De como Garcia-Roza ganhou o mundo
Por Dade Amorim
Por Dade Amorim
Ouvi Luiz Alfredo Garcia-Roza falar sobre seu trabalho, seu processo criativo, as etapas enfim que é preciso cumprir para trazer à luz mais um livro, além de curiosidades, tietagens e alguma aleivosia nas infalíveis perguntas que sempre querem saber mais do que estão perguntando. Autor de seis romances policiais, Garcia-Roza está preparando o sétimo. Os seis foram sucessos, a começar do primeiro, O silêncio da chuva, ganhador de dois importantes prêmios literários, o Jabuti e o Nestlé. Um belo começo de carreira para um autor tardio, que começou a escrever ficção aos 60, depois de uma carreira acadêmica respeitada nas áreas de filosofia e teoria psicanalítica, cadeira que ele criou na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Vieram depois Uma janela para Copacabana, Vento Sudoeste, Achados e perdidos, Perseguido, Berenice procura e Céu de origamis. Exceto o penúltimo, todos trazem a figura de Espinosa, um detetive que é um charme, uma figura idealizada de policial. Sugiro que o personagem seja uma projeção do eu ideal do próprio autor, o que para efeito lítero-fofoqueiro tem lá seus encantos. Outra estrela onipresente nos romances desse eminente professor é Copacabana, onde ele foi criado e morou toda sua vida. Garcia escreve em um escritório no centro do Rio, de onde avista a baía de Guanabara, e em cuja parede maior está estendido um mapa de seu bairro predileto com todos os detalhes que aparentemente guiam sua criação literária, incluindo o subsolo e seus meandros. Além do submundo que ele traz quase sempre à ação.
Pessoalmente, gostei mais de O silêncio da chuva, que me parece o mais lírico de todos, e de Achados e perdidos que, roteirizado e filmado, ficou muito bom de ver. Livro e filme têm figuras menos esquematizadas que algumas das histórias de Roza, gente de carne, osso e sangue.
Além de best-sellers no Brasil, os livros do professor têm sido traduzidos mundo afora. Um rapazinho da platéia perguntou, sem cerimônia, se o fato de ter um nome conhecido e ser autor de muitos trabalhos em sua área acadêmica não teria ajudado a convencer Luís Schwarcz, dono da Companhia das Letras, a publicar seu primeiro livro sem qualquer hesitação. A resposta veio pronta e taxativa: “absolutamente”.
Perguntado sobre o porquê da escolha do gênero, ele responde que prefere profissões que lidem com a suspeita, como é o caso da psicanálise e da investigação criminal. Mas sobre seu método de trabalho – que ele garante ser nenhum, embora haja um exagero nisso – e sobre a famosa “necessidade de escrever” que a maioria dos autores declara, ele reitera a resposta dada na Flip: começa a escrever a partir de qualquer acontecimento trivial e vai construindo sua história sem saber aonde chegará. E se tiver que escolher entre ler ou escrever como opção exclusiva, escolherá ler. Porque, segundo ele, ainda leu muito pouco da ficção disponível neste mundo, e se não puder escrever, a leitura será suficiente.