Telinha Cavalcanti
"Eu conheci um pão ontem na festa!"
Se você entendeu esta frase, lamento informar: acaba de entregar a idade.
Lembrei desta gíria semana passada, por dois motivos: vi na TV um programa que falava sobre pães e padarias chiques de São Paulo, e a apresentadora disse que o padeiro era um pão. Daí, ela perguntou pro filho do padeiro se ele conhecia esta gíria, e ele respondeu, claro, que não. Ela explicou que "pão" era usado, nos anos 70, como "gato" é hoje, para designar um homem bonito. O menino (18, 19 anos?) perguntou se ela também era um pão. Ela começou a rir, meio nervosa, e disse que não era assim que se usava, era só para homem.
O segundo motivo foi a música "Festa do Bolinha", que tem um versinho que diz "Com tanto pão dando bola no salão / Luluzinha foi gostar logo do Bolão".
Então eu comecei a pensar em quantas gírias já deixaram de ser usadas e perderam seu sentido. Tem muita gíria velha que ainda se usa, como "bicho" (tá meio exclusiva do Roberto Carlos e da Xuxa, mas ainda se entende).
"Gente-Bem". Outra que eu não conhecia, Amado Marido que lembrou. Está na abertura do desenho Manda-Chuva, "Malandro como ninguém, mas com pinta de gente-bem, o chefe" - eu virundava para "mas com pinta disse que tem um chef". Gente-bem é mais ou menos gente fina.
"Qual é o Pó?" - Qual é a novidade? Hoje em dia se você perguntar isso, o povo pode até desconfiar :D
A novela Vale Tudo, de 89, acabou de ser reprisada na TV a cabo. Nela, se usava a expressão "transar" para quase tudo - inclusive para aquilo mesmo. "Vou transar essa entrevista, não se preocupe, já marquei para sexta feira" ou "Você transa bem esse lance de família?"
"Sapear" - entender pouca coisa, conhecer de modo superficial. "Não entendo muito de computação, só sapeio o básico"
"Pé de boi" - essa Amado Marido falou numa reunião de trabalho e ninguém entendeu. Pé de boi é o cara trabalhador, sério, concentrado. É um elogio, gente.
"Cabeça de porco" - mais uma que Amado Marido desencavou. Serve para designar uma vila pobre, de casas mal cuidadas, um lugar que não chega a ser uma favela, mas é bem capaz de se tornar em pouco tempo.
"Do balacobaco" - essa eu vi no filme "The Doors", uma pérola da tradução brasileira. Quiseram colocar uma gíria dos anos 60 e saíram com essa, dos anos 40. Nunquinha que Jim Morrisson diria isso - ele falou "fucking great".
"Arame" - meu sogro que me contou. Gíria para dinheiro. Ele explicou que dinheiro, como arame, resolve um monte de coisa :)
"Mintchura" - veio de uma música da Neusinha Brizola, mistura de mentira com loucura. "Mintchura, a cobertura era uma kitinette!"
"Cafona" - É muito brega falar "cafona" hoje em dia...
E você? Lembra de mais alguma?