quarta-feira, 11 de julho de 2012

SHAKESPEARE COM PEQUI

Por Telinha Cavalcanti

Sergio Ricardo Soares, pernambucano, professor do curso de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, lançou o curta-metragem WILLIAM SHAKESPEARE´S MACBETH DO TOCANTINS semana passada no evento Cinema Off - Tocantins.



PF: Sérgio, o que você buscou ao fazer o curta? Como veio a idéia de ambientar uma história da antiga Escócia no Tocantins?

SÉRGIO RICARDO SOARES - A ideia veio da vontade de continuar realizando cinema em outras terras. No caso do Tocantins, tudo me é um pouco estranho, desabitual: hábitos, temperamento, sotaque, clima, paisagens, etc. Então eu quis trazer esse estranhamento pro cinema, claro, com resultados cômicos.
Aí foi só prosseguir no trabalho com o absurdo: primeiro, condensar Macbeth em menos de 15 minutos. Segundo, colocar elementos locais que nada tinham a ver com a peça original. Terceiro, manter alguns elementos da ambientação européia, medievais, para aumentar ainda mais o absurdo. Houve então um cuidado muito grande para fazer algo surrealista, algo sarcástico, mas que não levasse a uma visão agressiva sobre o lugar, que respeito (embora não me encaixe nele) procurei usar sobretudo algumas características da fala local que me soam muito engraçadas ou bizarras, atribuindo cada aspecto desse a um personagem diferente. Creio que no final tudo soou como uma homenagem bem humorada

PF: Como foi a escolha dos atores?


SRS: Como em quase todos os outros trabalhos, contei com a boa vontade e os esforços dos alunos do curso. Não houve financiamento algum. Então, tudo foi na base dos empréstimos e do improviso. Isso incluiu o elenco, que conta com apenas dois profissionais.

PF: Qual a importância do uso do Facebook durante as filmagens?

SRS: Usei para chamar o pessoal pras reuniões e ensaios, é mais fácil do que usar email. E, claro, como divulgação para os teasers do filme.

PF: Como você foi parar em Palmas? É uma cidade feita por migrantes? A ideia que eu tenho é das cidades amazônicas fundadas nos anos 70/80, cuja população veio de longe...

SRS: Prestei concurso para professor na Universidade Federal de Tocantins. Vivi a vida inteira em Recife - com um breve intevalo, durante a infância, quando minha família morou no Rio de Janeiro. Já são 3 anos em Palmas. E sim, na gênese da cidade tem isso. Porém, esse fato é aproveitado de forma distorcida pelo poder local, dando a impressão de que há uma diversidade e que a cidade é de todos e para todos. Na verdade, ela foi criada por uma elite goiana e, culturalmente, embora haja gente de todos os estados, a natureza goiana é quem acaba dominando. Está no sotaque, na culinária, na geografia e há ainda uma força imensa das culturas do Maranhão e do Pará, porém, em geral essas duas faces sejam tratadas com preconceito e remetam mais às classes menos privilegiadas. Em resumo: ricos são pós-goianos, pobres são pós-paraenses e principalmente, maranheneses. O resto dos estados, no máximo forma guetos, sobretudos os gaúchos. A maior evidência disso tudo: só há uma música aqui - pseudo-sertanejo.

PF: Quais seriam, então, as opções culturais de Palmas para quem não curte o modelo churrasco-pescaria-cerveja-música sertaneja? Existe contracultura em Palmas?

SRS: Fraquíssima. E o que contam aqui é que já houve mais. Já houve muito punk, muito gótico, shows de heavy metal, mas tudo isso vai perdendo terreno pras pecuárias (coisas tipo rodeio) e bares sertanejos. Até pouco mais de um ano atrás só havia um cinema, e que ainda por cima tirava férias. Hoje já tem Cinemark e Lumière, com péssimas programações. A referência cultural da cidade cada vez mais é o SESC, com bom teatro, bom cinema, concertos e exposições. Agora está acontecendo uma imensa feira literária, a FLIT (Festa Literária Internacional do Tocantins) e é a melhor opção cultural anual.

PF: Dentro deste contexto, a sua iniciativa com o curta é ainda mais significativa. Já tem planos para novos filmes? (William Shakespeare´s Macbeth do Tocantins é o quarto curta-metragem de Sérgio Ricardo Soares, que já dirigiu Pulga D´Água, Os Beijos Que Não Te Dei e Reduto, enquanto morava em Recife).

SRS: Sim, vários, mas batem no financiamento. Sem dinheiro, não pretendo fazer mais nada. É muito desgastante e com pouco reconhecimento. Há um grande projeto de documentário pra participar dos editais (desde que alguém faça o projeto por mim, pois tenho alergia aos formulários). Sobre os curtas anteriores, Pulga D´Água teve quatro prêmios no festival de cinema digital da FUNDAJ, creio que em 2004; Os Beijos Que Não Te Dei foi o melhor roteiro no FAM - Festival Audiovisual Mercosul em Florianópolis, em 2006 e Reduto não teve carreira, foi excluído de todos os festivais em Pernambuco.

PF: Qual a aceitação de William Shakespeare´s Macbeth do Tocantins?


SRS: MACBETH foi limado do maior festival daqui, o CHICO, que está ocorrendo essa semana. Foi considerado de baixa qualidade, o que falaria mal contra o cinema local.

PF: Você pretende inscrever o curta em mais algum festival?


SRS: Certamente. Mas ainda vou investigar o que há de mais recomendável.

PF: Por que você decidiu colocar o filme no youtube, uma vez q pretende divulgá-lo em festivais?


SRS: Vou mandar pra festivais, mas não conto com eles. Acho que pra um produto deste tipo a internet é o melhor meio de divulgação.

PF: Qual o seu conselho para quem se sente exilado culturalmente na cidade onde vive?

SRS: Nade contra a corrente para se sentir vivo culturalmente. Sempre haverá duas ou três pessoas que te ouvirão.


A ambição de uma mulher, 
a fraqueza de espírito de um homem 
e uma profecia maldita.
Essa combinação mancha de sangue 
os pequis de um reinado marcado pela loucura.
Uma produção LaMélèque livremente inspirada
na obra "Macbeth", de William Shakespeare.
Clique no link para assistir