Em alguns textos mencionei meus hábitos de leitura quando criança,
uma vez frequente, hoje atrofiado pela falta de tempo, e em outros 90%
mencionei meu hábito de escrever.
Nesta semana, uma amiga me
perguntou numa rede social sobre algo que eu estava com saudade, e me
lembro muito bem, mesmo sem falar deste assunto há tempos. Vontade nunca
me faltou, o problema era não ter com quem falar sobre... Enfim,
resolvido num texto gigantesco e super nostálgico.
"Desventuras Em
Série" foi uma série de livros que, apesar de bastante conhecida, nunca
teve o mesmo apelo publicitário do que "Crepúsculo" ou "Harry Potter".
Principalmente porque a adaptação dos 3 primeiros livros ao cinema,
mesmo com o tão aclamado Jim Carrey como o vilão Conde Olaf, não fez
tanto sucesso. Particularmente, não sei por que. Mas entendo que a
sensação dos livros é completamente diferente e seria impossível de
passar nas telas, e era este o motivo da minha tamanha obsessão por
anos. Além de tudo, foi uma parte da minha história.
Tudo começou em 2004, quando eu tinha 8 anos e vi o filme. O
comecinho me assustou. Mas obviamente me apaixonei no fim, e achei
genial. Muitos meses depois, eu já havia esquecido, e por acaso
encontrei o quarto livro numa loja. Pedi incessantemente a minha mãe que
comprasse, mas, o primeiro volume estava esgotado. Tive que superar
essa... Só o ganhei de natal da minha tia, no mesmo ano, e li em 30
minutos. Era uma traça de livros como meu personagem favorito Klaus, um
poço de curiosidade. E a partir daí, em
2005/2006, sempre que podia, devorava um novo volume e comprava o
próximo, assim li até o 11º. Em janeiro de 2007, li o 12º (que é meu
favorito até hoje) e no primeiro dia de aula li o 13º e último da série.
Enrolei um tempo nesse, por
querer prolongar meu carinho... Mas infelizmente tudo teve que acabar.
Em
síntese, é a história de 3 órfãos geniais (Violet, 14 anos, inventora.
Klaus, 12 anos, leitor assíduo. Sunny, um bebê mordedor de objetos e muito ciente de tudo)
cujos os pais morreram em um incêndio misterioso e um ator perverso que
os persegue interessado em sua herança. Passaram anos a fugir, trocando
de tutores, mesmo assim sem sucesso. Paralelamente, há a história do
narrador, que também é um personagem distante, porém mais presente do
que imaginamos. Nisso há suspense, disfarces, assassinatos, fugas,
mal-entendidos, uma organização secreta, mistérios (alguns sem
resolução), e personagens hilários e únicos. O que mais gostava sobre
eles é que mesmo tendo bem definidos "vilão" e "mocinhos", você sempre
tem um espaço pra decidir o que pensa e mudar seus conceitos sobre eles.
São como seres humanos, indefinidos, "maus" ou "bons" dependendo da
atitude. O autor também faz diversas paradas pra falar de coisas
aleatórias (que há pouco descobri chamar "apóstrofe"), inspiradas no
estilo de Douglas Adams (atualmente meu ícone ateísta), contendo além de
humor, assuntos e referências muito inteligentes que me ensinaram
grande parte das coisas que sei hoje e que me lembro de ter aprendido
por conta própria. 13 livros pequenos que parecem passar até
despercebidos diante do vício.
A pior parte é que, honestamente,
eu acreditava naquilo com toda a minha alma. Queria fazer parte da
organização, ser biógrafa e dedicar minha vida a investigar todos
aqueles acontecimentos misteriosos a respeito dos incêndios. Então mesmo
se encontrar outra série de livros que resgate meu interesse,
provavelmente nunca me envolverei tanto quanto foi com essa. O autor,
Lemony Snicket (ou Daniel Handler, descobrir que era um pseudônimo, só
um
personagem, foi tipo a pior decepção da minha vida), era meu ídolo
assumidamente na escola, e minha inspiração em todos os sentidos. Eu não
falava de outra coisa... Minhas redações eram todas inspiradas ou sobre
a série. Pra ser sincera, o papel do Lemony na minha vida foi me
inspirar (e muito) na escrita, e é assim até hoje. Não consigo mais ler
livros, porque nenhum autor
escreve com o humor dele, com os detalhes, as metáforas. Era uma
obsessão, eu estava fascinada. É claro que depois de alguns anos os
hormônios sufocaram tudo isso e esse fato foi a única coisa capaz de me
desvencilhar.
Até tento voltar a estes tempos pela nostalgia, reli
o 12º livro em
inglês, e alguns extras que não foram lançados no Brasil, como o The
Beatrice Letters e o Notourious Notations. Reli
também meu "livro de lugar-comum" da época (ainda tenho um nos dias de
hoje, o caderninho moleskine inseparável), repleto de descobertas e
minhas
tentativas/palpites de decifrar códigos enquanto lia os livros, e a
Autobiografia Não-Autorizada umas 30 vezes sem dúvida. Vi o filme todas
as vezes possíveis, já que mostro o dvd a todos... Mas o que me fez
matar a saudade do estilo genial do Lemony foi o "Raiz Forte" que foi
traduzido e lançado recentemente, com frases inspiradoras e como sempre
engraçadas.
Enfim... Desventuras em Série é muito mais que uma série de livros. É uma fase da minha vida que nunca vai passar.
(pensei em colocar um "Aqui o mundo é sereno" ou um "Respeitosamente", mas é melhor deixar pra lá).