domingo, 1 de julho de 2012

SENHORA DO TEMPO: GLOBO DE OURO

Telinha Cavalcanti

Foi outro dia, mesmo. Uma amiga avisou que estavam passando reprises do Globo de Ouro num canal da TV a cabo. E eu fui ver.

Eram outros tempos, crianças. Mais ingênuos? Talvez. Sei que as pessoas pareciam mais naturais. Os dentes, os cabelos. Hoje todo mundo parece saído de uma fábrica de dentes alvíssimos e cabelos lisos. Sim, nos anos 80 havia artiscas, cantores, atores, dentes e cabelos horríveis - e nem me fale da moda, das dancinhas, dos hits.

 


O cabelo armado, as backing vocals, a narração "natural" de César Filho e Isabela Garcia. As ombreiras. Meu deus, as ombreiras.

Mas a reprise do Globo de Ouro trouxe a adolescente que eu era, dançando da frente da TV, comprando LPs no Clube do Disco da Mesbla - junte dez cupons e ganhe um disco grátis!

A adolescente que gravava fitas com os sucessos das FMs, que tinham programas especiais para quem quisesse gravar, dez músicas sem intervalo - mas, ah, com vinhetas! como eu detestava as vinhetas das rádios! Uma loja de discos oferecia o serviço de gravação de fitas, então a gente elaborava as listagens dos lados A e B, somando o tempo das músicas para não ficar nenhuma cortada. E, geralmente, lado A era dançante, lado B era romântico.

O rock nacional era o máximo nos anos 80; quem hoje é medalhão, dinossauro, mito, tava começando, moleques como Os Paralamas do Sucesso, com Herbert Vianna de óculos vermelho, ainda sem acreditar nos shows lotados; os Titãs com tanta gente que mal cabia no palco, Kid Abelha com Paula Toller de minissaia. Todos, hoje, consagrados; naquela época, como diria o Legião, éramos tão jovens.

Pesquisando no site do programa, encontro estas atrações de 1988: Simone, Angélica, TNT, Carla Daniel, Rita Lee, Capital Inicial,  Fafá de Belém, Fagner e José Augusto. TNT? Não tenho a mais vaga recordação desse grupo. A Carla Daniel virou atriz, tá na reprise de Chocolate com Pimenta como a Dária, prima jeca da protagonista.

Bobaginhas pop descartáveis, músicas de protesto, músicas censuradas... era assim a nossa trilha sonora; sexta à noite era Globo de Ouro, sábado à tarde a gente via o Chacrinha, domingo, no Fantástico, tinha sempre dois novos clipes: um nacional e um em inglês, traduzido nas legendas. A música, a informação, funcionava de um jeito diferente, mais lento, menos profissional do que hoje.

Mas isso não importa; ligo a tv e danço o meu roquinho oitentista, não na TV do meus pais, imensa, pesadona, ainda sem controle remoto; danço na frente da minha tv, na minha casa, com 40 anos já vividos, e volto a ser menina,  berrando que ainda encontro a fórmula do amor, uou, uou, uou...