quarta-feira, 8 de junho de 2011

HELLO DOLLY


EM BUSCA DA BATIDA PERFEITA


Por Dorothy Coutinho




É título de uma música, mas serve para falar da minha implicância com a implicância que temos com alguns vocábulos, entre eles, velho e velhice.
Não estou interessada em como as organizações de saúde classificam a velhice. Para mim a velhice começa bem depois dos setenta anos.
É só pensar: “bom, aos oitenta anos conquistei minha velhice perdendo coisas, mas acumulando outras, inclusive a minha idade sem estar deteriorado, mas apenas mudado”! É isso...

Alguns jeitos em lugar de remediar, acentuam o negativo contido nos termos velho e velhice. Terceira Idade, Melhor Idade e o pior de todos: “Melhor Idade”!
Eles podem até dar bons resultados, mas me causam desconforto.
“No meu tempo” é outra visão falseada que temos nos referindo, é claro à juventude.
Será que aos cinqüenta, sessenta ou oitenta anos ficamos sem o presente?
Será que nosso é o que ficou prá trás?
Será que com o avanço da idade vamos perder todos os direitos, inclusive sobre o próprio tempo?
Será que temos que fugir da velhice a qualquer custo – até mesmo nos mutilando?
As exibições de idosos na mídia muitas vezes acentuam o lado caricato da velhice sem a elegância e delicadeza necessárias para lidar com ela.

A necessidade da qualidade de vida, da saúde, e de projetos pessoais é real até os noventa anos, por que não?
Basta levar em conta as limitações de cada período.

Fui vizinha de uma artista plástica, à época com quase noventa anos, que além de suas belíssimas esculturas em madeira – criadas quando mais jovem – ainda tecia telas de uns vermelhos palpitantes em tapeçarias, muitas delas premiadas internacionalmente. Certa vez eu lhe disse:
- Suas tapeçarias celebram a vida.
Com um incrível brilho nos olhos muito azuis, ela respondeu:
- Eu crio para mim mesma, para meu prazer. Faça o mesmo, escreva para você, escreva a sua sinfonia, o seu concerto!
Seu rosto enrugado e seu corpo já encurvado emanavam uma alegria de viver que me causou inveja. A partir desse diálogo percebi a importância de se conquistar o tempo.

Dizem que o tom da juventude é o allegro, o da maturidade o adágio e o da velhice a marcha fúnebre. Terá de ser necessariamente assim?
Penso que não. O concerto da vida é uma mistura de tudo isso.
Basta continuarmos vivendo “em busca da nossa batida perfeita”!