Por Gilvania Ferreira
O 4 de julho é mais do que uma data comemorativa à Independência dos Estados Unidos. É a vitória do novas idéias contra a tradição inglesa que cismava em impor seus costumes e muitas outras coisas mais ao pessoal da Terra de Tio Sam. Alguns arriscam até a dizer que foi naquela data em 1776 que o sonho americano começou, de fato, a tomar forma. Se é verdade ou não, quem quiser se manifestar que comente aí no espaço apropriado, mas eu sei de uma pessoa que vivenciou essa coisa de sonho americano de verdade. O nome dele é Elvis Aaron Presley.
Se alguém dissesse à Gladys Presley que o único de seus gêmeos que sobreviveu ao parto naquela madrugada chuvosa de 08 de janeiro de 1935 ia não só livrar a família da miséria na qual viviam como perpetuar seu nome na história da música e revolucionar os costumes de todo o país e de boa parte do mundo e que, muitos anos depois de sua morte, ele ainda seria lembrado pelo o que fez em apenas 42 anos de vida, provavelmente Gladys sorriria e, com aquela melancolia própria de quem não tem onde cair morta, diria apenas: “tomara!”
Mas foi exatamente isso o que aconteceu com Elvis. Depois de viver uma infância onde a pobreza reinava – quando até o pai, Vernon, chegou a ser preso por falsificação de assinatura em um cheque – e a superproteção da mãe imperava, Elvis trabalhou como lanterninha em cinemas e caminhoneiro, mas viu sua vida mudar e seus sonhos se realizarem depois do dia 05 de julho de 1954. Neste dia, Elvis, Scotty Moore e Bill Black gravaram uma nova versão de That’s Allright, de Arthur “Big Boy” Crudup, cantor de sucesso mas restrito praticamente às pessoas de cor de pele igual a sua. A música virou um hit quando o Sun Studio a lançou.
Quase de repente, Elvis foi catapultado do anonimato para uma vida de sucesso estrondoso, sem direito a voltar ao que era antes. Seu potencial era tanto que pouco mais de um ano depois, em 20 de novembro de 1955, uma das maiores gravadoras da história da música resolveu contratá-lo: a RCA. Trocar a Sun pela RCA mostrava que a Elvismania tinha chegado para ficar.
A consolidação do fenômeno Elvis Presley aconteceu ao longo do ano de 1956. Recém-chegado à maioridade dos seus 21 anos, o filho de Gladys e Vernon foi parar no topo da parada nacional de singles (compactos) da Billboard com Heartbreak Hotel. 1956 mal tinha começado e Elvis vendeu 300 mil cópias do single, subindo direto para o 1º lugar nas paradas country e 5º na parada de R&B. Ao final, a música rendeu o primeiro disco de ouro para Elvis ao vender mais de um milhão de cópias.
Em 09 de setembro de 1956, Elvis faz a primeira de suas três apresentações no mais famoso programa de TV dos Estados Unidos, o The Ed Sullivan Show, e quebra todos os recordes de audiência. Nesta noite, 80% das TVs norte-americanas estavam sintonizadas no canal.
Em março de 1957, Elvis compra Graceland, sua famosa mansão em Memphis, por US$ 102,500. A casa significava uma vitória para quem viveu de aluguel por toda a vida. Milhares de fãs começaram a fazer prontidão na frente do muro de Graceland esperando a chance de ver o ídolo. A maioria composta de adolescentes que gritavam pelo cantor.
A histeria era tanta que Elvis começou a ter problemas em circular pela cidade onde morou desde os 13 anos de idade. E o motivo não se limitava ao encanto que causava, mas ao fato de que sua ascensão resultou no surgimento de um fenômeno: o consumo de produtos por parte dos adolescentes ou do público jovem por assim dizer, até então praticamente ignorado pelo mundo da publicidade. Tudo se vendia com o nome de Elvis: de fotos com o rosto do artista a roupas, passando por ursinhos de pelúcia.
Junto com a devoção a Elvis veio a, digamos, vontade de crescer mais rápido. Os pais não viram com bons olhos essa liberação de suas filhas e rebeldia de seus filhos e detonaram o cantor com os piores impropérios. A solução encontrada por seu empresário para melhorar a imagem do cantor foi alardear a convocação do cantor pelo Exército americano.
Seu topete revolucionário, símbolo da rebeldia, foi o primeiro alvo das forças armadas. Por quase dois anos, Elvis serviu na Alemanha. Retornou ao show business em 1960, mas já estava tão comprometido com Hollywood que viu boa parte de seus jovens seguidores migrarem para artistas que surgiram ao longo da década de 60, muitos deles influenciados por sua música – como os Beatles e Led Zeppelin.
Longe dos palcos e presente nas telas. Assim a década de 60 ficou notabilizada na carreira de Elvis. Gravou um total de 31 filmes, com uma média de três filmes por ano!!! Uma nova reviravolta na carreira de Elvis surgiu em 1968 e ajudou a reaquecer o sonho americano: o Rei, que parecia deposto, gravou um especial de TV que acabou dando origem a um estilo de gravação bastante consagrado na década de 90: o unplugged.
Isso mesmo. Elvis, com alguns músicos que o acompanharam até ali, sentados em um pequeníssimo palco, cercado pelo público, cantando sucessos em um ritmo mais “lento”. Se houvesse MTV naquela época, acreditem, aquele teria sido o primeiro Acústico MTV da história. E Elvis voltava a ser o número 1.
Dali a voltar aos palcos foi um salto. Com lotação máxima em quase todas as suas apresentações, Elvis não parou mais de fazer shows por quase todos os 50 estados norte-americanos, inclusive no Havaí. No paraíso das ondas, protagonizou outra proeza: foi o primeiro artista solo a ter um show transmitido ao vivo via satélite. A apresentação, uma atitude que rendia fundos para a Fundação Kui Lee de Câncer, atingiu uma audiência global estipulada em um bilhão de pessoas.
Era mais uma vitória do ex-menino pobre. O retorno do sucesso na carreira de Elvis não se reproduziu em casa. Aproximadamente cinco anos após o casamento, Elvis e Priscila se separaram. Apesar do processo de divórcio (finalizado em 1973) ter sido feito aparentemente de forma amigável, o fim do relacionamento parece ter influenciado bastante no repertório e na sua saúde de Elvis dali em diante.
Nem mesmo a gravação do Elvis on Tour pela MGM, que conquistou o Globo de Ouro de Melhor Documentário em 1973, nem a conquista do segundo Grammy com o lançamento do álbum He Touched Me ou os shows com lotação máxima no famoso Madison Square Garden em Nova Iorque parecem ter sido suficientes para devolver a alegria na vida de Elvis após o divórcio com Priscila.
Novas namoradas, turnês com ingressos esgotados, nada foi incapaz de impedir os acontecimentos do dia 16 de agosto de 1977. Elvis foi encontrado desmaiado em seu banheiro particular e declarado morto na tarde daquele dia – um dia antes de mais um show de sua turnê. Cenas de comoção nunca antes vistas se repetiam em frente à Graceland e ao longo da Elvis Presley Boulevard.
As vendas em torno dos últimos lançamentos de Elvis explodem e Moody Blue passa dos dois milhões de cópias vendidas. O mesmo acontece com o especial Elvis in Concert que a CBS apresentou no dia 03 de outubro de 1977, cujo álbum atingiu o 5º lugar rapidamente e do qual um milhão e meio de cópias foi comercializada. O especial foi ao ar apenas um dia depois de que o corpo de Elvis e de Gladys foram levados em definitivo para Graceland.
Para lá também vão milhares de fãs todos os anos desde que a mansão onde Elvis morou em Memphis foi aberta ao público em 07 de junho de 1982. Dando amostras da força do amor dos fãs, um show com Elvis no telão, músicas que tocaram com ele no palco e a Memphis Symphony Orchestra lotou o Mid-Soutch Coliseum exatamente 20 anos após seu falecimento. O mesmo ocorrendo na data dos 30 anos de sua morte, desta vez no Fedex Forum.
Em 1986, Elvis entra para o Hall da Fama do Rock. Em 1998, para o Hall da Fama da Música Country. Três anos depois, foi a vez de o cantor entrar para o Hall da Fama Gospel. O reconhecimento para quem 711 músicas dos mais diversos ritmos musicais em 24 anos de carreira. Deste total, 149 canções apareceram entre as 100 mais da parada da Billboard, sendo 114 entre as 40 mais tocadas, 40 entre as 10 mais e 18 atingiram o topo.
Como se não bastasse, 25 anos após o fatídico 16 de agosto de 1977, Elvis alcança novamente o topo das paradas com o lançamento remix da música A Little Less Conversation, música presente na trilha sonora do seu filme Viva um pouquinho, Ame um pouquinho. A canção foi utilizada pela fabricante de material esportivo Nike em um comercial de TV alusivo à Copa do Mundo de 2002.
A quase peregrinação dos fãs de Elvis a Graceland transformou-a na segunda casa mais visitada nos Estados Unidos (perdendo apenas para a Casa Branca) renderam à mansão o título de National Historic Landmark. Nada mais justo levando-se em conta que, em agosto de 2007, três décadas após seu falecimento, Elvis reuniu 75 mil pessoas em Memphis para participar dos eventos em sua homenagem.
E o que era apenas um bordão, mostra-se cada vez mais verdadeiro para os fãs:
Elvis não morreu.