sábado, 10 de dezembro de 2011

FREDZILA - SUMÔ

Carlos Frederico Abreu

O sumô é o esporte mais popular no Japão, apesar de enfrentar o crescente interesse das novas gerações por esportes ocidentais, como o baseboro (baseball) e o futebol (não vou chamar golfe de esporte, ok?)

A explicação se dá talvez pelo sumô estar carregado de simbolismos, que se confundem com a história do pais. Existem registros de mais de 2.500 mil anos falando sobre as lutas.

Se prestar atenção, se parece muito com uma luta entre dois ursos, que é o maior animal do Japão. Diz-se que o sumô começou como parte de cerimônias religiosas xintoístas e depois se tornou um evento a parte, como conhecemos, a partir do século 8.

No passado, golpes fatais eram permitidos e não raramente o perdedor morria.


Até hoje sobre a arena existe um telhadinho, lembrando um templo xintoísta.

Um rikishi (lutador) famoso tinha tanto status quanto um ministro e parece que até hoje é assim, basta ver o olhar dos japoneses diante de um yokozuna (o grau mais alto). Ele é reverencial, quase como se diante de uma entidade materializada, e não somente um homem de carne e osso (e muita gordura) vestindo fraldas (mawashi).

Hoje em dia, ocorrem seis torneios por ano, envolvendo em torno de 800 lutadores em seis categorias.


Cada torneio (sumo-basho) se dá em uma cidade japonesa diferente e dura 15 dias.

Apesar do status de quase divindade, o salário de um lutador não é lá estas coisas, não se compara ao de um grande astro do basebol ou do futebol.
Apesar disso, cada lutador recebe casa, comida (muita comida) e roupa lavada, podendo se dedicar ao esporte sem precisar arcar com os custos.

A vida de um lutador é bem rigorosa, são os jovens aprendizes (12 a 15 anos de idade) que trabalham para os mais velhos, dentro de uma hierarquia rígida e inflexível. Vivem na e para a academia (beya). Vida social zero, sem noitadas em boates, festas ou agitos.

Para chegar nas divisões superiores são anos de dedicação, treino, serviço braçal e chanco-nabe, uma espécie de ensopado hiper-gorduroso que é a base da alimentação desses gigantes (e que não leva carne de quadrúpedes) . Para se ter idéia do trabalho de manter aquele corpinho, um lutador de sumô de 160 quilos consome em um dia, o que uma pessoa normal consome em uma semana!

Apenas os lutadores da primeira divisão ganham salários e podem usar aquele penteado especial, o oicho. A luta em si, não dura muitas vezes, nem 10 segundos.


O perdedor é aquele que cair ou tocar (com qualquer parte do corpo) fora do ringue de quatro metros e cinqüenta centímetros de diâmetro (dohyo).

Como o espaço é razoavelmente pequeno, e já que não há distinção por peso, nem sempre o mais pesado vence a luta. O juiz (com o leque à mão) decreta o vencedor e sua decisão é apoiada por mais 5 juizes e se necessário com a utilização de video-tape.

Apesar de ser um esporte milenar, o uso de tecnologia é aprovado pela comissão reguladora desde 1969.


Outra diferença entre o sumo e as artes marciais conhecidas é que o juiz carrega um punhal cerimonial. Com ele deveria se matar ao proferir uma sentença errônea.

Não há registros de um juiz que o tenha usado. ( Já pensou se fosse no futebol brasileiro?)

No sumô são proibidos socos, puxões de cabelo e morder, o resto vale. Parece simples, mas existem quase 300 golpes aprovados em diversas técnicas.

Como no teatro Kabuki, mulheres não lutam ou tem qualquer tipo de participação que não seja na platéia, mas estrangeiros podem participar, desde que passem por todas as etapas de ordenação, como um autentico japonês.

Já houve campeões mongóis e havaianos, e atualmente quem faz grande sucesso é um búlgaro de 25 anos com o nome de Kotoocho (este ai embaixo!)



Na minha primeira viagem ao Japão, em 2008, assisti todas as suas lutas pela televisão dos hotéis onde me hospedei. Ele conquistou o torneio do Imperador com 14 vitórias e uma única derrota.

Kotoosho faz grande sucesso e fora da arena é simpático, aparece nos comerciais de laticínios.




Glossário rápido do iniciante no Sumô:

Tchiri – Movimento feito antes das lutas para mostrar que os lutadores não escondem armas, eles batem as palmas das mãos duas vezes e abrem os braços deixando as palmas das mãos visíveis.
Dohyo – O ringue em que é disputado o Sumo, uma plataforma quadrada (com uma altura de 60cm) feita de terra batida com um grande círculo desenhado com aproximadamente 4,55 metros de diâmetro.
Mawashi – A vestimenta de todos os lutadores de Sumo, que lembra um tipo de fralda usada tanto nos treinamentos como nas competições (o uso de sunga debaixo do Mawashi é facultativo).
O-icho – Penteado usado por todos os lutadores, em torneios ou ocasiões formais.
Tikaramizu- Água especial, colocada numa tina de madeira ao lado do ringue, com a qual os lutadores matam a sede antes de cada confronto. Serve também como ritual para concentrar as energias dos competidores.
Rikishi - Lutador de Sumo.
Shio – Sal que fica num recipiente ao lado do ringue. Antes de cada confronto os próprios lutadores espalham o sal no ringue para purificá-lo, eliminar os maus espíritos.
Yokozuna – A mais alta posição que um lutador pode chegar. Normalmente são chamados como lendas vivas.
Tyon mague – Penteado (coques feitos no alto da cabeça dos lutadores) especial que só pode ser utilizado pelos Yokozunas. Somente eles tem autorização do imperador japonês para usar este penteado.
Gyoshi – Os árbitros das competições de Sumo que são ranqueados em oito níveis. Ele sobe no ranking de acordo com a idade e competência no Dohyo.
Dohyo Matsuri – Cerimônia xintoísta que abre qualquer evento de Sumo. Nela se homenageia os deuses e pede-se proteção e realização de boas colheitas.
(fonte: bushido-online)