Carlos Frederico Abreu
Ryokan
Muitos tem curiosidade a respeito das casas japonesas. É natural que, com a ocidentalização, o Japão tenha abandonado antigos hábitos e hoje, na prática, uma casa japonesa já não se diferencia tanto assim daquilo que conhecemos no Brasil. Uma estadia em um hotel tipicamente japonês (ryokan), permite-nos reparar no que mudou nos últimos 50 anos.
Durante a viagem, tive a opotunidade de me hospedar em um ryokan na cidade de Atami. É uma cidade pequena (40 mil habitantes), que fica encravada entre as montanhas e o oceano Pacífico (golfo de Sagami), e seu nome quer dizer, em japonês, "mar quente": a cidade é famosa por suas águas termais.
Ao chegar no Ikeda Ryokan, fomos levados por senhoras, empregadas do hotel, que mostraram onde ficava o yucata (um quimono leve), como usá-lo, etc. Deixaram ao chão alguns zabuton (almofadas para sentar). É um costume que elas ensinem e ajudem os hóspedes, estão ali para isso mesmo e seria desrespeitoso dispensá-las.
Uma mesa posta para o chá nos aguardava.
Seguindo a tradição, tiramos os sapatos e calçamos as sandálias: o piso é coberto por tatames, e, por conta disso, não se utilizam sapatos dentro do quarto. Eles ficam em um móvel baixo na entrada e devem ficar virados para frente (dá para perceber que meu colega de quarto não sabia disso.) Depois, vestimos o yukata.
O chuveiro, a pia e o banheiro são separados, o que é bem prático. Este ryokan oferecia, além de água quente e fria, águas termais. Antes de entrar propriamente no ofurô, a pessoa precisa se banhar do lado de fora, para não sujar o ofuro com sabão ou xampu; os japoneses não compreendem como nós, ocidentais, ficamos "de molho" na água suja da banheira...
No banheiro (ocidental), a gente encontra chinelos, pois não se pisa descalço no chão.
As portas corrediças no interior do quarto se chamam fusuma, quando opacas, ou shoji, mais leves e quase transparentes; são feitas com papel de arroz (washi) e não têm fechos ou trancas.
Como se trata de um ryokan mais moderno, contava com frigobar, televisão e telefone. Como é possível ver na foto, na varanda há uma pia. Fechando as portas, a pessoa que dorme não é importunada… prático, não?
Por volta das 18:00, as funcionárias do ryokan entram no quarto e preparam as camas, que consistem em colchões macios (futons) que ficam guardados nos armários durante o dia.
Para quem não está familiarizado com os procedimentos e a rígida etiqueta (eu, por exemplo, sempre me confundo na hora de amarrar a faixa que prende o yukata), os ryokans podem parecer intimidantes, mas é uma oportunidade para se mergulhar no passado. Uma noite em um quarto como este, você se sente transportado para o tempo dos samurais… vale muito a pena!
Além disso, existe um ditado japonês que diz: “Gou ni itte wa gou ni shitagae” (Faça, na vila, igual aos que nela moram), algo como “Em Roma, aja como os romanos”.