Por Esther Lucio Bittencourt
A pessoa ouve a música e se deleita. Mal percebe os caminhos da montagem de uma partitura. Bem, eu era assim. Até que fui aprender violino. E uma coisa engatou na outra, veio o teclado. Só que violino, por ser um instrumento de cordas agudo, usa a clave de sol
que, antigamente era representada pela letra G.
Bem, no piano, usa-se na mão esquerda a clave de fá (é a que parece um ponto de interrogação com dois pontos) onde as notas ocupam posições diferentes daquelas da clave de sol. E, na mão direita, toca-se usando a clave de sol. Haja hemisfério cerebral funcionando perfeitamente.
O Violoncelo é o que usa as três claves: a de sol, a de fá e a de dó, que está na pauta acima, -pauta é o conjunto de 5 linhas e 4 espaços- que parece um três , com um traço mais grosso e outro mais fino, porque tem uma extensão maior de notas que variam entre o tom médio o grave e o agudo.
Aí você olha para a partitura, onde a música está escrita (pentagrama) e depara com uma Clave de Sol. Sabe então que o tom da música será em sol. Mas espere aí; falta muita coisa ainda... Ela está em sol menor ou maior, em sustenido ou bemol? Vamos ver?
Ao lado da clave, seja ela qual for, tem algum acidente? Alguma coisa escrita? Ah! tem dois números. Mas isto marca o tempo e o compasso, é outra coisa que depois conto. Além dos números tem mais alguma coisa? Pode aparecer casinhas da velha, os sustenidos, ou o b, que indica bemol.
Este monte de casinha da velha, ou seja, de sustenidos, chama-se de armadura de clave. Ela vai me dizer o tom da música. Esta está em dó sustenido maior.
Acha difícil? Espere, um pouco mais.
Vamos entender. O Dó maior é a escala padrão pois não tem nenhum bemol e nenhum sustenido. A partir dela são construídas as escalas maiores e menores.
Então antes de tocar a música preciso saber em que clave ela está, em que compasso, e se ela está sujeita a acidentes que aumente a nota em meio tom, como o sustenido, o que não significa duração de tempo, pois isto é outra coisa,ou a diminui, no caso dos bemóis.
Mas você quer saber sobre o tempo de duração da nota? Aí você precisa ver se é uma semibreve, ou até mesmo uma semi fusa. Deixemos para depois, aí você pode dar um nó nos ticos e tecos.
Então estou eu com uma partitura em sustenido e aparece um bequadro que anula tudo. A partitura está em lá sustenido, portanto, toda nota lá é elevada em meio tom. Mas eis que no lá surge um bequadro, outro acidente.
Vemos acima um bequadro na nota fá que está em semínima, que é esta coisica preta com uma haste para cima. Nem iremos falar sobre dobrado bemol, dobrado sustenido, meio bemol, meio sustenido para não complicar demais. Nem vou falar que a ordem da posição dos dedos sobre as teclas e sobre as cordas, assim como a ordem dos sustenidos e bemóis deve ser sempre obedecida. Ops... em Pour Elise, não. Uma peça para piano, fácil, fácil, composta por Beethoven onde o Ludwig escreve na partitura que dedos devemos usar para tocar. Ufa!
Olha o Beethoven aqui. E ficou surdo! E surdo compunha.
Segue a partitura de Halleluja de Handel, da obra Messias. Vejam como as notas estão representadas pintadinhas de preto, com rabinho e, por fim, uma semibreve seguida de uma pausa de mínima encerra o coro. Os rabinhos são das colcheias e semi colcheias.
Até agora está tudo claro?
Não? Complicado demais para iniciantes ? E olha que eu já estava entusiasmada para complementar esta música para os olhos.... De quem é a culpa desta dificuldade? De Deus, ora! Não foi ele quem fez o homem? Não foi o homem quem precisou dar fórmula aos sons? Culpem Deus, por favor, o responsável por tudo. Já cantava Amália Rodrigues:
homenagem à Amália
Foi Deus
Não sei, não sabe ninguém
Porque canto fado, neste tom magoado
De dor e de pranto . . .
E neste momento, todo sofrimento
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar
Ai, foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
Fez o espaço sem fim
Deu luto as andorinhas
Ai . . .deu-me esta voz a mim
Se canto, não sei porque canto
Misto de ternura, saudade, ventura e talvez de amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando, me vem um desgosto
E o pranto no rosto nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz no firmamento
E pôs o azul nas ondas do mar
Ai foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
Fez o poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu flores à primavera ai
E deu-me esta voz a mim