sábado, 23 de julho de 2011

FREDZILA - ANALFABETO EM JAPONÊS

Carlos Frederico Abreu


No Japão se utilizam, basicamente, quatro alfabetos:



Kanji - ideogramas de origem chinesa. Possuem duas maneiras de ser lido, ou seja, podem ter significados diferentes. Apesar de existirem mais de 4 mil ideogramas, o joyo kangi, por exemplo, é uma lista de 1.945 básicos, definidos pelo governo, digamos assim, como o bastante para uma criança.


Hiragana - um sistema fonético com 46 ‘letras’ que representam os sons em japonês e é utilizado junto com o kanji.






 Katakana - como o hiragana, também é um sistema fonético.
É usado unicamente para representar nomes de origem estrangeira.

 
Romaji - o alfabeto romano.






Ser um estrangeiro (gaijin) analfabeto nos três primeiros é complicado.

A única escapatória é esperar que alguém tenha tido o cuidado de escrever em inglês, em romaji, ou que você conheça a palavra em japonês, é claro.

Além disso, a língua japonesa é estruturalmente diferente da portuguesa - a ordem das palavras na frase é oposta à ordem que nós utilizamos.

Esta diferença traz algumas vantagens para o aprendizado; por exemplo, os verbos não são conjugados para cada pessoa e praticamente não se usam pronomes pessoais.

Mas, se comparada à semântica das palavras, a gramática perde muito em caracterizar uma cultura. Algumas palavras em português têm o exato sentido em japonês, por exemplo, “branco”, se diz “shiro”. Já ‘azul’ se diz ‘ao’ e ‘verde’ se diz ‘midori’. Mas, quando uma fruta está verde, dizem que está ‘ao’ (azul?).
Quando o sinal de trânsito abre, também, diz-se que o sinal ficou ‘ao’.

Exemplos de como um analfabeto sofre:

Tentando escapar do calor senegalês de julho, parti pra dentro de um café com samambaias de plástico e cadeiras vermelhas. ‘Cofi’ houses são abundantes, desde as internacionais como Tully, Starbucks, até as particulares, mais charmosas, com ares extrovertidos, modernosos ou europeizadas, como esta para onde eu fugi.

Imediatamente o balconista me reconheceu como um forasteiro derretendo-se diante de seus olhos (puxados) e mandou um ‘Can I help you?’.

Olhei para a lousa, onde estão escritas as opções com giz . Tudo está em kanji (ou o que for), até os preços e o telefone do PROCON japonês.

Nestes momentos,  mais importante do que conhecer o telefone da embaixada brasileira, é saber duas palavras: Mizu e Biru. Água e cerveja.

Pedi uma ‘biru’.
‘Onli cofi’ disse o solícito balconista.

Fiz uma careta, mistura de contrariado e frustrado.
‘Something cold'. 'Ice.’
‘Cofi i miko’.

Imaginei que se tratava de café com leite gelado, com pedras de gelo, e sem açúcar.
‘Nooooooooo.’
‘Ti?’ (Tea)
‘It´s ok.’

Não gosto de chá, mas pelo menos veio gelado e era, realmente, chá.

No Japão é muito comum você pensar que uma coisa é uma coisa e na verdade é outra. Por exemplo, sanduíches de queijo e presunto. Nunca é queijo, embora pareça, é sempre ovo.

Ou então você chega sedento numa máquina de vendas automática, você quer água, gelada, sem sabor, sem vitaminas, sem íons-plus, apenas a boa e velha água, não aquela água da Coca-Cola... mas parece que só tem café gelado (BOSS) e energéticos.


Mas ai então você vê uma garrafinha bonitinha que parece chá gelado, prometendo ser no mínimo refrescante.

Você paga 180 ienes e mais sedento que um legionário perdido no Saara, você abre a tal garrafinha e despeja dentro da boca seca.

Ao invés de beber, você... mastiga.

Sopa gelada.