segunda-feira, 12 de março de 2012

CADA LOUCA COM SUA MANIA

Por Dade Amorim




Durante alguns anos de minha vida, pensei que um dia seria dona de uma loja de presentes, desses que a gente gosta de ganhar e de dar para fazer felizes nossos entes queridos. Sou louca por objetos, coisas ditas inanimadas mas capazes de animar as pessoas e fazer seus olhos brilharem. Para isso, um objeto não precisa ser necessariamente valioso e caro. Tenho caixinhas e descansos de mesa feitos de palha, porta-guardanapos de madeira e simples tigelas de uso diário que amo pela forma, pela beleza do desenho e do material. Uma vez fiquei fissurada por uma molheira e não consegui seguir meu caminho antes de entrar na loja e levar para casa meu presente.
Muitas mulheres correm a mudar a cor dos cabelos ou comprar roupas e sapatos quando estão tristes ou decepcionadas. Eu compro coisas, antes de qualquer outra providência. Também recorro ao cabeleireiro, é claro, mas nunca pintei os cabelos, de modo que faço um novo corte, uma boa massagem; às vezes vou procurar uma roupa nova – esses recursos que a gente tem, graças a Deus, pra mudar o exterior quando o interior está pouco convidativo. Mas antes passo nas lojas de decoração e trago de lá um cinzeiro original, um vaso bonito, um porta-retrato diferente. Uma coleção de caixinhas, almofadas e mantas, quer coisa mais gostosa de escolher e ver em casa?
Meu pai tinha tinteiros de vidro que não sei onde foram parar, canetas de pena que ele molhava nos ditos, pesos de papel de cristal que me faziam sonhar e um mata-borrão que eu adorava vê-lo manejar sobre o papel de tinta fresca, além da caneta-tinteiro, uma Parker preta listradinha de cinza que nunca esqueci. Guardei dele as sobrecapas de couro para proteger os livros, mas ficaram muito gastas e acabaram guardadas como relíquias.
Um objeto tem um valor material, que pode ser menos ou mais alto, o que não interfere no efeito que ele nos causa. Quando se compra ou ganha algum, experimenta-se seu convívio como quem avalia um vizinho novo. Gosto de deixá-lo num lugar em que o veja a toda hora até que se integre ao dia-a-dia. De vez em quando é gostoso parar para conhecê-lo melhor  –  examinar, pegar e inventar novos lugares para ele até que se harmonize com a paisagem e o clima da casa. Quando isso acontece, pode-se sair procurando seu lugar definitivo. É a prova de fogo, depois da qual quase sempre o estranho vira membro da família, parte do patrimônio, objeto de afeto e cuidado.