domingo, 25 de março de 2012

SENHORA DO TEMPO-SOBRE LIVROS


FAL AZEVEDO, DEPOIMENTO


Fal Azevedo criança

Minha mãe tratava os livros e a leitura como o maior dos privilégios em nossa casa. Praticamente só ganhávamos livros. Os brinquedos vinham das tias, das madrinhas. De mãe e pai, só livro. E ler era, mesmo um privilegio. Um prêmio. Praticamente só ganhávamos livros em casa. Daí, que ler era privilégio... Nota boa? Livro? Coisa certa? Livro. Ah, fez coisa errada? Pois então tiro de você o livro que  está lendo . Se comportou mal? Não conto história antes de dormir, não leio em voz alta.
Livro era presente de aniversário e Natal, o único (mesmo) tipo de consumo estimulado em minha casa, a única coisa que éramos encorajados a desejar, e o grande privilégio que tínhamos. E claro, como era um privilégio, não uma obrigação, um prêmio, não um castigo, éramos loucos por eles. Tínhamos que merecer nossos livros. Esperávamos por livros, pedíamos por eles, sonhávamos com eles como outras crianças sonhavam com o Falcon, ou a Susie. E, exatamente, como brinquedos, nunca achávamos que eram suficientes.
Foi assim que minha mãe criou dois viciados em livros.
E outra coisa: dedicatória. Mãe precisa mesmo colocar dedicatória nos livros que der.
Assim, quando chegar aos 41 anos, sua filha vai ter o prazer de abrir um livro capenga e ler:
Para a minha amada Biuccina, esse "Mulherzinhas", que carrega um pouco da doçura que, espero, ela terá em sua vida.
mamãe, dezembro de 1977

carteirinha da Fal