terça-feira, 27 de março de 2012

QUITANDA DA VIDA 69

Telinha Cavalcanti

Hoje, a coluna não é minha, é da Fal. Da Fal, para a Fal. Quilida, roubei suas palavras, roubei sua receita, botei aqui. Porque sua escrita é sensorial, mexe com a gente, com os sentimentos, com a fome.

Então, abre aspas, porque pelo menos desta vez, tem alguém que sabe o que está fazendo nesta coluna.

Paz de tomate

Há algo de calmo, de reconfortante, de cálido, numa boa porção de espaguete ao sugo, com montes de folhas frescas de manjericão e queijo ralado na medida certa. E se ele for comido numa cumbucona, daquelas (sopa), numa sala quase escura, com duas, talvez três taças dum tinto pobre porém honesto, melhor. Você está ali em silêncio, quase sem pensar, e o sal e o doce do tomate fazem companhia, mas a companhia certa, terna e silenciosa que você precisa nesse momento de confusão. Nesse exato momento, sua cumbuca de macarrão é melhor que brigadeiro de colher, quindim ou sorvete de creme com café quente. Sua cumbuca de macarrão dá uma segurança, uma solidez, que nenhum doce é capaz de dar. Você chegou em casa, arrancou o casaco, jogou a bolsa longe, disse boa-noite pro gato, e foi para a cozinha iniciar seu lento ritual de pacificação. Água no fogo, naquela panelona linda. Olha a água fervendo, em silêncio. Depois a massa na água, o molho, o queijo, escolher uma cumbuca bonita, o vinho, o canto da sala. O mundo lá fora ruge furioso, mas você está em paz. Por enquanto.
Tem comidas que são assim. Elas não dão colo, elas não consolam, elas não embalam nossas dores. Elas servem para nos dar paz e para manter o Mal afastado, enquanto nos preparamos para a próxima batalha. Elas são simples de fazer, usam poucos ingredientes e não precisam de nenhum acompanhamento, o que permite que o guerreiro se concentre apenas nela e na sua própria respiração. Era o que Aquiles comia nas praias de Tróia. Era o que o Dr. Martin Luther King comia antes das passeatas pelos direitos humanos. Era o que Aníbal comia, enquanto olhava pros Alpes, olhas pros seus elefantes e pensava “Ah, eu dou conta”. Ou alguém acha que ali, naquela horinha, a minutos da tentativa de encaçapar a bola 8,  eles comiam aperitivos, entradas, risoto afrescalhado e escolhiam entre 3 tipos de sobremesa? 

Espaguete ao sugo
 
Ingredientes
1 Pacote de espaguete (eu uso o grano duro)
1 quilo de tomates
2 cebolas picadas de manjericão
½ xícara de salsa
½ xícara de cebolinha
sal e pimenta do reino
1 colher (sopa) de açúcar
queijo parmesão ralado 

Preparo

Uma das formas de fazer o molho ao sugo, talvez a mais simples, é quando eu liquidifico os tomates, passo a massa por uma peneira e depois levo esse creme ao fogo, onde acrescento, após a fervura, o açúcar, a salsa, a cebola e a cebolinha (atenção! Se você é uma daquelas pobres criaturas que ainda não descobriram o enorme prazer de encontrar pedacinho de cebola na comida, ou tem alguém assim em casa, esqueça a cebola picada!!!). Isso vai cozinhar uns 40 minutos no fogo baixo.

Aí, coloco a maior panela do mundo, cheia de água, no fogo. Não economizo água. O macarrãozinho gosta de nadar com folga. Quando a água ferver, coloco o espaguete lá dentro, espero cozer, tiro, escorro, ponho numa travessa grande, que permita que eu misturo, acrescento o molho, misturo e espalho as folha frescas de manjericão.

Passo uma generosa porção para uma cumbucona, boto queijo ralado (um bom queijo, faz favor, também não economizo no queijo… um queijo ruim bota todo essa trabalho a perder), e vou comer na sala, ouvindo a vida lá fora uivar.

fonte: Avental da Fal