Elaine Pereira
A
humanidade evolui a olhos vistos como nos conta a História, mas algumas coisas
permanecem as mesmas ad eternum. Na
Europa a Eurocopa (é esse mesmo o nome?), aqui a famosa final da Libertadores
envolvendo um time brasileiro de novo. Eu não gosto mas acho que mesmo se
gostasse faltaria fôlego para acompanhar, tem sempre um campeonato acabando,
outro em andamento e outro começando. Alguns times jogam até no campinho atrás
do supermercado, em alguns campeonatos vão bem em outros um desastre. Assim,
ora ouço que o time X está ótimo, ora ouço que o técnico está sendo apedrejado
na rua, e pode ser na mesma semana.
Eu
adoro ser do contra e para mim futebol é totalmente irrelevante, mas pode ser
divertido. E outro fenômeno interessante acontece – uma parte torce contra o
time rival mesmo que seja o time brasileiro, e a outra parte deixa as
diferenças de lado para torcer pelo time brasileiro. As duas maneiras me
intrigam, então resolvi ser da turma do contra (os resultados são totalmente
irrelevantes para o curso da minha vida), só para sentir o gostinho. E então
vemos que o Império Romano sabia mesmo administrar, panis et circenses, porque a mobilização que um jogo de final de
seja lá o que não se obtém com assuntos ditos “sérios”, como reivindicação de
direitos, por exemplo. Não que eu seja dessa tribo, aliás o povo do
“vamos-lutar-pelos-nossos-direitos” me irrita, porque até agora não vi ninguém
lutar por nada de maneira sensata – greve, invasão, ameaça, isso não é luta por
direitos, é baderna mesmo.
A
gente pode angariar o ódio alheio por um motivo tão banal quanto o futebol, e
eu fico perplexa assistindo amigos e parentes de excelente nível cultural, bons
cidadãos, pais e mães de família, xingando, berrando e saindo no tapa com quem
torce pelo contrário. A barbárie em nós ainda me assusta, não são só os crimes
hediondos (filhos matando pais, pais jogando crianças pela janela, mulheres
picotando os maridos, namorados alimentando os cães com o corpo da namorada,
essas coisas básicas) mas também o nosso paladar pelo sangue, pela tragédia.
Quem não anda mais devagar para ver o acidente na estrada? Quais são as
principais notícias do dia? E alardeadas, repetidas, vejam, nós somos mesmo uns
vikings. Não me isento, recentemente (preparem as pedras) estive na tourada e
amei. O neanderthal ainda vive em nós. E ainda batizamos os estádios de futebol
de Arenas.
Tudo
é parte da natureza humana, aqui não vai nenhuma crítica, é o que somos, é o
que ainda seremos por muitas gerações. Não, o mundo não vai acabar, e por mais
que os eco-alguma coisa digam, a água não vai secar, o petróleo não para de
jorrar, o buraco de ozônio não é tão malvado assim, pessoas, vejam, chamem-me
de alienada, porque sou mesmo, mas ainda vamos ter o planeta por um bom tempo,
tipo assim, a eternidade.
Odeio
política, discussão de comportamento social, problemas ambientais, tudo isso me
aborrece até dormir, estou achando muito engraçado este texto partindo de mim,
que vim a passeio nesse departamento. Até vou acrescentar um VIVA! aos homens
que não ligam para futebol – cada vez mais raros, mas sabem que existem coisas
melhores para se discutir do que o resultado que vai mudar mil vezes ao longo
do ano – ou se ele estava impedido ou não.