quinta-feira, 15 de março de 2012

DIÁRIO DE UMA ADOLESCENTE. NOSTALGIA ESCRITA.

Por Bianca Monteiro



Pela minha idade, parece ser até irônico fazer essa afirmação, mas meu sentimento mais frequente é a nostalgia. Uma saudade, ainda mais de coisas que não vivi. E que não pode ser satisfeita nunca. Um vazio que cada vez mais deseja se alimentar de outras lembranças, mas que não pode ser preenchido. Talvez por imaginar demais, idealizar, criar expectativas, sonhar... E essa parte já é coisa do signo, também. Daí, é claro, virão intermináveis "e você acredita nisso?????". SIM. Até quando olho tarde demais (de fontes confiáveis, claro), o que aconteceu está escrito na íntegra. É impressionante. Piscianos... Pff. Sempre assim, meio místicos.

É devido também à minha memória fotográfica, que adoro, mas infelizmente é terrível em algumas horas, ainda mais nas de querer esquecer. Dá a ilusão de que a cada vez que pisco os olhos guardo a imagem vista. Então, acaba sendo em vão tentar esquecer qualquer coisa, posso nem mais me importar com o fato ou pessoa, mas o que eu vi, nunca será apagado... Uma verdadeira tortura. Essa mania de reviver fatos mentalmente todos os dias, todas as horas.

Pra piorar a situação, tenho a mania de anotar aleatoriedades do dia a dia, como bordões novos, piadas internas, ou aquelas pérolas que sempre renderão boas risadas. Não vou nem até a cozinha sem meus inseparáveis caderninhos que troco de quando em quando, já que eles infelizmente acabam. Medo de esquecer? Eu diria que é uma certeza de que o acervo mental não é eterno, não só pela constante renovação das lembranças, mas também, porque principalmente não devemos esquecer que um dia o cérebro irá embora, levando tudo o que já foi guardado junto a ele... Tudo bem, eu admito, acho que é medo. De não deixar meu legado, perder a chance de deixar minhas ideias materializadas e permanentes de alguma forma. De, com o tempo, parar de pensar naquilo que um dia julguei essencial.
 
Ando me preocupando demais em aproveitar meu tempo da maneira adequada. Mas esse pensamento mesmo já foi um desperdício do tempo que eu podia ter usado fazendo algo útil. Então, acabo escrevendo, de novo. Diálogos, sentimentos, pensamentos desconexos, ideias para dominar o mundo ou apenas para desenvolver um texto depois (por mais que dê no mesmo). Invenção e realidade se misturam. Às vezes geram bons relatos ou textos ficcionais. Ao menos, quando alguns são publicados, tenho a sensação de que o mundo fora do caderninho passa a entender o que se passa aqui como se nunca tivesse sido meu, mas sim, algo comum. A subjetividade me encanta. Pois dependendo do uso das palavras, podem servir para várias situações diferentes... Mas, mais uma vez me deparo com o problema: não tenho ciência do significado que aquilo pode tomar depois, assim, registrando essas memórias que na hora parecem tão importantes e logo depois se tornam indesejáveis. Frequentemente revividas. E impossíveis de esquecer, já que eu mesma me certifiquei que não faria isso. Incômodo, é como sabotar a si mesmo. Ainda pior que esse vício de reticências, de saber que não acaba por aí e que novas lembranças virão... Ah, escrever. Hábito tão prejudicial que me salvou a vida tantas vezes.