quinta-feira, 16 de junho de 2011

CORRESPONDÊNCIA URBANA. O AMOR ESTÁ NO AR

ANA LAURA DINIZ CONVERSA COM CLÁUDIA LYRA


Cláudia por ela mesma: 42 anos, carioca, bacharel em Direito, com dois filhos lindos já adultos, dois cachorros e muitos amigos.

***
Oi, Cáudiiii Lyyyiiiira!!!

Como é que você está, querida?
Sabe que tem umas duas semanas que penso nas conversas que tínhamos via MSN e bateu uma saudade... daí pensei nos seus dias, e principalmente, a quantas anda você no quesito amor.
Então o desejo dessa correspondência. E como a mente funciona numa espécie de turbilhão, faço uma série de perguntas... algumas, talvez, aparentemente sem sentido, mas espero que fique à vontade para responder o que quiser, da forma como desejar, claro.
O que é amor para você? E de que maneira ele acontece?
Já teve momentos em que se sentiu dentro de "redemoinhos"? Se sim, eles foram positivos, negativos ou foram aqueles que apenas te deixam tonta, sem ar? Aliás, já lhe faltou fôlego ou sobrou em algum sentido? Já fez loucuras ou tomou sérias atitudes por amor? (Por que tem coisas que só por amor, né?).
Você acha que ama/amou as pessoas com as quais se relaciona/relacionou ou o que desperta mesmo paixão em você é o amor pelo amor?
Amar é difícil ou é um processo natural? Por quê?
Você separa amor da paixão? Ou acha que um está intrínseco ao outro?
Você está na fase do amor ou da paixão? E se ama, o que faz pesar para o amor ser maior que certas atitudes?
Amor tem receita?
Amor está atrelado a sexo?
Como você se compara hoje com a Cláudia de 5 anos atrás?
Acha que o amor e o sexo depois dos 40 é melhor? O que mudou? 
Seus filhos lidam bem com essa Lyrão que é puro amor? Apoiam seu amor, sentem ciúmes?
À propósito, ciúmes faz parte do amor? Ou considera ciúmes um porre? Acha que atrapalha ou apimenta a relação?
Já estivemos na era do ficar, agora parece que é a do pegar... mas na real, que era é essa que todos vivemos no amor? Saberia decodificar?
Se tivesse como fazer... como formularia o amor?
E existe amor sem transa, sem sexo?
Ou se há amor, tem que existir sexo?
Quantos tipos de amor existe? Acha que será assim: amará até o fim?

Beijos, beijos,
saudades sempre,
a amiga que te ama,
Ana Laura


***


Oi, NáLaura!!!


Já começa na veia, né? 
Hahahahaha... amor, amor...
Maluca! Enfim... amor é o que me move e eu nem sabia disso. Há até bem pouco tempo, achava que eu era racional. Mas agora, velhinha já, descobri que tive a sorte de, durante muito tempo, amar o que, racionalmente, era aceitável: amei meus pais, meu irmão, meu marido, meus filhos e tudo o que fiz na vida foi por eles. Então, perto dos 40, comecei a me questionar, se o rumo que dei à minha vida era aquele mesmo que eu queria e se eu me amava
enfim... o resto você já sabe: joguei casamento pro alto, me joguei numa paixão doida, tô num redemoinho só há três anos, hahaha.

Descasei, arrumei amantes (não necessariamente nesta ordem), tomei a iniciativa de pedir pra minha mãe ir morar em outra casa, essas coisas. Foi preciso muito amor por mim, principalmente, para fazer isso. Mas é aquela coisa já batida de amar a si próprio para amar os outros direito.

E se isso está acontecendo de fato... Olha... Não sei...

Amar é muito difícil. Porque amar tem a ver principalmente com altruísmo, que é muito difícil.

É muito difícil, por exemplo, acordar de madrugada pra dar de mamar, principalmente se o bico do teu peito tá todo rachado. É muito difícil, por exemplo, aguentar mal humor do marido desempregado. É muito difícil aturar a TPM da esposa. Amor e paixão são coisas bem diferentes pra mim. Mas é bem mais legal amar algo que você esteja apaixonada.

Hum... Estou numa fase de viver minhas paixões. Sou apaixonada por meu namorado, mas já aconteceram coisas que colocaram meu amor por ele a prova e o amor prevaleceu (Credo... frase piegas do carai...).

A empatia faz pesar para que o amor seja maior que certas atitudes...

Sempre que penso no que faz o amor funcionar, me vem a palavra empatia. Se não tiver empatia, não é amor.

A receita é essa: tentar sentir o que a outra pessoa tá sentindo. Uma vez li que "empatia é a sua dor no meu coração".

E é assim, um conjunto de coisas. O amor romântico sempre está atrelado a sexo. E sexo com amor é muito bom, mesmo quando é basiquinho. Um sexo oral em quem você ama vale mais do que todo kama sutra num PA qualquer.

Estou com 42 anos - até outubro pelo menos - e há cinco anos eu estava apavorada com a chegada dos meus 40 anos: insegura, me achando desinteressante, me sentia invisível. 

Naquela época fiquei muito focada no lance de atração sexual, se eu era atraente ou não. E isso desestabilizou todo resto. 

Meu ex-marido me olhava com o mesmo desejo que olhava a cômoda do quarto
(Pelo menos era assim que eu sentia). Outros homens não demonstravam interesse... Agora sei exatamente o meu poder de fogo e isso, de repente, passou a ter uma importância menor na minha vida. Virei "Lyrao" e isso simplesmente é só uma parte pequena de mim. Uma parte que não preciso me preocupar mais.

A parte maior tem a ver com os relacionamentos, família e amigos. Os homens que se aproximam tendem a virar amigos, porque adoro conversar, ser gentil, ser prestativa.

... meu ex, é claro, ficou muito magoado. Minha mãe tem toda uma preocupação religiosa, vou ser destruída no juízo final, essas coisas... porque, nesse meu redemoinho, também abandonei a religião e coisa e tal. Mas todo mundo reconhece que estou em paz, tô tranquila. Descontinuei algumas amizades, mas ganhei outras.

NáLaura, você tinha que ter me conhecido na época braba. Meu blog (abandonadíssimo) tem alguns textos que refletem minha cabeça na época. Cara... leio aquilo e até me assusto. Todo esse redemoinho é positivo, mas fico tonta e sem ar... ainda bem que tenho muito fôlego, hauahuahauahua.

E foi assim. Euzinha, perto dos 40 anos, comecei a achar que, se não desse uma guinada na minha vida naquela época, nunca mais daria e, decididamente, aquela não era a vida que eu queria. Então não vacilei e resolvi mudar tudo, só não mudei de emprego, hauhauahua.

Logo no início, fiquei loucona, virei mó baladeira, namoradeira que só, aquelas... me diverti muito! Com o tempo fui chegando no meu prumo. Tô feliz, tô tranquila, tô amando. Meus filhos estão bem, amo meu namorado. Pra ficar perfeito, só me falta mais dinheiro, huahauhau.

E meus filhos lidam bem com essa nova Lyrão. Não me apoiam no amor porque implicam com todos os meus "pretendentes". Talvez seja um pouco de ciúmes e meu namorado, sabe como é? é uma coisa polêmica, né?

É a tal coisa... amo alguém que, racionalmente, não era pra amar. E olha, ciúme é uma meeeerdaaaaa, um porre, mas é difícil não sentir, sei lá...

Não sou extremamente ciumenta, mas tenho ciúme de todo mundo: dos amigos, dos filhos, dos peguetes, do namorado. Tenho ciúme porque meu cachorro Pimpão obedece mais ao Lucas do que a mim. Credo, é um horror. Não acho que tem a ver com amor e, sim, com orgulho. E tudo depende. Quando é exagerado, atrapalha muito. Quando só te dá um apertinho no peito e te motiva a superar um suposto concorrente, apimenta. Sem contar que, quando a gente vê o outro tendo uma pontinha de ciúme de você, dá aquela sensação gostosa de que o outro te valoriza. Mas nada de exageros, escândalos e bafão - isso é horrível.

Olha... e essa coisa de tempo é uma coisa estranha. Na boa, não tenho o menor problema de "pegar" ou "ficar". Já me aconteceu várias vezes de estar em algum lugar e sentir vontade de ficar com alguém sem compromisso. Já rolou isso com amigos, inclusive. E a gente se deu uns pegas, satisfez o tesão e pronto acabou.

O que me incomoda é quando o sujeito (e isso acontece principalmente da parte dos homens em relação às mulheres) sinalizam com uma promessa de compromisso quando só querem mesmo pegação. Acho isso desonesto. Acho que a outra pessoa tem o direito de saber que é só pegação e escolher se está a fim disso ou não.

Uma vez, teve um cara que saiu comigo várias vezes. E nessas oportunidades nem chegou a me tocar. A gente ia almoçar juntos, tomar café, coisas assim
e só conversava. Quando ele me deu o primeiro beijo, olhou bem dentro dos meus olhos e disse que queria namorar sério comigo. Tão lindinho. Aí, alguns dias depois, finalmente fomos pro motel, e só nesse dia fiquei sabendo (por acaso) que o cara era casado. Sacanagem isso.

Outro cara me levou pra conhecer amigos, me fez surpresa à luz de velas regada a espumante, andou comigo por dois meses pra cima e pra baixo e aí um belo dia, ligo pra casa dele, e atende uma outra mulher que começou a fazer um escândalo. Fala sério... expõe a gente a certas coisas... não tem necessidade disso, gente... sou tão facinha, não precisa prometer nada, huahuahauhauahua... brincadeira... não é isso (é que sou boba, né, Nálaura, você sabe, se não fizer uma piadinha... não sou eu).

Mas imagina formular o amor? Só você pra me jogar essa... tipo E=m²? ixi... acho que errei a fórmula da energia... cara... acho que amor não tem fórmula. Tem coisas que são básicas, né? Respeito, empatia principalmente. Não tem amor que sobreviva à falta de respeito e não existe amor sem empatia. Também não existe amor romântico sem transa. Se for amor romântico, veja bem, não tem cabimento querer fazer sexo com a mãe, huahuahua.

Sério... duas pessoas que estão romanticamente ligadas? Tem que ter sexo, tem que ter tesão. É claro que o tempo que estão juntos e a idade e a saúde de cada um influenciam. Conheci um casal de idosos que deviam fazer sexo, sei lá, uma vez a cada trimestre, mas faziam. Porque não eram meros irmãos ou companheiros... eles eram romanticamente ligados. E a gente via isso em outros momentos dos dois. O cara, por exemplo, passava a mão na bunda da mulher disfarçadamente... e os dois já tinham mais de 80 anos. É um comportamento sexual, não é?

Pois é... rolava um tesão ali e era legal ver isso. Ela faleceu... tadinha, ela era muito doente, mas ela morreu parecendo mulher ainda... não era um ser assexuado. 

E não sei se será assim... não sei se amarei até o fim. Se eu continuasse casada com meu ex, não seria. E tem horas que rezo pela extinção da minha libido, porque homem dá muito trabalho.

E são muitos tipos de amor pra gente administrar, né? Ih, hahua, o filial, o fraterno, o erótico/romântico, o amor paterno/materno. Hum... bom... tem tempo que percebi que a vida é cíclica, tem fases...

E a gente é feliz se tiver paciência de esperar as fases ruins passarem... porque elas passam. 

Mas também não vale a pena ser inerte.

Sabe como é: a gente tem que estar sempre de espora, porque nunca sabe quando o cavalo vai passar, huahaua. Se a coisa te incomoda e você vê que tem como mudar, então reúna coragem e mude... Acho que é isso.