segunda-feira, 18 de junho de 2012

Originalidades de Dublin


Dade Amorim



Joyce, James. Dublinenses.Trad. Hamilton Trevisan. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012.

Tenho que confessar que ainda não tinha lido os Dublinenses, de Joyce. Em parte, traumatizada com o Retrato do artista quando jovem, que li ainda muito nova (e lá se vão tantos anos que nem vos conto), me pareceu um texto meio quebra-cabeça. Mas encontrei esse livrinho de bolso e resolvi encarar. Junto com ele, vem também o Retrato, e aproveitei para presentear o livro antigo. Pretendo reler esse romance agora, que já me acostumei com tanta coisa meio dissonante e ele nem me pareceu assim tanto. A gente tem umas impressões um pouco falsas das coisas a nossa volta, muitas vezes. Nada do que pensava há tantos anos sobre Joyce se confirma nesses contos. Interessantíssimos, por sinal.
Há autores que seguem uma tradição, outros ficam preocupados em contar histórias, coerentes ou não, enredadas em acontecimentos plausíveis. Joyce não tem a mínima preocupação com coerências e enredos. Os personagens são até bem reais, os diálogos têm sentido, tudo perfeitamente aceitável como acontecimento, mas não vi a mínima preocupação em convencer o leitor de alguma coisa e muito menos narrar acontecimentos aceitáveis do ponto de vista de enredo ou das surpresas com que tantos autores querem nos brindar.
Faz sentido. Joyce, que nasceu em 1882 – e portanto teria tudo para ser um autor tipo conservador e tradicionalista – é um cara desprendido dessas pretensões, como aliás se pode observar tanto em Ulysses como no Retrato. Nem posso falar de Finnegans Wake, que não li sequer nas traduçõe de Augusto de Campos e Donald Schüler – mas sei que é uma lenha. Agora, que gostei tanto dos contos, pretendo descolar Finnicius Revém, como ficou o nome da obra nas traduções.
Dublinenses é uma coleção de contos um pouco fora do comum. Para mim, o que sobressai nas histórias de Joyce, talvez de um modo geral, são os sentimentos, as características de cada personagem. Isso torna a leitura bem interessante, foge ao usual. Gostei mesmo.