"né possível. encontro uma stella cavalcanti, homônima, que escreve a coluna de cinema para o site barão em revista, da cidade de barão geraldo, interior de são paulo.
hahaha. geraldo era o nome do meu pai."
"Depois veio o Blog do Meu Pai onde falo sobre meu pai, sobre a vida da gente, sobre a falta que ele me faz. Comecei a escrever porque percebi que estava me esquecendo dele, dos detalhes, do seu jeito. E aí, escrevendo, entrei em contato com muita gente que também passou pela perda de pessoas amadas... mas o blog não é sobre luto, é sobre vida."
"Theca, eu comecei com o blog "Quarto da Telinha", no Desembucha, e explicava o nome: quando minhas sobrinhas eram pequenas, elas sempre corriam pro meu quarto para brincar. E o blog é assim, é onde a gente brinca, né? Com o tempo, mudou para "Telinha e seus Gatinhos" sempre no www.telinha.blogspot.com. E este ano eu completo dez anos de blog, sou praticamente um dinossauro :) Já vi casais se formarem e se separarem, bebês nascerem, mudanças de país, intrigas absurdas, preparativos de casamentos, participei da dor da morte de amigos, acompanhei e fui protagonista de histórias.
Só depois de muitos anos é que o Blog dos Bolinhos apareceu... eu tinha uma receita de bolo que sempre fazia para os amigos e que todo mundo gostava. Um dia, Amado Marido sugeriu que eu fizesse um curso, e aí uma coisa levou a outra, e eu acabei fazendo o blog dos cupcakes, pois tinha vergonha de vender para os amigos, mas pela internet era outra coisa. E foram os amigos, claro, que começaram a comprar e deram a partida nesta história. - e melhor fazedora de bolinhos do mundo é pura delicadeza sua, que me ama :) A receita é simples, o bolo é caseiro, não tenho a menor intenção de ser gourmet. É muito engraçado descobrir uma vocação a esta altura da vida, eu, que nunca fui boa em artesanato. Mas fazer cupcakes é fazer parte de um momento feliz na vida de quem encomenda. Acho que já falei isso... é muito bom fazer parte da felicidade dos outros, eu posso ficar muito cansada nas encomendas grandes, mas é sempre um cansaço bom.
Através do blog conheci muita gente, e as amizades, como eu disse, saíram pro lado de cá da tela. Um exemplo é o casal Alessandra Picoli e Marcos Farias que começaram como amigos-de-blog e hoje são amigos, simplesmente. Eles até adotaram um dos filhotes da minha gata Bijoux, e com isso meio que nos tornamos do mesmo clã, quando eles viajam eu vou cuidar das gatinhas deles, quando eu viajo eles também vêm aqui.
A gente, no comecinho da década passada, era uma panelinha. Agora, em 2011, a panela abrange praticamente o mundo inteiro. A força das redes sociais se confirma a cada dia, e estabelece novos parâmetros não só nas relações interpessoais mas também nas relações de consumidor/empresas e de fãs/ídolos.
Através dos blogs que escrevo eu conheci você, faço parte do Primeira Fonte, tenho uma coluna sobre confeitagem no Oba! Gastronomia e já saí até no jornal ensinando a fazer cupcakes.
Esther, pelamor, este texto já tá virando o novo testamento, de tão grande."
E ELA AINDA NÃO VIU NADA.............
A correspondência de hoje é antiga, quase como a vida. Sabe quando dizem que às vezes, ao se conhecer uma pessoa, parece que não é de hoje? Sem isto de vidas passadas... mas é como se fizéssemos parte da mesma energia? Pois foi isto que sempre senti ao ver o nome de Tela Maria, chamada por muitos de mãozinhas de fada,por seus maravilhosos cupcakes e as receitas que nos oferece em quitanda da vida, além das curas propiciadas pelas palavras oportunas que amparam nossos maus momentos.
Lembro da Telinha, pela primeira vez, no Internetc da Cora Rónai. Você comentava postagens dela. Sempre oportuna e inteligente. Depois a vi no blog do Lucas Landau, numa conversa comprida com o jovem. Também no Fotolog, falando sobre as fotos da Cristina Cacarriconde. E pensava; gostaria de que esta menina fosse minha amiga.
Hoje, o som de nossa voz se conhece. A amizade não é apenas virtual, mas também sonora, pois até para cantar para ela já telefonei. E canto sempre, na intenção com que os aborígines australianos falam que vão cantar para alguém: de acompanhamento e desejos positivos.
Sempre me perguntei o que, além do amor e da profissão, poderiam ter afastado esta moça de um Brasil mais rico culturalmente, como as terras do Nordeste, plenas de tradições e raízes e a trazido para o chamado sul maravilha, onde o mar varre das areias, a cada segundo, sem deixar vestígios as marcas de nossa formação cultural. Sim, o Estado do Rio, já foi um dia, como se costuma dizer, um celeiro de cultura, mas há muitos anos que se desvanece os restos de alguma tradição de conhecimento.
Telinha tem outra característica importante: a solidariedade. Ama gatos, ama a vida e se compromete em ser feliz junto com o outro. Deixa contar: ela vai sussurrar para nós a magia de sua cultura e conhecimento.
E eu agradeço ser sua amiga.
Esther já começa me deixando emocionada, me deixando sem jeito, olhando pros pés. Eu sou uma matuta de Catende, dona Esther, faça isso comigo não.
Começando do começo: eu, a filha mais nova de Geraldo e Helena. A pontinha da rama, a que nasceu quando ninguém esperava, a enxerida, a diferente. A irmã mais próxima tinha 11 anos, a mais velha tinha 17. E eu cheguei, me chamaram, eu vim.
A vida seguiu sem muitos percalços até meus 16, 17 anos, quando deu-se a tragédia na nossa família: papai sofreu um AVC que o derrubou aos 60 anos – e ficou 5 anos em coma vigil. Nesse coma a pessoa dorme e acorda, mas não está mais lá. E ele, que era o sol em torno do qual nossa família orbitava, virou o ser frágil que passamos a proteger. Foram anos de medo, de ambulâncias, de enfermeiros, fisioterapeutas, grana curta. E, quando ele morreu, meu sentimento já nem foi de perda, pois eu já havia perdido meu pai; foi de alívio. Ele descansou. Nós também descansaríamos.
Daí, a tragédia deu meia-volta e voltou: mamãe adoeceu seriamente, devido aos anos de medo, tensão e responsabilidade sobre seus ombros. E nunca mais foi a mesma. Agora, aos 80 anos, é uma velhinha fragilizada, uma porcelana casca-de-ovo que precisa de muita delicadeza no trato – e que esconde, dentro de si, a férrea dignidade dos nordestinos. Esta alagoana miúda era capaz de derrubar as muralhas de Jericó apenas com sua vontade.
Diante desse contexto todo, sobrevivi. Sobrevivi às doenças, às noites mal dormidas, ao medo, ao desconsolo, à solidão. Sim, à imensa solidão de chorar atrás da porta do quarto fechada, pois eu e mamãe acabamos crendo naquela história de ser forte. “Seja forte por sua mãe, não chore na frente dela”. Pois sim! Hoje em dia eu acredito que a gente tem que chorar e dar colo – e se for ao mesmo tempo, paciência. Sofrer sozinho é o pior dos sofrimentos. Principalmente quando a gente acredita que está fazendo o certo.
Desses anos difícieis, não dei de beber, não perdi meu eixo, não saí louca e nua pela rua arrancando os cabelos. Fui para a escola, passei de ano, passei no vestibular. Quase no fim da faculdade, papai morreu. E eu não fiz Direito, que era sua grande paixão – papai era promotor e acreditava piamente que todo mundo tinha que fazer Direito – “Uma grande árvore de galhos abrangentes, minha filha. Você não precisa ser promotora.” Fui fazer publicidade: gostava de ler, escrever, não queria fazer Letras, e Publicidade não tinha Geografia na segunda fase do vestibular.
Chegando na faculdade é que vi que o buraco é mais embaixo, e, apesar de formada e tendo trabalhado como redatora na extinta Rádio Cidade de Recife, nunca me estabeleci bem na profissão. Não sou talhada para Publicidade, me falta algo. Ou algos.
Então, um belo dia, começou a passar uma série na TV Globo. Twin Peaks. Lembram? “Quem matou Laura Palmer?” Pois é. Eu adorava. Adorava a série, seu clima quase onírico, o agente do FBI Dale Cooper. E não tinha com quem conversar, quase ninguém mais assistia na minha turma. E, um dia, no departamento de jornalismo da Rádio, vi um anúncio no caderno jovem do Globo: Cláudio, o Desesperado, queria conversar com quem gostasse de Twin Peaks. Ora, como resistir? Cartas foram, cartas voltaram, um dia o Cláudio disse “Tenho um amigo que é a tua cara, posso mandar uma carta dele para você?” “Pode”.
Resumindo a ópera: eu e o amigo do Cláudio fizemos 12 anos de casados este março.
Depois de dois anos trocando cartas e telefonemas, viajando para lá e para cá, ele disse “vem” e eu fui. Eu vim. Saltei quase no escuro, Esther. E posso dizer que foi a coisa mais acertada que fiz. E fiz com medo, e fiz procurando saídas de emergência, e fiz porque se não fizesse ia me arrepender o resto da vida. E fiz, e vim, e sou feliz.
A solidariedade aprendi no berço, amor aos animais também: tivemos saguis, cachorros, um ou outro gato que aparecia em casa, eu dava comida, ele se fartava e depois seguia seu rumo. A necessidade de ter livros em casa – não só pela profissão, papai era promotor, tinha estantes cheias com livros de Direito – mas pelo prazer da leitura. Herdei do meu pai a teimosia, herdei da minha mãe a resiliência. Não herdei urgências: aprendi que tudo tem seu tempo, aprendi que, querendo ou não, a vida arrasta a gente pra frente. E que a gente não escolhe ser forte: precisa ser.
Sou boba, sou ingênua, já levei muita rasteira, aprendo ou não aprendo, me levanto, guardo mágoas, faço besteira. Faço meus cupcakes, participo da felicidade dos outros, levo um pedaço da felicidade comigo. E é assim que eu sigo, quarenta voltas em torno do sol. Dá a sua mão, Esther, vamos cirandar.
Esther - Diz a Denise Schittine, em seu livro Blog: comunicação e escrita íntima na internet, que blog ..." É um exibicionismo tímido, mas que, no fundo, tem o objetivo de tornar público mais do que a vida, idéias privadas que nunca teriam difusão ou platéia que não por meio da internet. Esprimir-se com liberdade e para o público, tentar convencê-lo e seduzí-lo são benefício que o diário tradicional não podia proporcionar diretamente ao seu autor. Quando de apresentou essa possibilidade de um público desconhecido, o autor começou a selecionar o que escrever de íntimo e de não íntimo, o que mostrar para o público e o que guardar em seu " jardim privado".
Sabe, Stella, discordo um pouco desta nuance de que somente os blogs, etc.... seria esquecer os livros, as cartas de Madame de Sevigné, a correspondência do próprio Joyce com a esposa, devidamente publicadas e, mais picante e pessoal seria impossível.
Stella - Quanto ao livro de papel, Esther, ele nunca vai sumir. Nunca. Não há nada que o substitua, mas há tecnologias que convivem com ele. Arquivos dão pau, equipamentos quebram, falta energia, acaba a bateria. Livros, como objetos, são extremamente simples :)
O livro da Denise foi escrito no começo do fenômeno dos blogs, e esses quase dez anos fazem muita diferença. O que era novo, na época, se consolidou, cresceu e se diferenciou: há blogs, twitter, facebook, flickr, tumblr, orkut, Tebas tem mil portas e todas estão abertas. Eu mesma participei do livro através de uma pesquisa no blog da Marina W - que se chamava BloWg, na época. Preenchi um questionário movida pela minha curiosidade, e de repente tou lá, citada algumas vezes: "O blog funciona como aquela rodinha de amigas e amigos onde todo mundo conversa, fala besteiras, dá risada e tem seus momentos de reflexão. Não o chamaria de terapia de grupo porque é informal, é como se estivéssemos numa mesa de bar tomando chope ou fôssemos apenas um grupo se reunindo em casa para ver um filme e comer pipoca." E era assim. E, sobre escrever blog e diário ao mesmo tempo "Escrevo porque gosto de escrever. E escrevo blog porque gosto de ser lida".
"Então. Eu vim pro Rio, quando casei com Amado Marido, em 99, mas só comecei o blog em 2001. Li nos jornais sobre os blogs e sobre o portal em português Desembucha. Lembro de uma reportagem falando da Cora, da Meg, da Ana Maria Gonçalves (que tinha o blog Udigrudi) e da Nádia Lapa, que tinha o blog A Winnie que não é a Cooper. Então resolvi começar a escrever. Quando o portal não suportava mais a quantidade de blogs - porque todo mundo foi para lá - a Cora avisou que eram os últimos dias de Pompéia, que todo mundo precisava sair do Desembucha antes que ele entrasse em colapso e levasse nossos arquivos junto. Então, por sugestão dela, mudei pro Blogger e estou lá desde sempre.
Isso não quer dizer que eu fosse amiga da Cora - eu lia o blog dela e aprendia.
Então comecei a conhecer gente, a ler blog, o mundo era bem menorzinho naquele tempo. Fiz amigos que vieram pro lado de cá da tela, apareceu o fotolog. Amado Marido não ajudou porque não entendia direito o que era blog, na terapia minha psicóloga ficou horrorizada com a exposição da minha figura na medina. Quem era de fora não entendia, eu explicava: blog não é diário, é mural.
E teve uma coisa engraçada, que foi quando eu e a Cecília, que tinha o blog Nada, Não, nos conhecemos. Era na época que nos mudamos do Humaitá para a Tijuca e eu disse no blog que estava fazendo o jogo do fica-dá-joga fora com as coisas da casa; a Cecília sugeriu que eu doasse coisas para a Suipa e marcou de passar lá em casa para fazermos a doação. A mãe da Cecília não gostou: disse que na internet todo mundo mente, e se eu era uma mulher com gatos, era óbvio que eu era um homem tarado. Bom, a Cecília apostou, passou lá em casa e somos amigas até hoje.
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ONDE ESTÁ A TELINHA? |
As amizades feitas através do blog não são virtuais. São tão intensas quanto as amizades do lado de cá, e estão sujeitas, claro, à ascenção, apogeu e fim. Já tive amizades que se desvanesceram, tanto do lado de cá quanto do lado de lá da tela do computador. E é assim mesmo, e precisa ser assim mesmo, com leveza. As pessoas se juntam por um ponto em comum, depois se afastam: é como dançar uma ciranda :)"