Mr Glover era um navegante e comerciante escocês. Tsuru, uma mocinha japonesa. Ele vivia dos mares, dos negócios, dos países que visitava. Ela vivia sua vidinha em casa, entre kimonos, cerejeiras, cerimônias do chá. Isso faz muito, muito tempo. Lá pelos anos mil e oitocentos...
mr. Glover
Mr Glover fazia negócios com o Japão. Tinha uma casa no estilo ocidental. Também tinha outra casa lá do outro lado do mundo, na Escócia. Tsuru seguia vivendo a vidinha dela. Até que.
Pois é, quianças, Mr Glover conheceu a nossa heroína, casou com ela e transformou a mocinha japonesa numa esposa quase ocidental. Tsuru saiu do aperto da faixa do kimono - o obi - para o aperto do espartilho dos longos vestidos cheios de anáguas. Saiu do gohan para o pernil, do saquê para o uísque. Teve que aprender novos códigos, novas regras: como viver entre dois mundos em plena Nagasaki, quase dois séculos atrás.
Tsuru
Mr. Glover era Thomas Blake Glover, um ocidental que desempenhou papel importante na modernização do Japão, durante a Restauração Meiji. Ele fundou a primeira mineração de carvão no país - e, tão importante quanto, ajudou a fundar a cervejaria que mais tarde se tornou a empresa de bebidas Kirin (cerveja, saquê e outros líquidos fundamentais para a vida humana neste planeta.)
Mr. Glover com o neto no colo, rodeado pelos filhos, nora e Tsuru
E Tsuru, no meio disso tudo? Teve uma filha, Hana (mr Glover teve um filho, Tomisaburo, com outra mulher). A família morava na embaixada extra-oficial do ocidente no Japão: a Mansão Glover (que compreende duas casas: uma em estilo japonês, outra em estilo ocidental), com o mais belo jardim de Nagasaki, uma vista cinematográfica do porto da cidade, cerejeiras, fontes e uma lenda - aliás, duas lendas.
casa oriental
casa ocidental
Dizem que a sua vida inspirou a ópera Madame Butterfly, de Puccini. Há, em seus jardins, duas estátuas: uma, da Madame Butterfly com seu filho, e outra de Puccini, apreciando a sua heroína.
Madame Butterfly, apontando para o porto de Nagasaki