terça-feira, 19 de junho de 2012

RIO +20 : UM FUTURO ENVENENADO?





Por Claudia Lopes Borio 





 
Escavadeira na Praia de Macaé no Estado do rio de Janeiro (Google imagens)


No momento em que se realiza no Rio de Janeiro a gigantesca conferência sobre o meio ambiente, denominada “Rio + 20”, alguns ambientalistas conduzem visitantes por um “tur” pela capital e pela baía, mostrando os danos ambientais causados por alguns dos gigantescos empreendimentos, como os portos da LLX Logística – do megaempresário de mineração Eike Batista –, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da TKCSA (ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico), na baía de Sepetiba; que sofre também com outros projetos; a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na cidade de mesmo nome; e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) que afeta as comunidades da cidade de Magé, na baía de Guanabara.

 
ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico(imagem Google)


Em uma triste história, os pescadores contam como tais empreendimentos foram acolhidos como salvação da lavoura, achando que criariam muitos empregos e ajudariam a dinamizar a economia local. No entanto, os portos apenas modificaram a paisagem, destruindo a mata, criando túneis e estradas, pontões e trapiches de cimento. A necessidade de dragagem constante mudou as praias, o fundo do mar e até as marés, fazendo com que em alguns lugares o mar se tornasse mais raso. Diversas espécies de peixes que eram comuns desapareceram, assim como siris e mariscos. A poluição é evidente a olhos nus, especialmente quando se carrega minérios. No entanto, os empregos gerados não beneficiaram a população local, pois necessitavam de pessoas com preparo específico e maior escolaridade. Ou seja, contrataram técnicos, engenheiros, pessoas de fora, e não da comunidade.

A população local, que vivia de farta produção de peixes e crustáceos, aos poucos viu a quantidade de peixes diminuir, até o ponto em que estão tendo dificuldades para sobreviver da pesca. Sem estudo nem preparo para exercer outras profissões, encontram também dificuldades em trabalhar. Alguns se tornam pedreiros, ajudantes de obras, empregadas domésticas ou vendedores ambulantes. Profissões mal remuneradas, que não exigem grandes estudos. Afinal, não sabem fazer outra coisa.


Alguns pescadores relatam que possuíam vários barcos, carros, e até caminhões na década de 70, mas que as mudanças na baía e no fundo do mar foram graduais, diminuindo o pescado até acabar com a fartura em que viviam. Os filhos já procuram outras profissões – ninguém mais quer ser pescador. Lá se foram carros, caminhões, até os barcos foram trocados por outros menores.


O próprio turismo sofreu, com a feiúra das construções de concreto, típicas dos portos, que invadem a paisagem. As instalações das empresas são fechadas por altas cercas. No mar, os atracadouros trazem placas: NÃO DESEMBARCAR. A própria polícia marítima trabalha a favor das grandes empresas, impedindo o acesso a docas ou trapiches.


A favor dos pescadores, ninguém se manifesta. Há inclusive boatos de milícias privadas que espancam e intimidam aqueles que tentam protestar contra a instalação dos grandes empreendimentos.


Pontal do Sul-(google imagens)

Aqui na Região Sul vimos assistindo a instalação de portos e empreendimentos semelhantes, como é o caso da modificação que ocorreu na praia da Barra do Saí (fronteiriça entre Paraná e Santa Catarina). Agora fala-se muito em instalação de um moderno porto em Pontal do Paraná. A conversa é sempre a mesma, promessa de melhorias e empregos para a população. Mas será verdade mesmo? E quais as alternativas de emprego que essa população teria, se não fosse o porto?


Interessante notar que Pontal do Paraná ainda reúne uma das áreas mais intocadas de restinga de todo o litoral brasileiro, apontada pelos botânicos como uma região rica, importante, que pode conter plantas valiosas e não estudadas. Só um exemplo, plantas que crescem na beira do mar podem ser utilizadas para plantio e alimentação do gado em regiões desérticas onde a terra tem um grau de salinidade muito alto. Nos Estados Unidos, conseguiu-se cultivar um capim que produz uma semente semelhante ao trigo, oriundo da restinga, em terras salgadas. Ali temos vários tesouros ainda desconhecidos, ameaçados a todo momento por nossa própria ignorância. Além disso, vale lembrar a beleza intocada das praias, com sua larga faixa de areia e mar agradável, menos perigoso ao banho do que nos balneários mais próximos de Caiobá.


Como garantir então a possibilidade de novos empregos para uma região que é praticamente “morta” fora das temporadas de verão? Basta atentar para a natureza ao redor e verificar que não seria difícil criar muitos empregos com a hotelaria sustentável, turismo de aventura, navegação turística, pesca esportiva, conserto e reforma de barcos, cultivo de orquídeas e bromélias, cultivo de palmito, arqueologia dos sambaquis ainda inexplorados e outras tantas coisas que geram muito mais empregos e que podem ser alcançadas com pouco treinamento.


A própria indústria náutica, construção, reparo, modificação e conservação de barcos a vela e a motor é apontada com um dos setores de maior futuro no Brasil, já que possuímos uma costa imensa e totalmente navegável. Fica o desafio para as gerações futuras.
Para quem quiser ler, o artigo sobre o “Tur Tóxico na Rio + 20” está  aqui.