Dade Amorim
Joyce, James. Dublinenses.Trad. Hamilton Trevisan. Rio
de Janeiro: BestBolso, 2012.
Tenho que confessar que ainda não tinha lido os Dublinenses, de Joyce. Em parte,
traumatizada com o Retrato do artista
quando jovem, que li ainda muito nova (e lá se vão tantos anos que nem vos
conto), me pareceu um texto meio quebra-cabeça. Mas encontrei esse livrinho de
bolso e resolvi encarar. Junto com ele, vem também o Retrato, e aproveitei para presentear o livro antigo. Pretendo reler
esse romance agora, que já me acostumei com tanta coisa meio dissonante e ele
nem me pareceu assim tanto. A gente tem umas impressões um pouco falsas das
coisas a nossa volta, muitas vezes. Nada do que pensava há tantos anos sobre
Joyce se confirma nesses contos. Interessantíssimos, por sinal.
Há autores que seguem uma tradição, outros ficam
preocupados em contar histórias, coerentes ou não, enredadas em acontecimentos
plausíveis. Joyce não tem a mínima preocupação com coerências e enredos. Os
personagens são até bem reais, os diálogos têm sentido, tudo perfeitamente
aceitável como acontecimento, mas não vi a mínima preocupação em convencer o
leitor de alguma coisa e muito menos narrar acontecimentos aceitáveis do ponto
de vista de enredo ou das surpresas com que tantos autores querem nos brindar.
Faz sentido. Joyce, que nasceu em 1882 – e portanto teria
tudo para ser um autor tipo conservador e tradicionalista – é um cara
desprendido dessas pretensões, como aliás se pode observar tanto em Ulysses como no Retrato. Nem posso falar de Finnegans
Wake, que não li sequer nas traduçõe de Augusto de Campos e Donald Schüler –
mas sei que é uma lenha. Agora, que gostei tanto dos contos, pretendo descolar Finnicius
Revém, como ficou o nome da obra
nas traduções.
Dublinenses
é uma coleção de contos um pouco fora do comum. Para mim, o que
sobressai nas histórias de Joyce, talvez de um modo geral, são os sentimentos,
as características de cada personagem. Isso torna a leitura bem interessante,
foge ao usual. Gostei mesmo.