segunda-feira, 26 de março de 2012

DUBIEDADE TAMBÉM ATRAI LEITOR

Por Dade Amorim



Patricia Highsmith. Os Fugitivos. Trad. de Luiz Roberto Mendes Gonçalves. São Paulo: A Girafa, 2005.

Tenho lido os romances policiais de Patricia Highsmith sem grande entusiasmo. Embora reconheça nela uma autora consagrada e bem conhecida, acho sempre que a história e seus personagens não me entusiasmam o suficiente. Pode ser pura implicância, quem sabe.
Desta vez, no entanto, história e pessoas me chamaram mais a atenção. Segui a leitura com vontade de chegar ao fim, não porque estivesse entediada, mas ao contrário, porque valeu a pena.
A animosidade de um sogro, cuja filha se suicidara, contra o genro me chamou a atenção e estimulou meu interesse sobre a história. A cada tentativa do velho Coleman de acabar com Ray Garrett, o viúvo de Peggy, a filha, a história se torna mais interessante. Não sei se pela loucura do velho, por sua obsessão em se vingar do ex-genro, a trama vai se tornando mais atraente e cresce a vontade de ver aonde vai dar aquilo tudo.
Além desses dois personagens centrais, há um pequeno grupo sobre o qual paira um certo suspense, porque não se sabe exatamente que papel irão desempenhar na narrativa, como e se chegarão a agir contra ou a favor de quem, de modo que o interesse cresce sempre. O grupo é formado por Inez, amante de Coleman, e dois casais de amigos que vão formando opiniões pouco a pouco reveladas no texto, mas nunca explicitadas por inteiro.
Ray Garrett se defende de Coleman quase sempre fugindo, lutando para que o pai de Peggy não consiga seu intento. Mas há um episódio em que ele reage à agressão. Os personagens de Highsmith se comportam de modo a não deixar que os leitores formem um juízo definido sobre eles. Exceto talvez no caso do sogro, evidentemente mal intencionado e cheio de ódio, todos os outros deixam margem a dúvidas, especialmente no caso de Ray.
Por conta dessa dubiedade, o leitor vai ficando curioso, mas aos poucos se afeiçoa ao ex-genro sem muita certeza de estar no rumo certo. Como prefiro não estragar o que pode parecer uma surpresa no fim da história, não vou dizer mais nada.
Mas que o livro e essas pessoas envolvidas prendem a atenção do leitor, com certeza prendem sim.