A crônica de Vera Guimarães, Eu e a Bicicleta, foi publicada em 11/12/2011. Faz tempo!
Hoje está republicada porque Patricia Caetano fez a ilustração abaixo, para a mesma:
EU E A BICICLETA
Por Vera Guimarães
Recentemente, em Pirenópolis, GO, visitamos o MUSEU RODAS DO TEMPO .
Num espaço muito bem cuidado e agradável, estão expostos veículos de duas rodas, motos de diversos países e épocas. E como a moto se originou da bicicleta, um bom pedaço do museu é dedicado a ela, a magrela, a bike. Os idealizadores do museu tiveram a gentileza de acionar artesãos, verdadeiros artistas, que fizeram réplicas das primeiras engenhocas, o celerífero, a draisiana e a bone shaker (chacoalhador de ossos).
“A história da bicicleta começa de fato com a criação de um brinquedo, o "celerífero", realizado pelo Conde de Sivrac. Construído todo em madeira, constituído por duas rodas alinhadas, uma atrás da outra, unidas por uma viga onde se podia sentar. A máquina não tinha um sistema de direção, só uma barra transversal fixa à viga que servia para apoiar as mãos.”
roberto-menezes.blogspot.com
“O alemão Barão Karl von Drais, engenheiro agrônomo e florestal vindo de família de posses, pode ser considerado de fato o inventor da bicicleta. Em 1817 instalou em um celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas e com isto manter o equilíbrio da bicicleta quando em movimento. Além do mais a "draisiana" vinha com um rudimentar sistema de freio e um ajuste de altura do selim para facilitar o seu uso por pessoas de diversas estaturas.”
“James Starley, um apaixonado por máquinas e responsável pelo desenvolvimento das máquinas de costura fabricados pela Coventry, decidiu repensar este biciclo e acabou criando um modelo completamente diferente. Tinha construção em aço, com roda raiada, pneus em borracha maciça e um sistema de freios inovador. Sua grande roda dianteira, de 50 polegadas ou aproximadamente 125 cm, fazia dela a máquina de propulsão humana mais rápida até então fabricada.”
presenteparahomem.com.br
O mais incrível é que Leonardo da Vinci já havia feito projetos muito mais elaborados para um veículo de duas rodas, provido de muito mais recursos que os dos modelos acima. Será verdade?
“O primeiro projeto conhecido de uma bicicleta é um desenho de Leonardo da Vinci sem data, mas de aproximadamente 1490. Só foi descoberto em 1966 por monges italianos.
Os princípios básicos de uma bicicleta estão lá: duas rodas, sistemas de direção e propulsão por corrente, além de um selim.”
Estas e muitas outras histórias compõem a memória da bicicleta, contada aqui: escola de bicicleta
Já as MINHAS lembranças, suscitadas pela visita ao museu, incluem as bicicletas como as conhecemos hoje e remontam aos meus verdes anos, lá pelos seis, sete anos. Meu irmão mais velho, muito meu amigo, me botava no quadro da bicicleta e me levava com ele quando ia namorar. Eu adorava esses passeios. Naquela casa agradabilíssima, de pessoas gentis, era servido um delicioso café com quitandas. Quando o sono me vencia, eu ia para o quarto de passar roupa e desabava na cama onde se empilhavam perfumadas roupas recém-lavadas. Não sei como ia embora.
Algum tempo depois, já com turma, inventávamos passeios pelos arredores, piqueniques, idas ao Posto Agropecuário, tudo fora da cidade. Eram passeios deliciosos, alegres, festivos e... arriscados, claro, que a gente abusava do Anjo da Guarda. Não tínhamos bicicleta feminina, então eu calçava a cara e pedia emprestada a de alguma amiga da família. Obrigada, Ilma Francisco!
Aos 15 anos, já trabalhando, uma irmã e eu nos associamos e compramos a desejada bicicleta a prestação, uma linda PHILLIPS inglesa, cor vinho, aro 26. Com ela íamos ao trabalho, minha irmã visitava as muitas amigas, eu ia aos treinos de vôlei na Praça de Esportes, à igreja, dava voltas na lagoa. Que linda ela era!
Até os selos espalhados pelos componentes da bicicleta atestam como tudo era feito com carinho e requinte.
«http://www.8p.com.br/bestservice/flog/a60001949/#a60001949
Nas décadas 1940/1950 nossas ruas exibiam profusão de bicicletas, usadas não apenas para lazer. As pessoas iam e voltavam pedalando no trajeto casa-trabalho, pais levavam crianças à escola, verdureiros transportavam sua mercadoria em bicicletas, mensageiros se deslocavam de um ponto a outro da cidade. A via pública era democrática e acolhia a todos com generosidade, fossem caminhões, bicicletas, automóveis, carroças, pedestres, cavalos. Era a política do compartilhamento do espaço urbano, com grande dose de paciência e respeito a todos.
Infelizmente isso aqui desapareceu. Já em grandes cidades europeias incentiva-se cada vez mais o uso de transporte não poluente e não atravancável. Em Paris, o projeto VÉLIB como alugar uma bicicleta em Paris é um sucesso. Em Amsterdam, executivos bem arrumados transitam vestidos com elegância, portando suas pastas executivas, em bicicletas bem velhinhas, nem um pouco ostentatórias. Jovens mães atrelam caixotinhos às suas e ali colocam as criancinhas, e compartilham a via pública com carros e enormes trens urbanos.
Por falar em bicicleta e Amsterdam, uma brasileira foi morar ali por perto e precisava se deslocar do bairro dela até o centro da cidadezinha. Mas aos 60 anos nunca havia andado de bicicleta. Uma amiga se dispôs a ajudá-la a desvendar os segredos do equilíbrio com impulsão. Aquilo virou atração, já que as pessoas não concebiam que algum adulto não soubesse andar de bicicleta. Supunha-se que já se nascia sabendo. Sei que, no dia em que finalmente a amiga a soltou e ela saiu pedalando, de uma construção próxima vieram estrepitosos aplausos e vivas!
Da mesma maneira como lamento o desaparecimento dos trens, lamento a hoje inviável convivência de carros e bicicletas. Aqui, por supuesto. Porque em Amsterdam... ai! (suspiros de inveja)
Recentemente, em Pirenópolis, GO, visitamos o MUSEU RODAS DO TEMPO .
Num espaço muito bem cuidado e agradável, estão expostos veículos de duas rodas, motos de diversos países e épocas. E como a moto se originou da bicicleta, um bom pedaço do museu é dedicado a ela, a magrela, a bike. Os idealizadores do museu tiveram a gentileza de acionar artesãos, verdadeiros artistas, que fizeram réplicas das primeiras engenhocas, o celerífero, a draisiana e a bone shaker (chacoalhador de ossos).
“A história da bicicleta começa de fato com a criação de um brinquedo, o "celerífero", realizado pelo Conde de Sivrac. Construído todo em madeira, constituído por duas rodas alinhadas, uma atrás da outra, unidas por uma viga onde se podia sentar. A máquina não tinha um sistema de direção, só uma barra transversal fixa à viga que servia para apoiar as mãos.”
roberto-menezes.blogspot.com
“O alemão Barão Karl von Drais, engenheiro agrônomo e florestal vindo de família de posses, pode ser considerado de fato o inventor da bicicleta. Em 1817 instalou em um celerífero um sistema de direção que permitia fazer curvas e com isto manter o equilíbrio da bicicleta quando em movimento. Além do mais a "draisiana" vinha com um rudimentar sistema de freio e um ajuste de altura do selim para facilitar o seu uso por pessoas de diversas estaturas.”
“James Starley, um apaixonado por máquinas e responsável pelo desenvolvimento das máquinas de costura fabricados pela Coventry, decidiu repensar este biciclo e acabou criando um modelo completamente diferente. Tinha construção em aço, com roda raiada, pneus em borracha maciça e um sistema de freios inovador. Sua grande roda dianteira, de 50 polegadas ou aproximadamente 125 cm, fazia dela a máquina de propulsão humana mais rápida até então fabricada.”
presenteparahomem.com.br
O mais incrível é que Leonardo da Vinci já havia feito projetos muito mais elaborados para um veículo de duas rodas, provido de muito mais recursos que os dos modelos acima. Será verdade?
“O primeiro projeto conhecido de uma bicicleta é um desenho de Leonardo da Vinci sem data, mas de aproximadamente 1490. Só foi descoberto em 1966 por monges italianos.
Os princípios básicos de uma bicicleta estão lá: duas rodas, sistemas de direção e propulsão por corrente, além de um selim.”
Estas e muitas outras histórias compõem a memória da bicicleta, contada aqui: escola de bicicleta
Já as MINHAS lembranças, suscitadas pela visita ao museu, incluem as bicicletas como as conhecemos hoje e remontam aos meus verdes anos, lá pelos seis, sete anos. Meu irmão mais velho, muito meu amigo, me botava no quadro da bicicleta e me levava com ele quando ia namorar. Eu adorava esses passeios. Naquela casa agradabilíssima, de pessoas gentis, era servido um delicioso café com quitandas. Quando o sono me vencia, eu ia para o quarto de passar roupa e desabava na cama onde se empilhavam perfumadas roupas recém-lavadas. Não sei como ia embora.
Algum tempo depois, já com turma, inventávamos passeios pelos arredores, piqueniques, idas ao Posto Agropecuário, tudo fora da cidade. Eram passeios deliciosos, alegres, festivos e... arriscados, claro, que a gente abusava do Anjo da Guarda. Não tínhamos bicicleta feminina, então eu calçava a cara e pedia emprestada a de alguma amiga da família. Obrigada, Ilma Francisco!
Aos 15 anos, já trabalhando, uma irmã e eu nos associamos e compramos a desejada bicicleta a prestação, uma linda PHILLIPS inglesa, cor vinho, aro 26. Com ela íamos ao trabalho, minha irmã visitava as muitas amigas, eu ia aos treinos de vôlei na Praça de Esportes, à igreja, dava voltas na lagoa. Que linda ela era!
Até os selos espalhados pelos componentes da bicicleta atestam como tudo era feito com carinho e requinte.
«http://www.8p.com.br/bestservice/flog/a60001949/#a60001949
Nas décadas 1940/1950 nossas ruas exibiam profusão de bicicletas, usadas não apenas para lazer. As pessoas iam e voltavam pedalando no trajeto casa-trabalho, pais levavam crianças à escola, verdureiros transportavam sua mercadoria em bicicletas, mensageiros se deslocavam de um ponto a outro da cidade. A via pública era democrática e acolhia a todos com generosidade, fossem caminhões, bicicletas, automóveis, carroças, pedestres, cavalos. Era a política do compartilhamento do espaço urbano, com grande dose de paciência e respeito a todos.
Infelizmente isso aqui desapareceu. Já em grandes cidades europeias incentiva-se cada vez mais o uso de transporte não poluente e não atravancável. Em Paris, o projeto VÉLIB como alugar uma bicicleta em Paris é um sucesso. Em Amsterdam, executivos bem arrumados transitam vestidos com elegância, portando suas pastas executivas, em bicicletas bem velhinhas, nem um pouco ostentatórias. Jovens mães atrelam caixotinhos às suas e ali colocam as criancinhas, e compartilham a via pública com carros e enormes trens urbanos.
Por falar em bicicleta e Amsterdam, uma brasileira foi morar ali por perto e precisava se deslocar do bairro dela até o centro da cidadezinha. Mas aos 60 anos nunca havia andado de bicicleta. Uma amiga se dispôs a ajudá-la a desvendar os segredos do equilíbrio com impulsão. Aquilo virou atração, já que as pessoas não concebiam que algum adulto não soubesse andar de bicicleta. Supunha-se que já se nascia sabendo. Sei que, no dia em que finalmente a amiga a soltou e ela saiu pedalando, de uma construção próxima vieram estrepitosos aplausos e vivas!
Da mesma maneira como lamento o desaparecimento dos trens, lamento a hoje inviável convivência de carros e bicicletas. Aqui, por supuesto. Porque em Amsterdam... ai! (suspiros de inveja)