Por Dorothy Coutinho
Dentro de poucos anos as crianças já nascerão com um micro celular implantado na orelha lembrando tempos idos, quando era obrigatório o furo nas orelhas das meninas.
A coleira eletrônica não me afeta diretamente, mas indiretamente. Na família, parentes próximos e distantes, conhecidos e amigos todos tem um celular, alguns têm dois ou três. Já está à venda na Europa um celular tão minúsculo que pode ser embutido debaixo da pele na altura do gogó. Ninguém percebe. Nada no bolso ou nas mãos! Ele liga e desliga com uma simples sacudidela “espanta mosca” na altura do pescoço.
O que me incomoda e penso em outras pessoas que também devem ficar desajeitadas com a situação é caminhar numa calçada tendo alguém ao meu lado, no mesmo ritmo, ou a uma distância razoável, falando ao celular, num tom de voz tão alto, que qualquer tentativa de quem está por perto de não ouvir o diálogo se torna inútil. Parece que esse tipo de demonstração em público está se tornando um hábito para quem usa celular no meio da rua.
E aconteceu há poucos dias quando uma bela e formosa senhorinha, de boa aparência, demonstrando “estar com a macaca” mandou essa no diálogo que travava:
- “pimenta no ku dos outros é refresco”!
Seu tom de voz era raivoso, a um passo da indignação, dragão mesmo, soltando fogo pelas ventas. Do lado de lá deveria estar ocorrendo algum tipo de cobrança.
- Eu aqui, dando um duro danado e você me sai com essa?
- Porque você não me liga para agradecer o celular novo que eu comprei para ele?
Sem dúvida o papo era de um “arranca rabo” entre um casal. Parecia uma união desfeita que deixou um filho de herança, com uma grande cobrança por parte do pai.
- E você, que não dá a refeição quando ele está com fome?...! Ele sempre reclama quando volta para casa. Pai desnaturado! Pensei.
E no caminho das cobranças mútuas, o papo também seguiu junto no celular daquela mulher.
Esse tipo de conversa a gente só ouvia quando acontecia uma linha cruzada com a vantagem de se ouvir os dois lados! Esse diálogo de um lado só, que a gente está se acostumando a ouvir no celular alheio, é muito mais numeroso. É impossível andar um quarteirão sem ouvir o trecho de uma conversa que deveria ser particular.
Outra chatice é o toque das chamadas desses aparelhinhos infernais. São infinitas as demonstrações de sons. De Mozart a Florentina do Tiririca, saem daquela coisinha tão pequenina e tão vibrante!
Nas calçadas, nos supermercados, em salas de esperas, enfim, em quase todos os ambientes de uso coletivo, a cada dia o som dos toques das chamadas fica mais alto. Em breve teremos um trio elétrico dentro de cada bolsa ou bolso. Acho que não vou sobreviver.
Sobre a mulher “dragão” que soltava fogo ao falar no celular, pensei: essa história vai acabar nas barras de um tribunal!
Eu não botaria minha mão no fogo por esse ex-marido!