domingo, 4 de dezembro de 2011

SENHORA DO TEMPO - INDO ÀS COMPRAS...

Por Vera Guimarães





Enquanto os filhos eram pequenos, normalmente era eu que comprava as roupas deles. Certa época, quando eu estava particularmente atarefada no serviço, houve uma semana em que viajei e meu marido, buscando as crianças na escola, encontrou uma das meninas tão malvestida, com a calça com a cintura frouxa, que passou com eles na loja e os abasteceu de camisas, blusas, shorts. Todo mundo gostou. Mas no geral isso era comigo mesmo.


À medida que cresciam e que manifestavam gosto pessoal, eu os acompanhava às lojas. Aí, alguns traços de personalidade deles, já vislumbrados em outras ocasiões, afloravam. Por exemplo, para o controle das semanadas (o equivalente a um picolé por dia), tínhamos um livro de contabilidade, onde cada um registrava o valor do que recebeu, o quanto e em que gastou, e o saldo. Sim, trabalhávamos com HISTÓRICO, DEVE, HAVER e SALDO. Era o famoso “livro verde”.


Pois bem, um dos filhos era controlado, equilibrado e mantinha os gastos compatíveis com a receita. Outro era absolutamente guardador, gastava em nada e suas semanadas se acumulavam, formando o que os outros chamavam de “o império”. O terceiro, não na ordem de idade, gastava tudo no mesmo dia, sempre tinha motivo para gastar mais e nos implorava por adiantamentos, que ora dávamos, ora não dávamos. Sei que estava sempre no vermelho.


Com as roupas, era o mesmo. O guardador não se importava com o que vestia, pelo contrário, era até apegado a elas. Uma vez, insistindo em vestir uma camisa muito velha, já apertada, eu disse que aquela roupa já não estava servindo e ouvi: “Não, mãe, se eu não respirar ela fica boa.”


O controlado, equilibrado, oh, céus!, que trabalheira acompanhá-lo às compras. Está bem, acompanhá-la... Que dificuldade para escolher uma simples calça jeans! “Levo esta ou esta?” Eu dava meu palpite. Mas vinham as objeções: “Ah, mas esta..., sei não, e se... porque...” E passávamos horas no shopping e às vezes voltávamos sem uma peça de roupa sequer.


Bersuit Vergarabat-Mi Caramelo





Já com a perdulária não havia a menor dificuldade de escolha: ela queria simplesmente tudo, sem noção e sem censura. Acompanhava as propagandas pela televisão e queria porque queria “marshmallow caramelow”, que detestou. Vendo anúncios de xampu, pediu que comprássemos “caspa”.












Shampoo anti-caspa, Pantene- imagem google



Uma vez, saímos com ela especialmente para comprar um agasalho para a escola. Eu já tinha a ideia exata do que precisávamos: um casaco de malha azul marinho. Está bem, o meu papel era aquele, provê-la da roupa adequada para a ocasião. Mesmo assim, até hoje me arrependo de não haver atendido ao pedido dela, ela toda saltitante, toda peruinha: “Já sei o que quero, mãe, compra esse aqui, compra!” Mas mães costumam ser racionais e bobas.
Por que não a deixei levar para casa o casaquinho cor de mel, com linda raposinha de pele como gola?

La tarde es Caramelo, Vicente amigo