segunda-feira, 27 de junho de 2011

COLUNISTAS DA BANDNEWS FALAM SOBRE TEXTOS DE VERA GUIMARÃES NO PF

É o seguinte: recebemos email da Vera Guimarães que nos conta que sua filha Laura, que mantinha o blog motherncom Juliana Sampaio, que depois virou livro e uma série da GNT - e hoje, "a Laura, minha filha, alterna com a Juliana Sampaio, companheira dela no Mothern, uma coluna na rádio BANDNEWS BH", disse Vera, e nos passou o texto: depois vocês poderão acessar o link abaixo para ouvir o que a Laura Guimarães falou sobre a mãe, Vera. Aqui, o texto: "Há quase dez anos, quando nossas filhas ainda eram bem pequenas, Juliana Sampaio e eu criamos um blog para falar da vida de mãe. Foi muito bacana compartilhar a experiência da maternidade com várias outras mulheres, interessadas no mesmo assunto. O tema das conversas era, quase sempre, bebês e crianças. Meu filho comeu isso, minha filha fez aquilo. E todas as mães eram, quase sempre, muuuito corujas.

JULIANA LAURA
Laura Guimarães Corrêa e Juliana Sampaio
Foto: Rádio Band News BH 89,5
Mas hoje é dia de corujice ao contrário. É que, há alguns meses, minha mãe, Vera Guimarães, começou a escrever crônicas deliciosas num jornal online chamado primeira fonte. Num tom memorialista, mas não muito saudosista, ela escreve na coluna Senhora do Tempo sobre costuras, sobre comidas, sobre armazéns, sobre trens, sobre rádios, sobre museus, sobre o grupo escolar onde estudou, sobre a cidade em que nasceu. Os textos falam não só das suas lembranças, mas de um tempo, de um lugar e de modos de viver que vão mudando. Assim, no meio dessas crônicas, lendo sobre o passado, a gente aprende sobre história, economia, cultura, costumes.

Além dessas crônicas, ela ainda escreve na coluna 84, Charing Cross, sobre sentidos, impressões e reflexões sobre os lugares por onde anda hoje em dia.

Ela mora em outra cidade e eu, daqui, acho um privilégio ler dessa mulher aquilo que ela não teve tempo de me contar, nem eu tenho tido muito tempo pra ouvir. Eu sei que sou suspeita e coruja, mas mesmo assim recomendo a visita à dona Vera no primeira fonte ponto blogspot ponto com.

Eu sou Laura Guimarães Corrêa e você ouviu Tempos Modernos."

Ouça aqui:

E depois, disto só nos cabe recordar um Senhora do Tempo já postado para que possam, com a Laura e com todos nós, dizer Amém! ao texto da Vera Guimarães.


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Breve observação: Caro(a) leitor(a), caso queira ler todas as colunas, escreva no campo de pesquisa no lado esquerdo do jornal, no alto da página o nome de Vera Guimarães. Ou o nome das seções: Senhora do Tempo e/ou 84, Charing Cross. E boa viagem!


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SENHORA DO TEMPO. COSTUREIRAS E ARMARINHOS


Por Vera Guimarães

Lana Lobell Catalog - Summer 1964
Catálogo de Verão 1964
Imagem: Flickr
Instigada pela amiga Fal, comecei a pensar no assunto: como nos vestíamos em 1940, 1950, 1960?

No interior de Minas, onde eu vivi até meus 18 anos, completados em 1960, não existia roupa pronta para comprar. Nossas roupas eram feitas sob medida, por alguém de casa ou por costureiras, moças e senhoras habilidosas que viviam de transformar tecidos e linhas em nossos sonhos e desejos.  No meu caso, minha irmã mais velha, que já se foi deste mundo, era costureira profissional e também fazia nossas roupas, até ela se casar.

No geral, as costureiras faziam todo tipo de vestimenta, mas algumas se dedicavam a alguma especialidade: havia as que faziam roupa de festa, havia as camiseiras, as que faziam calças compridas (slacks), as que faziam roupa de cama...

Até nossas calcinhas e soutiens eram feitos por costureiras. Os soutiens eram feitos de algodão firme, pespontados para ficarem ainda mais firmes, acolchoados com algum material próprio e quase tão pontudos como os do Jean-Paul Gaultier consagrados por Madonna. As calcinhas eram abotoadas de lado, obrigando-nos a uma ginástica para entrar nelas e delas sair. Éramos jovens e flexíveis.

As modistas, outro nome para costureiras, geralmente trabalhavam em suas próprias casas. Nossa irmã costurava num cômodo separado da casa, um barracão ensolarado, de onde soava a cadência da velha máquina de costura PFAFF e de onde saía seu alegre cantar. Sempre achei uma delicia chegar a um desses lugares, cheios de cortes de tecidos, caixas de aviamentos, linhas coloridas, fitas métricas, moldes, vestidos alinhavados em manequins, fiapos pelo chão, e principalmente os figurinos, ah, os figurinos! Meus preferidos eram os Lana Lobell, americanos, que exibiam moças esguias, em vestidos rodadíssimos e cheios de graça, que tentávamos imitar.

Alceu Penna
Foto: Blog Zaz
Além dos figurinos, nossas fontes de inspiração ou cópia eram o cinema e a revista O CRUZEIRO, onde reinava soberano o imortal Alceu Penna, cujas garotas, encanto dos encantos, eram meu ideal de aparência e, principalmente, de atitude perante a vida: esportivas, bem humoradas, soltas, enturmadas, articuladas, tudo o que eu sonhava para mim.

Escolhido o modelo e o tecido adequado ao modelo, definida a metragem , a tarefa agora era ir às compras. Havia muitas, mas muitas mesmo, lojas de tecidos. Minha mãe tinha suas preferidas, fosse pela variedade, simpatia das vendedoras, preço bom, facilidade de pagamento. Eu adorava acompanhá-la nessas expedições de caça ao tesouro. Se a ocasião - uma formatura, um casamento - exigisse algo mais sofisticado, até se considerava a hipótese de uma ida a Belo Horizonte, onde nos maravilhávamos com o tamanho e o estoque da Casa da Sogra ou da Copacabana Tecidos. 

Comprar tecidos nos introduzia num mundo de vocabulário precioso: cetim, cetim de algodão, gorgurão, fustão, tricoline, tafetá, organza, organdi, laise, seda-pura, veludo, shantung, changeant, chiffon, mousseline, crêpe, cambraia, renda valenciana, renda marescot, renda guipure...

Definir com exatidão o que queríamos implicava o uso de um jargão e falávamos com propriedade sobre blusado, enviesado, nesga, manga japonesa, manga fofa, manga ¾, redingote, godet, evasé, plissé, chemisier, palavras que, ademais, nos familiarizavam com a língua francesa.

A confecção das roupas demandava no mínimo duas idas à costureira: tirar medidas e fazer a prova. Dependendo do grau de detalhismo da freguesa ou da profissional, essas provas viravam duas ou três. Finalmente, a emoção de sair da costureira carregando a preciosa carga envolvida em papel de embrulho – lembro-me direitinho dos tons de rosa, verde, amarelo ou azul desses papéis -, fechada nas laterais com alfinetes, por supuesto.

Lá pelo fim da década 1950, começaram a chegar à cidade as lojas de roupas prontas, as confecções, onde comprávamos principalmente roupas de malha, lingerie, as meias e os agasalhos para a escola. Nada muito sofisticado.

Mas, ah, sofisticado, comprado pronto e certamente importado foi o que uma de minhas irmãs ganhou dos patrões, num natal: um conjuntinho de ban-lon, malha macia como eu nunca havia tocado, num amarelinho pastel encantador, aquela coisa mais linda que só se via nas revistas e nem ao menos se podia copiar.  

Deve ter sido por aí que começou o domínio das confecções, que investiam no que não podia ser copiado, ao mesmo tempo em que valorizavam suas marcas, suas logomarcas, e assim deslocavam das salas das modistas para as novas lojas o objeto do nosso desejo.

Sei que aos poucos fomos abandonando as costureiras. Guardo delas, e de tudo que cercava seu ofício, lembranças carinhosas.  

Ah, os armarinhos do título? Ficam para uma próxima conversa.