quinta-feira, 17 de maio de 2012

84, CHARING CROSS- INVERNO




 Elaine Pereira

Hades e Perséfone 



Está chegando o tempo de Perséfone voltar a Hades. O outono já anuncia os preparativos da viagem em que Perséfone volta ao seu amor.

Eu particularmente não gosto do frio, eu me sinto desprotegida. Mas me agrada acompanhar o ciclo, as folhas caem, as pessoas se recolhem, é como se o exagero do verão exigisse um descanso.

Depois que atingimos uma determinada idade começamos a ter uma perspectiva mais ampla, obviamente por ter mais pontos de referência acumulados. Não sei se a vida vem em ciclos. Os óbvios, sim, nascemos, alguns de nós reproduzimos, e depois morremos, mas a diversidade humana é tão fascinante que acho que esses são os únicos ciclos que todos temos em comum.

Quando somos jovens, há tantas perspectivas mas não temos os referenciais, raros são os que sabem o que querem. E mesmo esses mudam de ideia ao longo do caminho.

O que aprendi nestes últimos anos é que sempre é tempo. O tempo só para para quem não quer andar com ele. Eu tive uma vida muito calma (demais) por muitos anos, hoje minha vida é um redemoinho. Escolhas. 

Mas há que se escolher o vórtice, a paixão pela vida. O que viemos fazer aqui? Quem sabe? Então perder tempo para quê?

Outra constatação que vem com a maturidade é o inexorável “This too will pass”. Não há absolutamente nada que não mude e por mais pétrea que pareça uma situação amanhã com certeza ela será diferente. Isso é de certo modo reconfortante, mas inquietante. Não queremos que o que é bom vá embora. Mas o que é bom muda também e passa a ser não tão bom.

Então, simplificando tudo, não há nada a perder. E se não há nada a perder, temos tudo, todas as possibilidades, os universos paralelos devem existir, afinal.

Talvez Perséfone não tenha querido voltar para sempre porque percebeu que o maior horror de todos, ser levada por Hades, tinha também seu “nada a perder”. Hades fez dela uma mulher, e a terra foi salva por ela concordar em satisfazer também à mãe.

Acho que poderíamos aproveitar o inverno, que não tarda, para brincar de Perséfone.

Perséfone e Hades