sozinho, automaticamente. Nada cai do céu, é necessário fazer acontecer. E depois da certeza de que a consciência está limpa, já que fez tudo o que podia, e agora é só esperar, pronto, pode-se saber que alguma resposta virá. Assim como a 3ª lei de Newton (alguma coisa de física ao menos eu sei nessa vida, fiquem orgulhosos), toda ação tem uma reação, e com uma atitude tomada não poderia ser diferente...

Tudo isso pra dizer que, depois de meses correndo atrás dessas teorias, a comprovação finalmente chegou. O que tanto esperei (depois de correr atrás de todas as formas que podia, esgotar a munição de todas as minhas armas a ponto de não saber mais o que diabos fazer/dizer para provar que aquilo era real) aconteceu. Inúmeras declarações, textos, uma carta, até mesmo demonstrações em público: nada funcionou. No fim, percebi que a vitória não vinha com a minha insistência irritante, teimosia, mas sim pelo jeito que gostaria de ser lembrada. Como alguém que nunca desistiu.

quarta-feira, 28 de março de 2012

LANTERNA MÁGICA - OUTRAS PALAVRAS

por Egídio La Pasta, Jr

Essa semana as palavras são de outras pessoas. Escolhi reproduzir uma cena do filme Antes do Pôr-do-Sol, do Richard Linklater que eu gosto muito. Da cena. Do filme. Dessa experiência avassaladora de um reencontro. Dessa desordem absoluta que existe quando duas pessoas se amam e querem, precisam estar juntas. Se você não conhece o filme, ele é a continuação de Antes do Amanhecer, também do Linklater e com os mesmos atores, dez anos mais jovens, se esbarrando pela primeira vez dentro de um trem. O roteiro de ambos os filmes foi escrito pelo diretor e pelos atores Julie Delpy e Ethan Hawke. Você encontra com facilidade os filmes em qualquer locadora da sua cidade. Você também encontra essa cena no youtube, mas preferi deixar somente o texto que sozinho já (me) diz muito.

* * * * * *

Celine – Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo. Tenho muitos sonhos que não têm nada a ver com a minha vida afetiva. Isso não me entristece, mas as coisas são assim.

Jesse – Por isso, tem um relacionamento com quem nunca está por perto?

Celine – Obviamente, não sei lidar com o cotidiano de um relacionamento. É emocionante. Quando ele viaja, sinto saudades, mas não morro por dentro. Ter alguém por perto sempre me sufoca.

Jesse - Não, espere. Você disse que precisa amar e ser amada.

Celine – Sim, mas quando acontece, sinto enjôo. É um desastre. Só fico realmente feliz quando estou sozinha. Estar só é melhor do que sentir solidão ao lado de um amante.  Para mim, não é fácil ser romântica. Você começa assim, mas depois de se dar mal algumas vezes, você esquece os seus devaneios e aceita o que a vida lhe dá. Isso nem é verdade. Eu não me dei tão mal. Mas tive muitas relações sem graça. Eles não foram cruéis. Me amaram mas não havia uma ligação nem emoção. Eu, pelo menos, não senti.

Jesse – Sinto muito. Você está tão ruim assim? Não, certo?

Celine – Não é bem isso, sabe? Eu estava bem, até ler o seu maldito livro. Mexeu muito comigo, sabe? Me lembrou de como eu era romântica, de como eu tinha esperança. Agora, não acredito no amor. Não sinto mais nada pelas pessoas.  Me entreguei a esses sentimentos naquela noite e nunca mais senti nada daquilo.  É como se naquela noite tivesse dado tudo a você e você partiu. Senti que fiquei fria, como se o amor não existisse para mim.

Jesse – Eu não acredito nisso. Não acredito.

Celina – Para mim, a realidade e o amor são contraditórios. É irônico, todos os meus ex-namorados estão casados. Os homens saem comigo, nós terminamos e depois eles se casam. E depois, ligam e agradecem porque eu lhes ensinei o que é o amor, os ensinei a amar e respeitar as mulheres.

Jesse – Acho que sou um desses.

Celine – Eu quero matá-los! Por que não me pediram em casamento? Eu teria recusado. Mas poderiam me pedir! Eu sei que a culpa é minha. Eu sei, nunca senti que eles poderiam ser o homem certo. Nunca. O que significa isso? O amor de uma vida? Esse conceito é absurdo. Só nos completamos com outra pessoa. Parece uma maldição, certo?

Jesse – Posso falar?

Celine – Eu sofri demais e me recuperei. Agora, não faço mais força. Sei que não vai dar em nada. Não adianta nada.

Jesse – Não dá para viver a vida evitando a dor à custa...

Celine – Falar é fácil. Preciso sair daqui. Pare o carro. Quero descer.

Jesse – Não, não desça. Fale.

Celine – Quero ficar longe de você. Não me toque. Quero pegar um táxi.

Jesse – Por favor, não faça isso.

Celine -  Por favor, encoste.

Jesse – Não. Ouça, estou muito feliz por estar ao seu lado. Estou. Estou contente porque você não esqueceu de mim.

Celine – Não esqueci. E é isso o que me deixa puta.Você vem a Paris, todo romântico e casado. Certo? Então, dane-se. Não me entenda mal. Não estou tentando te conquistar ou qualquer coisa do tipo. Um homem casado é tudo o que eu não preciso. Muitas coisas aconteceram que não têm nada a ver com você. Foi um momento no tempo que se perdeu para sempre. Eu não sei...

Jesse – Você diz isso, mas nem se lembrou do sexo. Então...

Celine – É claro que eu lembrei.

Jesse – Lembrou?

Celine – Sim. As mulheres fingem.

Jesse – Fingem?

Celine - Sim, o que eu poderia dizer? Que eu lembrava do vinho no parque e de olhar as estrelas sumirem enquanto o sol nascia? Nós transamos duas vezes, idiota!

Jesse – Sabe de uma coisa? Fiquei feliz por ver você. Apesar de ter se transformado numa ativista colérica e maníaco-depressiva, eu ainda gosto de você, de estar ao seu lado.

Celine – Eu sinto a mesma coisa. Perdão. Não sei o que me deu. Eu precisava desabafar.

Jesse – Sem problemas.

Celine – Meu namoro e minha vida afetiva são infelizes. Parece que não ligo, mas estou morrendo por dentro. Por estar amortecida. Não sinto dor ou excitação. Não estou nem amargurada. Estou...

Jesse – Acha que só você está morrendo por dentro? A minha vida é eternamente ruim.

Celine – Sinto muito.

Jesse – Não, não sinta. Só me sinto feliz quando passeio com o meu filho.  Já fiz terapia de casais. Fiz coisas que eu nunca imaginei que teria de fazer.  Acendi velas, comprei livros de auto-ajuda, lingerie.

Celine – As velas ajudaram?

Jessé – Nem um pouco. Eu não a amo do jeito que ela precisa ser amada. Não vejo sequer um futuro para nós. Mas eu olho para o nosso filho sentado à mesa perto de mim, e penso que eu passaria por qualquer tortura para estar com ele todos os minutos da vida dele. Não quero perder um momento. Mas na minha casa não há nem alegria, nem risadas, sabe? Eu não quero que ele cresça nesse ambiente.

Celine – Sem risada? Que terrível. Meus pais estão casados há 35 anos e dão risada até quando brigam.

Jesse – Não quero ser daqueles que se divorciam aos 52 anos que chorando reconhecem que nunca amaram seu companheiro e que sentem que a vida foi sugada por um aspirador de pó. Quero uma vida boa. Quero que ela tenha uma vida boa. Ela merece. Mas vivemos um casamento simulado por responsabilidade. Vivemos como as pessoas supostamente devem viver. Mas eu tenho uns sonhos...

Celine - Que sonhos?

Jesse – Eu sonho que estou de pé numa plataforma e você fica passando dentro de um tem. Você passa, e passa, e passa. E eu acordo suando muito. E ainda tenho outro sonho também... e você... está grávida, nua, ao meu lado na cama. Quero tocá-la, mas você não deixa e desvia o olhar. E eu a toco mesmo assim... a partir do seu calcanhar. Sua pele é tão macia, que acordo chorando. Minha mulher me observa e sinto que estou muito longe dela. Sei que existe alguma coisa errada. Que eu... não posso continuar a viver assim, sabe? A vida é mais do que comprometimento. Depois, penso que talvez eu tenha desistido da idéia do amor romântico. Que talvez eu tenha desistido de tudo depois do dia que você não apareceu. Acho que talvez eu tenha feito isso.

Celine – Por que está me contando tudo isso?

Jesse- Me desculpe. Eu não sei. Eu deveria... eu não deveria ter contado.

Celine - É muito estranho. A gente acha que só a gente tem problema. Quando eu li teu artigo, achei que a sua vida fosse perfeita. Tinha mulher, filho e um livro publicado. Mas a sua vida pessoal é mais encrencada que a minha. Me desculpe.

Jesse – Então você fica aliviada sabendo que minha vida está pior do que a sua?

Celine – Sim, graças a você, estou melhor.

Jessé -  Ótimo. Fico feliz.

Celine – Eu realmente te desejo o melhor. Não desejo mal aos outros por não ter uma boa relação e família.

Jessé – Eu acho que você vai ser uma ótima mãe.

Celine – Certo. Certo. Chega.

(Diálogo extraído do filme Antes do Pôr-do-Sol, escrito por Julie Delpy, Ethan Hawke e Richard Linklater).

terça-feira, 27 de março de 2012

QUITANDA DA VIDA 69

Telinha Cavalcanti

Hoje, a coluna não é minha, é da Fal. Da Fal, para a Fal. Quilida, roubei suas palavras, roubei sua receita, botei aqui. Porque sua escrita é sensorial, mexe com a gente, com os sentimentos, com a fome.

Então, abre aspas, porque pelo menos desta vez, tem alguém que sabe o que está fazendo nesta coluna.

Paz de tomate

Há algo de calmo, de reconfortante, de cálido, numa boa porção de espaguete ao sugo, com montes de folhas frescas de manjericão e queijo ralado na medida certa. E se ele for comido numa cumbucona, daquelas (sopa), numa sala quase escura, com duas, talvez três taças dum tinto pobre porém honesto, melhor. Você está ali em silêncio, quase sem pensar, e o sal e o doce do tomate fazem companhia, mas a companhia certa, terna e silenciosa que você precisa nesse momento de confusão. Nesse exato momento, sua cumbuca de macarrão é melhor que brigadeiro de colher, quindim ou sorvete de creme com café quente. Sua cumbuca de macarrão dá uma segurança, uma solidez, que nenhum doce é capaz de dar. Você chegou em casa, arrancou o casaco, jogou a bolsa longe, disse boa-noite pro gato, e foi para a cozinha iniciar seu lento ritual de pacificação. Água no fogo, naquela panelona linda. Olha a água fervendo, em silêncio. Depois a massa na água, o molho, o queijo, escolher uma cumbuca bonita, o vinho, o canto da sala. O mundo lá fora ruge furioso, mas você está em paz. Por enquanto.
Tem comidas que são assim. Elas não dão colo, elas não consolam, elas não embalam nossas dores. Elas servem para nos dar paz e para manter o Mal afastado, enquanto nos preparamos para a próxima batalha. Elas são simples de fazer, usam poucos ingredientes e não precisam de nenhum acompanhamento, o que permite que o guerreiro se concentre apenas nela e na sua própria respiração. Era o que Aquiles comia nas praias de Tróia. Era o que o Dr. Martin Luther King comia antes das passeatas pelos direitos humanos. Era o que Aníbal comia, enquanto olhava pros Alpes, olhas pros seus elefantes e pensava “Ah, eu dou conta”. Ou alguém acha que ali, naquela horinha, a minutos da tentativa de encaçapar a bola 8,  eles comiam aperitivos, entradas, risoto afrescalhado e escolhiam entre 3 tipos de sobremesa? 

Espaguete ao sugo
 
Ingredientes
1 Pacote de espaguete (eu uso o grano duro)
1 quilo de tomates
2 cebolas picadas de manjericão
½ xícara de salsa
½ xícara de cebolinha
sal e pimenta do reino
1 colher (sopa) de açúcar
queijo parmesão ralado 

Preparo

Uma das formas de fazer o molho ao sugo, talvez a mais simples, é quando eu liquidifico os tomates, passo a massa por uma peneira e depois levo esse creme ao fogo, onde acrescento, após a fervura, o açúcar, a salsa, a cebola e a cebolinha (atenção! Se você é uma daquelas pobres criaturas que ainda não descobriram o enorme prazer de encontrar pedacinho de cebola na comida, ou tem alguém assim em casa, esqueça a cebola picada!!!). Isso vai cozinhar uns 40 minutos no fogo baixo.

Aí, coloco a maior panela do mundo, cheia de água, no fogo. Não economizo água. O macarrãozinho gosta de nadar com folga. Quando a água ferver, coloco o espaguete lá dentro, espero cozer, tiro, escorro, ponho numa travessa grande, que permita que eu misturo, acrescento o molho, misturo e espalho as folha frescas de manjericão.

Passo uma generosa porção para uma cumbucona, boto queijo ralado (um bom queijo, faz favor, também não economizo no queijo… um queijo ruim bota todo essa trabalho a perder), e vou comer na sala, ouvindo a vida lá fora uivar.

fonte: Avental da Fal

segunda-feira, 26 de março de 2012

DUBIEDADE TAMBÉM ATRAI LEITOR

Por Dade Amorim



Patricia Highsmith. Os Fugitivos. Trad. de Luiz Roberto Mendes Gonçalves. São Paulo: A Girafa, 2005.

Tenho lido os romances policiais de Patricia Highsmith sem grande entusiasmo. Embora reconheça nela uma autora consagrada e bem conhecida, acho sempre que a história e seus personagens não me entusiasmam o suficiente. Pode ser pura implicância, quem sabe.
Desta vez, no entanto, história e pessoas me chamaram mais a atenção. Segui a leitura com vontade de chegar ao fim, não porque estivesse entediada, mas ao contrário, porque valeu a pena.
A animosidade de um sogro, cuja filha se suicidara, contra o genro me chamou a atenção e estimulou meu interesse sobre a história. A cada tentativa do velho Coleman de acabar com Ray Garrett, o viúvo de Peggy, a filha, a história se torna mais interessante. Não sei se pela loucura do velho, por sua obsessão em se vingar do ex-genro, a trama vai se tornando mais atraente e cresce a vontade de ver aonde vai dar aquilo tudo.
Além desses dois personagens centrais, há um pequeno grupo sobre o qual paira um certo suspense, porque não se sabe exatamente que papel irão desempenhar na narrativa, como e se chegarão a agir contra ou a favor de quem, de modo que o interesse cresce sempre. O grupo é formado por Inez, amante de Coleman, e dois casais de amigos que vão formando opiniões pouco a pouco reveladas no texto, mas nunca explicitadas por inteiro.
Ray Garrett se defende de Coleman quase sempre fugindo, lutando para que o pai de Peggy não consiga seu intento. Mas há um episódio em que ele reage à agressão. Os personagens de Highsmith se comportam de modo a não deixar que os leitores formem um juízo definido sobre eles. Exceto talvez no caso do sogro, evidentemente mal intencionado e cheio de ódio, todos os outros deixam margem a dúvidas, especialmente no caso de Ray.
Por conta dessa dubiedade, o leitor vai ficando curioso, mas aos poucos se afeiçoa ao ex-genro sem muita certeza de estar no rumo certo. Como prefiro não estragar o que pode parecer uma surpresa no fim da história, não vou dizer mais nada.
Mas que o livro e essas pessoas envolvidas prendem a atenção do leitor, com certeza prendem sim.

domingo, 25 de março de 2012

SENHORA DO TEMPO-SOBRE LIVROS


FAL AZEVEDO, DEPOIMENTO


Fal Azevedo criança

Minha mãe tratava os livros e a leitura como o maior dos privilégios em nossa casa. Praticamente só ganhávamos livros. Os brinquedos vinham das tias, das madrinhas. De mãe e pai, só livro. E ler era, mesmo um privilegio. Um prêmio. Praticamente só ganhávamos livros em casa. Daí, que ler era privilégio... Nota boa? Livro? Coisa certa? Livro. Ah, fez coisa errada? Pois então tiro de você o livro que  está lendo . Se comportou mal? Não conto história antes de dormir, não leio em voz alta.
Livro era presente de aniversário e Natal, o único (mesmo) tipo de consumo estimulado em minha casa, a única coisa que éramos encorajados a desejar, e o grande privilégio que tínhamos. E claro, como era um privilégio, não uma obrigação, um prêmio, não um castigo, éramos loucos por eles. Tínhamos que merecer nossos livros. Esperávamos por livros, pedíamos por eles, sonhávamos com eles como outras crianças sonhavam com o Falcon, ou a Susie. E, exatamente, como brinquedos, nunca achávamos que eram suficientes.
Foi assim que minha mãe criou dois viciados em livros.
E outra coisa: dedicatória. Mãe precisa mesmo colocar dedicatória nos livros que der.
Assim, quando chegar aos 41 anos, sua filha vai ter o prazer de abrir um livro capenga e ler:
Para a minha amada Biuccina, esse "Mulherzinhas", que carrega um pouco da doçura que, espero, ela terá em sua vida.
mamãe, dezembro de 1977

carteirinha da Fal

sábado, 24 de março de 2012

FREDZILA - O JAPÃO EM 2050 - PARTE 2

Carlos Frederico Abreu

COMO SE CONSTRÓI UM PAÍS SEM CRIANÇAS - PARTE 2

Há alguns natais, o grande fenômeno de vendas no Japão foi um simpático e curioso boneco de 30 centímetros que falava mais de 250 frases, cantava, reclamava se era deixado sozinho e dava boas-vindas quando seu dono chegava em casa. A novidade foi batizada de Primo Puel, adaptação do italiano com significado próximo a "primeiro filho". Custava 72 dólares no Japão, com uma venda espetacular de mais de 400.000 exemplares no país.

O dado curioso do Primo Puel é que a maior parte de seus consumidores não é de crianças, e sim mulheres na faixa entre 20 e 30 anos. No site oficial do boneco há inúmeras declarações de fãs que o tratam como se fosse uma criança de verdade. Outras dizem que ele é um grande amigo e algumas o consideram um namorado. As mais fanáticas chegam a afirmar que não poderiam mais viver sem sua companhia. Todo esse sucesso tem deixado em alerta as autoridades do país, que estão em plena campanha para aumentar a baixa taxa de natalidade local. Nessas condições, nada poderia ser mais inconveniente que a propaganda de um filho de brinquedo para as japonesas jovens e solteiras.

A média atual é de 1,34 nascimento por mulher, uma das menores do mundo.

Acostumados a fabricar Tamagotchis - aquele bichinho de estimação virtual - e Power Rangers, bonequinhos intergalácticos, os funcionários da japonesa Bandai têm agora de produzir crianças.
A empresa, terceira maior fabricante de brinquedos do mundo, está oferecendo 10.000 dólares (cerca de 18.400 reais) para cada bebê gerado por seus empregados, a partir do terceiro filho.

O estímulo financeiro à procriação é compreensível no Japão.

A população do país está envelhecendo rapidamente e as conseqüências econômicas desse fenômeno podem ser desastrosas. O governo japonês divulgou um relatório dando números ao problema. As pessoas com mais de 65 anos já representam 16,7% da população e, segundo projeções, em 2050 o porcentual chegará a 19,6%, o maior do mundo.

Em quinze anos, um em cada quatro japoneses terá mais de 65 anos. No Brasil apenas 6% dos habitantes estão nessa faixa etária.Com tantos idosos, o país asiático poderá experimentar, em poucos anos, o colapso de seu sistema previdenciário. Os poucos cidadãos com idade para trabalhar e contribuir para a previdência não seriam suficientes para sustentar os aposentados.

Para que o sistema previdenciário japonês continue viável, poderiam ser adotadas duas medidas, segundo um estudo recente da Organização das Nações Unidas: aumentar a idade mínima de aposentadoria para 77 anos ou promover a imigração em massa. As duas soluções, na verdade, são impraticáveis. Aposentadoria aos 77 anos, quando a expectativa de vida é de 79, é fora de propósito. No que chamou de imigração de reposição, a ONU estimou que, para cumprir a meta, seriam necessários mais de 10 milhões de imigrantes por ano nos próximos cinqüenta anos. Ao fim do período, haveria quatro vezes mais imigrantes do que japoneses no Japão.

Diante disso, o prêmio da fábrica de brinquedos faz sentido: elevar a taxa de natalidade é a solução.

O governo japonês também está em campanha para aumentar o número de filhos por casal. A média de fertilidade no país é de 1,4 filho por mulher, abaixo da taxa de reposição. Atualmente, cada casal recebe uma mesada de 50 dólares para cada um dos dois primeiros filhos até que completem 3 anos de idade. Do terceiro filho em diante, a ajuda sobe para 100 dólares. Uma nova lei vai estender o benefício até que as crianças atinjam 6 anos, mas manterá o programa acessível apenas às famílias de renda mais baixa.

As autoridades japonesas se apressam em negar que o objetivo das medidas seja promover o nascimento de bebês. Dizem que o Estado não pode interferir na vida pessoal das mulheres e influenciar a decisão de ter ou não um filho. Segundo o governo, a idéia é aliviar os custos da criação de uma criança.
No fundo, dá tudo no mesmo.

Além das dificuldades financeiras, a exigente rotina de trabalho no Japão também é um impedimento para a maternidade. Em uma sociedade na qual os homens têm pouca ou nenhuma participação nos afazeres domésticos, a opção pela gravidez é muito bem avaliada pelas mulheres. Os governantes também pensaram nisso e querem estimular creches com horários flexíveis e ajudar na redução da jornada de trabalho dos pais. Enquanto o governo se preocupa em resolver o problema demográfico do país, a Bandai parece mais interessada em garantir seu mercado futuro.

Imagine só o prejuízo que seria fabricar brinquedos em um país sem crianças.

sexta-feira, 23 de março de 2012

ENTREVISTA COM FAL AZEVEDO, FAL DO DROPS, SOBRE O LANÇAMENTO DE SEU NOVO LIVRO: "SONHEI QUE A NEVE FERVIA"

Vou contar a história direitinho. Pedi a Claudia que após ler o Livro "Sonhei que a Neve Fervia" de Fal Azevedo fizesse considerações sobre ele, entrevistando a autora. Com esta entrevista inauguramos uma semana de Fal Azevedo.


Este livro é impossível ler sem se emocionar muito e muito e muito. Ele nos traz um pouco de Caxambu, esta cidade com 12 fontes de água mineral , cada uma mais diversa do que a outra. Deixe a Claudia  explicar a pergunta sobre as irmãs Goés, que entra na matéria: 


Por Claudia Lopes Borio



Fal Azevedo, na televisão

"A Claudia e a Fal foram para dois colégios que eram de propriedade de duas irmãs geniais, em São Paulo era o Colégio da Gávea, da Laura Góes (não sei exatamente o nome da escola), e em Curitiba era a Escola Anjo da Guarda, da Vera Miraglia. Eu não sei o que a Fal achava, mas o colégio Anjo da Guarda era e é uma escola genial, onde todos os alunos têm voz e vez, mesmo que sejam considerados "crianças problemáticas" em outras escolas, enfim, um ambiente amigável com base no ensino
construtivista. Os sobrenomes das irmãs são diferentes, pois esses são seus nomes de casadas, eu acho que o nome de solteiras delas era Lacombe. A Laura, hoje em dia, tem uma pousada em Petrópolis (Pousada da Alcobaça)  e o Anjo da Guarda é sempre mencionado  entre as melhores  escolas do Brasil, onde a Vera Miraglia, mesmo velhinha, continua  no leme ( a minha filha estudou lá também).
É isso, mais ou menos"

Claudia Borio


Oi Fal.

Eu sou a Claudia, amiga da Esther. Para você saber quem eu sou, eu também sou tradutora, sou revisora, estudei no colégio da irmã da Laura Goes aqui em Curitiba e tenho dois Moby Dick na minha estante.

Fal- Ei, que legal!! Somos ambas produtos das irmãs Góes! Você conhece a pousada da Laura em Petrópolis, a Pousada da Alcobaça? É o lugar (mesmo) mais lindo da face da Terra. Tirante Caxambu. :o)

Então gostaria de fazer as seguintes perguntas:

1. Os leitores provavelmente não sabem, e por isso pergunto. É você essa mulher terrivelmente enlutada, que descreve no seu livro a experiência dilacerante de perder o amor da sua vida? Quero dizer, é você mesma, não é um personagem de ficção?

Fal- Sou eu. Creio profundamente que, botou no papel, virou ficção. Não acredito em jornalismo-verdade, na realidade crua dos fatos, em nada disso, Clau. Acredito em interpretação, ângulo, verão – a minha e a sua. Então o que posso dizer é que sim, sou eu ali. Mas é a minha versão. A minha dor, a minha vidinha, a minha visão disso tudo, da perda, do medo, da ausência. Sou eu, não uma personagem de ficção, mas só enquanto é possível não sermos todos, personagens de ficção. Se é que me explico.

2. Você acha que a nossa sociedade tem uma atitude tipo “seja forte, a vida continua’ com relação ao luto? Ou talvez, refazendo a pergunta: será que se morássemos na Idade da Pedra na Sardenha, ou em algum lugar assim, nossos mortos seriam pranteados com mais dignidade e haveria mais rituais de despedida, dignos e graves, que poderiam trazer um pouco mais de consolo nessas horas terríveis?

Fal- Acho essa negação da fragilidade, da dor, do medo, da perda uma coisa extremamente perigosa e vou repetir até a morte: não, a vida não continua. A vida acaba. Quando a pessoa que você mais ama morre nas suas mãos, desculpe ser eu a lhe dizer, a vida acaba. E uma outra cousa começa. Feliz, infeliz, melhor ou pior, não sei, depende, mas é outra coisa. Acho sim, Clau, que noutra épocas chorávamos mais e melhor. Não sempre, o passado não é uniforme, mas nalguns bolsões do tempo, nalguns lugares, o luto foi mais respeitado. Olha. Nem meia hora depois do Alexandre ter morrido nos meus braços, eu estava numa salinha de espera de delegacia. Entende? Eu estava ali, sentadinha, esperando o delegado ter a bondade de me atender, enquanto o escrivão assistia um daqueles reality shows de construir motoca. Não por dez minutos, não, horas. Esperei horas com minha boa amiga Carina. Isso lá é jeito de prantear a morte de alguém? Antes até, isso lá é forma de lidar com o próprio susto, o próprio pavor, o cara tinha acabado de morrer, bem na minha frente. Não, não é. Luto precisa de tempo. Chorar por alguém demora. Demora muito. Tirar o cara do seu sistema e recolocar o cara no seu sistema, noutras bases, é processo muy lento e muy doloroso. E o tempo de cada um precisa ser observado e respeitado. Bom, num mundo ideal.

3. Você não perdeu o espírito crítico nem nas piores horas, achei incrível você reparando e se indignando com uma pessoa que falou que o funeral era “só isso”, e quando a menininha teve alergia com o salgadinho amarelo, você também se indignou que todo mundo ficou pondo culpa nela... pode comentar isso?

Fal- Hahahah, Clau-de-Deus, como qualquer um que me conheça poderá testemunhar, eu sou sempre este ser humano insuportável.

4. Como é que você tomou a decisão de enfrentar esse desnudamento total da alma e transformar tudo isso em literatura?

Fal- A coisa toda foi meio orgânica. Eu escrevo. Sempre, todo o tempo, sobre tudo. Sou daquelas criaturas alucinadas que têm blog e diário de papel e quatro ou cinco grupos de e-mail e sete, talvez dez, correspondentes fixos e diários. Eu escrevo. Gosto de esmiuçar o pensado e o sentido, o vivido e o visto, o sonhado e o planejado no papel.Portanto, quando Alexandre morreu, eu escrevi. Quando as amigas dele, Esther e Ana Laura, foram me buscar pra ficar com elas, eu escrevi. Enquanto o ano passava, eu escrevia. Quando minha então editora na Rocco, a Anninha Buarque, perguntou ‘muié-que-que-cê-tá-fazendo?”, respondi: escrevendo. E foi isso. A Rocco botou contrato e estamos aqui.

5. É incrível de ver (ou ler) no seu livro como você tem amigos e amigas geniais e queridos que ficaram ao teu lado, escrevendo, abraçando, te recebendo, escrevendo mais etc., o que me fez pensar muito: será que eu teria amigos assim também? O que você faz para ter tantos amigos? Conta o segredo aí.

Fal- Não faço absolutamente nada e não sei de onde essa gente saiu. A Esther e a Nalaura, vá lá, herdei do Alexandre. E minha mãe, bão, ela tem obrigação de me aturar e tal. O resto, Deus é testemunha, não sei. Não sei donde eles brotam e certamente não sei por que alguns ficam. É um mistério.

6. Existe um homem misterioso que passa a noite do 31 de dezembro com você, quase ao final do livro, e fala que te “esperou muito tempo”, mas você não conta mais nada sobre ele. Eu fiquei morrendo de curiosidade, será que ele será tema de um próximo livro?

Fal -Ele foi meu amigo, meu amigo querido, quando o mundo desabava e eu não tinha pronde correr. No meu coração pro resto da vida. Tive muita sorte.

7. Eu adorei as citações literárias que você faz ao longo do texto, especialmente quando você fala do Darwin. O que é que o Darwin é para você? Você se imagina andando pelo jardim do Mendel, aquele das ervilhas, de braço dado com o Darwin e conversando?

Fal- Darwin foi um grande cara. Não apenas porque ele foi genial e viu o que ninguém mais viu. Mas porque ele passou por cima de toda a vida e a criação dele pra falar o que ele falou. Ele escolheu pagar o preço. A evolução como mecanismo evolutivo, esse conceitinhotão tãotão importante, mudou a vida dele e a nossa. E, para além da teoria da evolução, o cara foi um pensador. Da época em que vivia, da classe social em que havia nascido, sobre as cousas que o cercavam. Um observador, primeiro, e depois um pensador. Gosto demais disso.

8. E quando você terminou de escrever, revisar, imprimir, encadernar e tudo o mais esse seu manuscrito, você sentiu alguma coisa como “dever cumprido, etapa superada” sei lá, algum sentimento de encerramento de uma fase na sua vida? Você acredita nisso, que há fases que passam e capítulos que se fecham na vida, como nos livros?

Fal- Não, pra ser sincera. Não. Só sou capaz de enxergar o fim dum ciclo anos e anos depois, ali, no meio da confa e no calor dos acontecimentos, fica tudo misturado, na minha cabeça e no meu coração.

9. Você contou que foi morar na sua mãe e aí começou a pensar em batom e em pincel de maquiagem. Será que quando a mulher recupera a vaidade ela está melhorando, pelo menos um pouquinho, colando os caquinhos do coração partido?

Fal-Hahaha. Nunca tinha prestado atenção aos pincéis. Acho que um mundo de cousas pequenas, bobinhas, cotidianas, tolas, vai se tornando mais e mais visível, conforme se altera o nível do luto, da dor. A vida vai se infiltrando devagar, ocupando espaços vazios. Pincéis de blush, cartas, filminho do Hannibal, uma nova gatinha-bebê, a gente vai mudando, o mundo em volta da gentevai mudando,uma nova vida começa. No meu caso, espantosamente devagar. 

10. Para terminar, vou perguntar só esta vez sobre seu marido, esse homem doce e apaixonante que morreu, vamos falar claramente, por favor me perdoe mas tenho que perguntar. Esse homem não tinha defeito algum? Ele lavava mesmo o seu cabelo? Você tem idéia de que 99 % das mulheres nunca tiveram nem terão coisa parecida nas suas vidas? (nem os homens, aliás). Que feliz conjunção de fatores fez com que ele fosse tão legal?

Fal-Hahaha, ele lavava meu cabelo toda santa noite. E sim, ele tinha defeitos. Defeitos que, pra mim, não significavam. Por isso era tão bom viver com ele. Assim como meus defeitos (que, cara, são abissais e numa quantidade que, vamos combinar, é sobre-humana), para ele, eram fáceis de driblar. Por isso ele era feliz comigo. No fundo não é isso. Achar alguém para quem seus defeitos não são um fardo, e cujos defeitos sejam possíveis? Eu não ia casar, não fui criada para casar. Então, quando casei, casei porque o Alexandre era o Alexandre. Eu casei com ele. Porque ele era ele. Só casei por isso. Não foi um casamento. Foi um casamento com o Alexandre.

11. Última (prometo). Eu adoro o jeito que você descreve as coisas, por isso vou perguntar: fora responder este questionário gauche de quem não tem prática em entrevistar escritores, o que é que você fez de bom hoje? (risos)

Fal- Ô linda. Trabalho. Escrevo, muito menos do que deveria. Leio. Xô ver. Só. Ah, troco a areia dos gatos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

DIÁRIO DE UMA ADOLESCENTE. (AUTO)SOBRECARGA.

Por Bianca Monteiro

O ano mal começou e eu estou sempre mencionando isso... Deve ser uma espécie de crise da meia-idade, mas desencadeada por estar exatamente no meio do ensino médio. Por saber que começou há pouco, mas está prestes a acabar. Um sentimento de acomodação, e ao mesmo tempo, aumento da pressão. "Aproveitem esse ano, que ano que vem é vestibular, é enem, é correria, despedida. Daqui a pouco vocês vão apavorar" combinado com "Ah, passei o primeiro ano completamente de boa, aposto que esse vai ser igual, vou me preocupar pra que? Aposto que no fim de tudo vou rir da cara de quem tentou me assustar". Discutindo com uns amigos, percebi que todos estamos cientes de que ambos os pensamentos tem sua parcela de verdade, mas num sentido geral, estão errados. E mesmo assim insistimos em ouví-los, cada hora um, gerando assim uma confusão gigante.

Sinceramente? Fui a vida toda tão assustada quanto ao ensino médio que nunca pensei que fosse chegar nele. O primeiro ano foi uma mudança brusca, mas nada impossível de se adaptar. Olhando agora, não foi difícil, pelo contrário, deu pra levar "de boa". Agora no segundo, que já pegamos o ritmo e nem lembramos como era diferente antes, pronto, parece brincadeira até. Se estes anteriores tiverem sido bem feitos, riremos sim na cara de quem tentou nos assustar quanto ao terceiro. Parecerá simples, se sem estresse... É essa é a única parte que me assusta de fato. Falar de matéria, de pressão, etc, é realmente fácil, mas a parte do "sem estresse" é quase impossível.

A cada ano, sinto que o tempo vem diminuindo. E nada tira da minha cabeça de que logo isso vai me dominar completamente e não terei mais nenhuma forma de escapismo pra "ser eu". De tempo pra pensar nas minhas coisas... Se já me sinto meio maluca com o horário do segundo ano que não me deixa sustentar meus vícios internérdicos (adoro essa expressão) como o twitter, namorar (ó as novidades aí, minha gente), ler meus livros, ver os filmes que me emprestam e que eu baixo, dar conta do meu blog, meus textos, da minha coluna aqui, de outras atividades como curso de inglês, ou de me importar devidamente com amigos e lazer, imagine só o que a carga horária do terceiro ano, maior ainda, fará com a minha cabeça? Pavor só de pensar em quantas horas vou dormir diariamente e quanto café precisarei tomar pra me sentir normal e acordada.

quarta-feira, 21 de março de 2012

LANTERNA MÁGICA - SÉRIES PARA VICIAR

 por Egídio La Pasta, Jr

Lembro de assistir Friends quando era mais moço. Para mim, ainda é a série mais divertida de todos os tempos, ainda que você não concorde. Depois me interessei por Nip Tuck, que acompanhava uma dupla de cirurgiões plásticos. Eu adorava a subversão das situações criadas. A Sete Palmos me pegou pelo texto do Alan Ball e foi a série, sem dúvida que mais me fez sofrer, o que é natural, já que se passava em uma funerária. Lost tirou o meu fôlego o tempo que durou. Will & Grace me conquistou pelos coadjuvantes. As meninas de Sex and the City me divertiam mesmo em um universo tão distante do meu. House eu abandonei no meio e quando percebi, eu estava em busca de novas séries para acompanhar, novas histórias para ouvir. Hoje em dia, acompanho muitas delas - veja bem, muitas, às vezes é difícil de me programar, são muitas e cada vez melhores. 

Dexter, Brother and Sisters, Desperate Housewifes, The Mentalist, Skins, How I Met Your Mother, Queer as Folk, Body of Proof, Two and a Half Man, Glee, 2 Broke Girls, Alcatraz, Up All Night, Modern Family, True Blood e Justified (ufa!) são séries que abandono e retomo de acordo com o tempo que há. 

As estreias imperdíveis por aqui:

Smash (28/03 – Universal Channel)

Smash mostra a criação de uma peça da Broadway, que tem Marilyn Monroe como personagem principal. Portanto, nada mais importante que encontrar a atriz e cantora perfeita para interpretá-la nos teatros.

É ali que entram Karen e Ivy, duas mulheres com personalidades, estilos e vidas diferentes. Enquanto Karen é uma aspirante que ainda trabalha como garçonete e não possui muita experiência, Ivy já está no mundo das produções teatrais há muito tempo, possui os mesmos atributos físicos de Marilyn e encontra no papel a chance de sair de coadjuvantes para se tornar a estrela do show.

Acompanhamos também o processo criativo dos roteiristas e criadores das músicas Julia e Tom, suas relações com a família e com o temperamental diretor Derek Will. Para completar, ainda conhecemos Eileen Rand, a produtora que está se divorciando do marido e, portanto, precisa mostrar que ainda está no topo e possui dinheiro para bancar a nova peça.

E a trilha sonora é deliciosa.

Once Upon a Time (02/04 – Sony)

Imagine os personagens dos contos de fadas sem seus finais felizes. É assim que Once Upon a Time se apresenta, mostrando que dessa vez a Rainha Má finalmente triunfou. Para ter a sua felicidade, ela enviou todas as pessoas do mundo encantado para Storybrook, uma pequena cidade de Maine. Branca de Neve agora é uma professora primária chamada Mary e o Príncipe Encantado está em coma, preso a uma cama de hospital.

Porém nem tudo está perdido. Antes da maldição se abater nos personagens dos contos de fadas, Branca de Neve e o Príncipe Encantado conseguem salvar a própria filha, que está destinada a ajudá-los quando completar 28 anos. Emma Swan é enviada para o nosso mundo, onde é criada com órfã e nada sabe de seu passado. Entretanto, ela também acaba engravidando aos 18 anos e coloca seu próprio filho para adoção.

Seu filho Henry é criado pela Rainha Má em carne e osso, que no mundo real é a prefeita da cidade de Storybrooke, a mulher mais influente e poderosa da cidade. Mas o garoto consegue fugir e contar toda a história para Emma. Por mais que não acredite nas palavras do filho, quando o leva de volta para sua cidade, ela vê que aquele é um local nada comum; um lugar onde a mágica foi esquecida, mas ainda existe; onde personagens de contos de fadas estão vivos, sem se lembrar de quem são de verdade ou de onde vieram. Agora cabe a Emma aceitar o seu destino e lutar pela sobrevivência dos dois mundos.

PanAm (no ar na Sony)

No moderno estilo de vida da década de 1960, as viagens aéreas representam o máximo do luxo, e Pan Am é o maior nome do negócio. Os aviões são glamourosos, os pilotos são verdadeiras estrelas do rock, e as aeromoças são as mais desejadas mulheres do mundo. Além de jovens e bonitos, eles precisam ser educados, cultos, refinados e muito bem treinados para bem representar a companhia. Mas nem todo o treino pode prepará-los para as surpresas da vida.

Homeland (25/03 – FX)

Um soldado americano a quem acreditavam ter sido morto no Iraque volta depois de oito anos de seu desaparecimento. Mas, depois de sua volta para casa, surgem suspeitas a respeito de ele ser realmente um herói americano ou parte de uma célula adormecida que planeja um ataque terrorista. Claire Danes protagoniza e é uma série que tira o fôlego.

New Girl (04/04 – Fox Channel)

A série conta a história de Jess, uma garota esquisita e adorável que se vê em uma situação complicada: ela foi traída pelo namorado e precisa arrumar um novo lugar para morar. Ela acaba encontrando um apartamento no qual residem três homens solteiros: Nick, Schimidt e Coach (respectivamente um barman, um casanova e um personal trainer). 

Para ajudar a garota a se recuperar da decepção e seguir com sua vida, Jess ainda terá como companhia da modelo Cece, sua amiga de longa data. Ela é o ponto de equilíbrio de Jess, trazendo conselhos, dicas e muito jogo de cintura para amiga atrapalhada.

 Touch (25/03 - Fox)

Após perder a esposa nos ataques de 11 de setembro, ele precisa lidar sozinho com a criação de seu filho autista de 10 anos, Jake.

Entretanto, Jake possui um dom especial. Enquanto o pai vê apenas uma série de números, Jake consegue enxergar um universo inteiro de conexões, de pessoas que podem e vão “tocar” a vida uma das outras. O garoto sabe, inclusive, sobre o que vai acontecer no futuro.

Com isso, Jake traz um novo sentido para a vida de Martin, que precisa seguir estes números e encontrar pessoas por diversas razões diferentes. Para ajudá-lo, Martin encontra o professor Arthur DeWitt, um especialista em crianças com este tipo de dom. Ao mesmo tempo, o pai precisa lidar com a assistente social Clea Hopkins, responsável por avaliar a situação do pai e do filho.
..........................

Dia 1º de abril a HBO Brasil retoma a segunda temporada de Game of Thrones em estreia simultânea com a HBO americana. Se você perdeu a primeira temporada e não sabe do que se trata, confira o trailer e corra para a locadora mais próxima. O DVD da primeira temporada acabou de ser lançado.


E se você gosta de uma boa aventura com zumbis, não perca a reta final da segunda temporada de The Walking Dead na Fox. É imperdível. E você, o que anda assistindo?

terça-feira, 20 de março de 2012

QUITANDA DA VIDA 68

Telinha Cavalcanti

Hoje deu vontade de comer pudim. Mas um pudim diferente, com gosto de fim de verão - adeus, calor senegalês, não volte nunca mais, tá? E aí me deparei com esta receita de pudim de laranja. Uia. :D

Pudim de laranja

Pudim:
1 lata de leite condensado
a mesma medida de suco de laranja (pode ser o de caixinha, mas o natural é muito melhor)
3 ovos
1 colher (chá) de raspas de laranja

Calda:
1 xícara (chá) de açúcar
½ xícara (chá) de água fervente

Como fazer

Pudim: No liquidificador, bata o leite condensado, o suco de laranja, os ovos e as raspas de laranja.
Em seguida despeje na forma já coberta com a calda e cubra com papel alumínio
Leve para assar em banho-maria em forno baixo por uma hora e meia.
Depois de assado, retire do forno e deixe esfriar um pouco - assim que o pudim estiver em temperatura ambiente, pode levar para a geladeira. Deixe durante a noite e depois, pode desenformar.

Calda: Em uma panela coloque o açúcar e deixe derreter em fogo baixo. Quando estiver bem dourado, junte a água fervente e mexa com colher de pau. Deixe ferver até dissolver os torrões de açúcar que foram formados. Cubra uma forma de pudim, com furo central, com a calda.


imagem: Leandro

segunda-feira, 19 de março de 2012

A liberdade doente

Por Dade Amorim



Os convites para sites de relacionamento e chat, que chegam todo dia no e-mail da gente, em geral vêm em nome de alguém de nossa lista que pode não ser o autor da mensagem. Não são somente os vírus e spams declarados que chegam assim. Vêm em tom invasivo e falsamente descontraído, mas não passam de marketing descarado, já tão incorporado a nosso dia-a-dia que às vezes nem nos damos conta. Por que estranhos a léguas de distância estariam preocupados em nos trazer de volta amigos extraviados ou antigos colegas de escola e de trabalho? Quase sempre o mesmo pretexto para oferecer produtos supérfluos, serviços que ninguém pediu e outras mercadorias perfunctórias, esse tipo de mídia eletrônica onde piscam mil e um patrocínios de construtoras, lojas, hotéis, carros, utilidades, inutilidades, garotos(as) ou amigos de programa, que em certos casos pagam para se ofertar via internet.

Cada vez mais forças externas tentam dirigir os atos que deveriam ser de iniciativa exclusiva de cada um. Isso lembra muito
1984, de George Orwell, ou Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. Outro dia, revendo Zorba, o Grego (que filme!), e vendo os camponeses de Creta esperando a morte de Hortense para saquear sua casa, pensava na analogia entre aquela cena e a constante intrusão de empresas e pessoas que insistem em nos convencer de que o melhor para nós é o que eles querem – e eles sempre querem nos passar alguma coisa em troca de nosso dinheiro e/ou nossa submissão para fomentar seu poder.

Por conta dessa luta de interesses, que se disfarça de luta de ideias, este mundo às vezes parece um grande manicômio. O inconsciente coletivo virou um amontoado de noções sem fundamento e preconceitos distorcidos explorados por aventureiros. Diante destes, os sofistas da antiga Grécia eram seres sem malícia. Nos anos 1960 passamos por um período em que as ideologias se digladiavam e geravam debates e contendas sem fim. Agora porém as ideias e visões de mundo chegam aos pedaços, mal assimiladas e achacadas pelo mercado, pelos políticos e por aquele tipo de gente que corre atrás da fama a qualquer preço.


O lado virtuoso da comunicação em tempo real, que chega da televisão e da internet, traz em seu bojo dois vícios capazes de anular grande parte das vantagens de tanta rapidez: a informação chega muitas vezes mal elaborada e quem a recebe na outra ponta quase sempre deturpa seu sentido, por estar mal preparado ou desinformado de dados anteriores, sem os quais a notícia perde seu sentido principal. Diante disso, a mentalidade do público em geral flutua entre juízos precipitados e dúvidas sem resposta; e grande parte das pessoas desiste de entender e se acomoda na alienação, ou então assume uma atitude irracional diante dos acontecimentos.


Quem sabe ajudava reunir de novo na praça os pensadores, os artistas e o povo, como faziam os antigos gregos na ágora? Quem sabe ainda se consegue plantar em nossas cabeças a semente de uma reflexão sem compromisso com os interesses do dinheiro, do poder e da violência? A liberdade humana é um conceito pouco claro, porque, em qualquer caso, é sempre muito limitada. Mas sem essa reflexão, a liberdade de cada um de nós se reduz a miragem, palavra vazia do vocabulário politicamente correto, e só.

sábado, 17 de março de 2012

FREDZILA - O JAPÃO EM 2050 - PARTE 1

Carlos Frederico Abreu

COMO SE CONSTRÓI UM PAÍS SEM CRIANÇAS

Está no Washington Post: o baixo índice de nascimentos no Japão nas últimas décadas se tornou uma crise de governo. Comissões foram criadas para estudar medidas para reverter o quadro.

Não é brincadeira, trata-se de uma questão de sobrevivência, com implicâncias catastróficas a longo prazo. Atualmente, grande parte dos efeitos são amenizados pelo ingresso de estrangeiros, suprindo posições e cargos, mas esta solução nada garante, já que não se criam raízes, nem se preserva a cultura.
Difícil trafegar nesta via de muitas mãos, sem esbarrar com o psique, com a natureza de um povo que ainda preza a estrutura familiar, tendo como fundamento o casamento tradicional.

Hoje, as mulheres solteiras com menos de 30 anos querem construir sua independência, planejando
construir sua família após os trinta anos. As mulheres com mais de 30 anos se queixam que os homens querem substituir uma mãe por outra e acumulam tarefas e obrigações no trabalho - incompatíveis com criar filhos (sem a ajuda do marido).

Por sua vez, as empresas são relutantes em contratar ou manter mulheres com filhos, apesar das leis que proíbem esta discriminação.

Acompanhando uma tendência similar a Taiwan, Singapura e China e Coréia do Sul, o número de mulheres solteiras dobrou em 10 anos e, de acordo com estudos da saúde feminina, a fertilidade vem caindo nas últimas três décadas.

Entre as medidas adotadas pelo governo está a orientação para que as empresas de não mantenham seus funcionários homens até tarde no escritório, procurando assim, melhorar a qualidade de vida da família e, conseqüentemente, aumentar o número de bebês.

Para piorar a situação, culturalmente a mulher japonesa tende a largar o trabalho com o nascimento do primeiro filho e não consegue retornar anos depois.

Um japonês trabalha em média 60 horas por semana e apenas 0,5% se utiliza da lei que garante o descanso com a família. Na Suécia o número é de 17%.

Dentro do trabalho, os homens permitem que as mulheres se expressem, desde que não tenham que obedecê-la. Outra pesquisa diz que os homens divorciados voltam a casar em menos de 2 anos, enquanto as mulheres divorciadas raramente o fazem.


Ainda assim, os casamentos continuam populares: somente 4% das mulheres com mais de 45 anos nunca se casaram. Mais raro ainda são aquelas que tiveram filhos sem estarem casadas, menos de 2% de todos os nascimentos. Mães solteiras ainda são um tabu, assim como casais vivendo juntos sem estarem casados e também a adoção por solteiras.

A adoção não é uma opção para casais sem filhos, por questão de laços sanguíneos, perpetuação do nome de família, etc.

Apesar do seriado Sex and the City fazer grande sucesso no Japão, a iniciativa romântica por parte das mulheres é bastante mal vista pela sociedade.

sexta-feira, 16 de março de 2012

PARA QUEM O TEMPO PASSA: TU, ELES E PARA MIM; SÓ?

Esther Lucio Bittencourt

Amiga que mora no sul do país, recentemente abriu umas caixas de papelão, guardadas há muito tempo, pertencentes ao seu ex-marido. No fundo de uma caixa pequena, "como se fosse uma jóia" diz ela, encontrou um recorte amarelado de jornal com a oração abaixo. 'Ela foi publicada no jornal do brasil, há muito tempo, provavelmente no final dos anos 70, na coluna de dom lucas moreira neves". Esta amiga é cristã. Hoje participa de comunidades de base.

Lembrei deste email que ela me enviou após ter ouvido por uma entrevistada no programa de Marília Gabriela que a meia idade começa aos 40, 45 anos. A moça havia escrito um livro sobre gerontologia.

Marília Gabriela replicou que poucos vivem 95, 100 anos. A meia idade, começa aos 30 anos, no máximo 35, para acompanhar a perspectiva de vida em nosso país.

Outra coisa veio á mente; um filme com Meryl Streep e Shirley MacLaine: "Postcards from the edges" que no brasil recebeu o título de "lembranças de holywood". Um filme real, feito a partir do livro de Carrie Fisher que foi a princesa Léa, no primeiro "guerra nas estrelas" de George Lucas. No livro e no filme ela conta sobre seu relacionamento dela com a mãe, Debie Reiynolds que perdeu o marido, Eddie Fisher para Elizabeth Taylor e nunca se recuperou do tombo, segundo a filha.Carrie-Fisher-1.jpg
Carrie Fisher

No dito filme, em determinado momento, Meryl Streep, que faz o papel de Carrie Fisher grita para a mãe, Shirley MacLaine, que faz o papel de debbie reynolds, que estrelou também o filme "Singing in the Rain"de Gene Kelly, uma senhora já, sem sombrancelhas, com cabelo ralo, que ela não estava na meia idade, "aos 70 nunca é meia idade, mamãe! ninguém vive 140 anos. "debbie.jpg
Debbie Reynolds

De fofoca em fofoca estamos plenas/os. vamos à oração:



Estou envelhecendo

Senhor,
sabes melhor do que eu que estou envelhecendo,
e que, mais dia menos dia, farei parte do grupo dos velhos.

Guarda-me daquela mania fatal
de acreditar que é meu dever dizer algo a respeito de tudo
e em qualquer ocasião.

Livra-me do desejo obsessivo
de pôr ordem nos negócios dos outros.
Torna-me refletida, mas não ranzinza,
serviçal mas não autoritária.
Acho uma pena não utilizar toda a imensa reserva de sapiência que acumulei

por longos anos,
mas sabes bem, Senhor...
faço questão de conservar alguns amigos.

Segura-me quando eu começar a desfiar detalhes que não acabam mais,
dá-me asas para ir direto ao fim.
Sela meus lábios acerca de minhas mazelas e doenças,
embora essas aumentem sem cessar,
e, com o passar dos anos,
me dê certo prazer enumerá-las.

Não me atrevo a pedir-te
que eu chegue até a gostar de ouvir os outros
quando desenrolam a ladainha dos próprios sofrimentos.
Não me atrevo a reclamar uma memória melhor,
dá-me porém uma crescente humildade
e menos suscetibilidade,
quando a minha memória esbarrar na dos outros.
Ensina-me a gloriosa lição
de que pode até acontecer que me engane...

Toma conta de mim.
Não é que eu tenha vontade de ficar santa
(com alguns santos é tão difícil conviver!)
mas um velho, além de velho, amargo,
é com certeza uma das supremas invenções do diabo.

Faze-me capaz de ver algo de bom
onde menos se espera,
e de reconhecer talentos,
em gente na qual estes não se percebem.
E dá me a graça de proclamá-lo.
Amém.


debbie canta tammy


debbie e gene kelly em "you were meant for me"


shirley maclaine canta "i'm still here" no filme em que interpreta debbie
shirley maclaine canta "I'm still here" no filme em que interpreta debbie


meryl streep canta "you don't know me"


maryl carrie fisher streep, quando inicia carreira de cantora country no filme e canta "i'm checking out" de carly simon


betty midler, olivia newton-john, meryl streep, cher, esqueci o nome da atriz que fez a "morte lhe cai bem" ,"death becomes her" comédia de robert zemekis, lembrei: goldie hawn ( nunca ri tanto) cantando what a wonderful world. só porque desejei postar isto que nada tem a ver com as lembranças anteriores.

Ufa, que fôlego! Mas para fofocas portanto, não basta um dia, talvez sequer uma vida .

quinta-feira, 15 de março de 2012

DIÁRIO DE UMA ADOLESCENTE. NOSTALGIA ESCRITA.

Por Bianca Monteiro



Pela minha idade, parece ser até irônico fazer essa afirmação, mas meu sentimento mais frequente é a nostalgia. Uma saudade, ainda mais de coisas que não vivi. E que não pode ser satisfeita nunca. Um vazio que cada vez mais deseja se alimentar de outras lembranças, mas que não pode ser preenchido. Talvez por imaginar demais, idealizar, criar expectativas, sonhar... E essa parte já é coisa do signo, também. Daí, é claro, virão intermináveis "e você acredita nisso?????". SIM. Até quando olho tarde demais (de fontes confiáveis, claro), o que aconteceu está escrito na íntegra. É impressionante. Piscianos... Pff. Sempre assim, meio místicos.

É devido também à minha memória fotográfica, que adoro, mas infelizmente é terrível em algumas horas, ainda mais nas de querer esquecer. Dá a ilusão de que a cada vez que pisco os olhos guardo a imagem vista. Então, acaba sendo em vão tentar esquecer qualquer coisa, posso nem mais me importar com o fato ou pessoa, mas o que eu vi, nunca será apagado... Uma verdadeira tortura. Essa mania de reviver fatos mentalmente todos os dias, todas as horas.

Pra piorar a situação, tenho a mania de anotar aleatoriedades do dia a dia, como bordões novos, piadas internas, ou aquelas pérolas que sempre renderão boas risadas. Não vou nem até a cozinha sem meus inseparáveis caderninhos que troco de quando em quando, já que eles infelizmente acabam. Medo de esquecer? Eu diria que é uma certeza de que o acervo mental não é eterno, não só pela constante renovação das lembranças, mas também, porque principalmente não devemos esquecer que um dia o cérebro irá embora, levando tudo o que já foi guardado junto a ele... Tudo bem, eu admito, acho que é medo. De não deixar meu legado, perder a chance de deixar minhas ideias materializadas e permanentes de alguma forma. De, com o tempo, parar de pensar naquilo que um dia julguei essencial.
 
Ando me preocupando demais em aproveitar meu tempo da maneira adequada. Mas esse pensamento mesmo já foi um desperdício do tempo que eu podia ter usado fazendo algo útil. Então, acabo escrevendo, de novo. Diálogos, sentimentos, pensamentos desconexos, ideias para dominar o mundo ou apenas para desenvolver um texto depois (por mais que dê no mesmo). Invenção e realidade se misturam. Às vezes geram bons relatos ou textos ficcionais. Ao menos, quando alguns são publicados, tenho a sensação de que o mundo fora do caderninho passa a entender o que se passa aqui como se nunca tivesse sido meu, mas sim, algo comum. A subjetividade me encanta. Pois dependendo do uso das palavras, podem servir para várias situações diferentes... Mas, mais uma vez me deparo com o problema: não tenho ciência do significado que aquilo pode tomar depois, assim, registrando essas memórias que na hora parecem tão importantes e logo depois se tornam indesejáveis. Frequentemente revividas. E impossíveis de esquecer, já que eu mesma me certifiquei que não faria isso. Incômodo, é como sabotar a si mesmo. Ainda pior que esse vício de reticências, de saber que não acaba por aí e que novas lembranças virão... Ah, escrever. Hábito tão prejudicial que me salvou a vida tantas vezes.

quarta-feira, 14 de março de 2012

LANTERNA MÁGICA - O FILME DO ANG LEE

por Egídio La Pasta, Jr


Eu uso boa parte do meu tempo assistindo filmes. Eu tenho uma locadora de dvd’s que completou dezoito anos recentemente. Passamos do VHS para o DVD e agora aos poucos e com muita calma, abrimos espaço para o blu-ray, que melhora muito a qualidade da imagem e especialmente a do som. No meu apartamento é comum caixas de filmes pelas estantes, coleções arrumadas de acordo com algum critério que escolhi e dvd’s sempre à espera de um tempo para arrumá-los. Na verdade eu gosto dessa confusão porque sempre recorro aos filmes em algum momento por infinitos motivos.

Tudo isso para dizer que essa semana eu revi O Segredo de Brokeback Mountain em blu-ray. Eu assisti esse filme no Festival do Rio de 2005, numa única sessão disputadíssima, já que o filme foi encaixado de última hora na grade do festival e abriram apenas uma sessão de meia-noite no Cine Odeon. E lembro também de sair daquela sessão sob o impacto daquela história, sem sono algum, quase três horas da manhã, caminhando pela Cinelândia. Eu gosto de escrever à partir dos filmes que assisto. É uma brincadeira que às vezes é óbvia e outras vezes, o significado só existe para o destinatário. Na época, eu tinha um outro blog, Filmes GLS ou Quase e fiz um texto ao chegar em casa, que vou reproduzir na coluna hoje.

Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2005.

Existe algo de fascinante no filme do Ang Lee que continua em movimento mesmo após o final. Ele não só narra a história de amor entre dois cowboys, como também desperta a sensação de incapacidade – sensação essa irreversível – que todo ser humano descobre quando não consegue conciliar a sua grande paixão com a vida real. Quando o espaço entre os dois universos parece não caber, quando o ajuste não confere, quando as razões infinitas parecem definitivas. E o amor correspondido, amém, por uma série de detalhes, não pode se adaptar ao universo do um mais um. O amor entre dois homens, nos dias de hoje, ainda enfrenta olhares atenciosos. Ainda desperta a ironia. Gera violência. Machuca. Em outros tempos, com sublinhada gravidade, a vida a dois era um sonho impossível. Um delírio de quem ama e esquece as grandes grades do mundo.  O filme de Ang Lee se apoia na história de dois homens que descobriram no acaso, o amor. No interior dos Estados Unidos. Vaqueiros. Década de sessenta. E de como esse amor os enalteceu com o passar do tempo. De como esse amor os jogou na vida. Fortaleceu os corações solitários, coloriu as vidas monótonas, deu sentido ao que parecia sem formato, definição. 

O filme do Ang Lee fala de amor. E foge da armadilha do óbvio com muita elegância. Tem bunda, tem beijo, tem barba, tem peito cabeludo, tem bebida, tem cigarro, tem briga feia, tem lua no céu. E tem a delicadeza de um diretor que consegue filmar a fúria da descoberta do desejo. Cuidadoso e com muito respeito pela história que tem nas mãos, Ang Lee me deu uma rasteira. Porque ele não provoca lágrimas nem sobe a música para te forçar uma sensação. Ele deixa que o filme aconteça, que a história seja contada naturalmente, sem armadilhas. 

E é justamente aí que você entra. E é justamente em você que eu pensei quando saí do cinema, seco por um telefonema, ansioso pelo momento de te contar do filme, de tudo o que ele me despertou, do quanto fica fácil de nos compreender e nos situar porque histórias de amor refletem também os nossos amores. O filme do Ang Lee move o querer. Ele coloca em movimento o amor.  Consciente dos riscos, das feridas, da beleza, da paixão viva, da carne exposta. Um filme de silêncios e sentimentos que só entende quem ama, amou ou vai amar alguém. Eu saí de lá com o pensamento na tua direção Sem saber muito bem o que dizer, mas era você, eu sabia que era para você que eu deveria me dirigir. Porque cada um sabe as suas direções. E é para lá que a gente corre quando o coração aperta em alegria ou dor.

Eu amo você e estou sempre em busca de novas temporadas com velhos personagens, em busca de novos personagens para.novas temporadas. Em busca, enfim.

É curioso reler e é curioso também que o mesmo filme, me cause a mesma sensação anos após, numa segunda revisão.