sábado, 11 de junho de 2011

84, CHARING CROSS. AS DIFERENTES VIAGENS

Por Ana Laura Diniz

Céu avermelhado de inverno
Foto: Elisabete Pires / Olhares / Google
Lembro como se fosse hoje. Tinha seis anos de idade quando, para atravessar a rua, minha mãe pediu que eu desse a mão para ele. Era o Douglas, meu amigo de escola. Ele obedeceu prontamente, e para a minha felicidade e espanto, o meu coração disparou como nunca antes. Era amor. Ao menos, claro, aquilo que conhecia como sendo amor.

Oficialmente, acho, foi o meu primeiro namorado. Rá, código estabelecido - repito - pelo sinto ato de dar as mãos. Nenhum selo, nenhum beijo, nenhum nada. Tempos outros.

Morávamos em Vitória, no Espírito Santo, nessa época. E essa viria a ser a minha primeira viagem ao mundo. Porque é incrível as voltas que o mundo dá quando a gente ama, apaixona, sei lá. Tudo ao mesmo tempo ou nada disso. E a gente viaja sem sair mesmo do lugar.

Mas como tudo, a vida seguiu. Ela sempre segue. As viagens - outras - vem e vão, acontecem quando a gente menos imagina. E tanta coisa mudou. Douglas, veja só, nem mais existe. Tão novo se foi com a família inteira num trágico acidente de carro no ano passado ou retrasado. Perdi a medida do tempo. Sei que unidos eram, unidos foram. E não houve adeus. Nunca mais havíamos nos falado antes mesmo, já pré-adolescente, de me mudar de Vitória. A volta pra São Paulo na época somada a escolas diferentes ainda em Vitória nos distanciou. E quando soube do paradeiro dele, ensaiei o primeiro contato... mas o paradeiro dele foi mais rápido. Viagem rumo ao desconhecido. 

E como quem andasse pela 84, Charing Cross, maravilhada pela beleza de Londres, se hoje eu amo não é simplesmente pela sensibilidade, inteligência, sabedoria, perspicácia, beleza interior e exterior do ser amado. Mas também pela viagem em si - o cotidiano que não se acostuma com a paisagem, sabe?  Essas viagens transcendentais e ao mesmo tempo reais que nos foca, mas continua nos fazendo rodar o mundo sem sair do lugar? E quando sai, é pra ver o lindo pôr-do-sol avermelhado do inverno que anuncia, mas não chega.

84, Charing Cross é tudo isso e muito mais. Olhar admirado para a vida e para o amor que não cansa e não cessa de se manifestar na vida de todos. É inclusive amor próprio, sem o qual torna-se impossível a entrega a outrem. É um despojar, um andar descalço nas calçadas... um banho de chuva... encharcar e ser encharcado por sensações múltiplas... e saber estar vivo por todas e mais maravilhas... as faladas e principalmente as silenciadas. É ou não a verdadeira viagem das nossas vidas, enfim... essa? 

Em todas as 84, Charing Cross do mundo, amor, felicidade e prosperidade - sempre.

P.S.: Eu sei que houve uma quebra. Mas Ana Paula volta com a segunda parte da visita ao Museu do Prado na semana que vem. De forma rápida e prática, hoje, a viagem foi outra. E não passou pela Espanha, Rússia ou Itália. Ela retornou anos-luz a um tempo de delicadeza até os meus dias de hoje... que insistem em ser assim. Poderia ser uma espécie de Senhora do Tempo... Mas foi 84, Charing Cross... porque o sentimento é universal... é do mundo!


Já falou EU TE AMO hoje?
Eu te amo.

FELIZ DIA DOS NAMORADOS A TODOS QUE AMAM. 
A SI MESMOS E, POR VENTURA, A OUTREM.
[e que todo dia seja dia para brindar e ser feliz].