Dorothy Coutinho
Latuff-Google
A Comissão da Verdade instalada recentemente tem como objetivo principal ter acesso aos arquivos do porão da ditadura. Mas cuidado gente: abram os arquivos que quiserem, mas é bom certificar-se se eles não foram esvaziados um pouco antes.
Que prevaleça a Verdade:
- para que nunca mais coloquem uma grávida nua sobre um tijolo, atingida por jatos d’água; - para que senhoras que fazem seu honrado trabalho não sejam despedaçadas por cartas-bombas;
- para que um covarde que bote a boca de um homem torturado no escapamento de uma viatura militar não passe por “homem de bem” onde mora;
- para que políticos reacionários não babem sua raiva na internet com frases amedrontadoras: “Nosso erro foi torturar demais e matar de menos”;
- para que nunca mais teatros e livrarias sejam vandalizados e queimados;
- para que um estudante de psiquiatria não seja obrigado a passar por sentinelas de baioneta calada para ouvir um coronel médico dizer: “histeria é preguiça”;
- para que nossa Força Aérea que nos deu tanto orgulho na Itália, com seus valentes pilotos de caça, não atire pessoas, como se fossem sacos de lixo, no mar;
- para que um pai, ao se recusar a cumprir a ordem de manter o caixão lacrado, não se depare com o corpo destruído do filho, jogado lá dentro feito um animal;
- para que militares honrados não sintam nenhum “constrangimento” na busca da Justiça; - para que cavalos não pisoteiem um garoto com a camisa pegando fogo por estilhaço de bomba, na Lapa;
- para que torturadores não recebam como “prêmio” cargos em embaixadas no exterior;
- para que uma estudante não desmaie num consultório médico ao falar sobre as queimaduras do pai, feitas com tocha de acetileno;
- para que esquartejadores não substituam Tiradentes por Silvério dos Reis;
- para que nunca mais a vida de uma jovem idealista – queixo firme, olhos faiscantes de revolta – seja ceifada por encapuzados.
Para que então, nós brasileiros, possamos homenagear um autêntico herói nacional.