Por Dade Amorim
Calvino, Italo. O barão nas árvores. Tradução de Nilson Moulin. (2009) São Paulo: Companhia das Letras.
As histórias da Segunda Guerra, que motivaram vários autores no fim dos anos de 1940, domínio do neo-realismo italiano, trouxeram-lhe a fama como autor de A trilha dos ninhos da aranha, de 1947. Em 1956, quando Calvino escreveu Fábulas italianas, uma visão completa ou quase das histórias populares da Idade Média italiana, percebeu que, bem avaliada, a lógica dessas histórias não perdera de todo sua atualidade. Partiu então para três livros surpreendentes, em que o irreal e o fantástico ocupam o primeiro plano. Comaparado a O visconde partido ao meio e O cavaleiro inexistente, que formam com ele essa trilogia, O barão nas árvores é o menos “maravilhoso” dos três. O olhar do autor é irônico e bem-humorado, e a narrativa, isenta de qualquer preocupação de ordem moral ou pragmática, não perde de todo sua ligação com a realidade. A ideia do protagonista, de que para entender bem a vida na Terra é preciso manter alguma distância dela, é um postulado puramente racional. Pode parecer também um indício de que o barão de Rondó teria escolhido se isolar ou se vergetalizar. No entanto, isso é desmentido pelos fortes laços que ele, lá de suas copas, continua mantendo com a sociedade, a família e as mulheres. A vida sobre os galhos é na verdade uma proposta alegórica de ver as coisas de um ângulo mais amplo do que de dentro de uma casa da baixa nobreza.
Até o fim de sua história, Calvino mantém o personagem sem voltar a pisar o chão, e no entanto sempre mergulhado nos acontecimentos cá de baixo e com uma vida afetiva das mais movimentadas em todos os aspectos. Os personagens traduzem suas dores e incertezas em atos estranhos, como Batista, a irmã amargurada, preparando patê de fígado de rato, seu pai, sempre iludido quanto à importância da família na corte, ou o abade aluado, preceptor dos filhos. Mas o clima criado e mantido pelo romance afora é uma afirmação implícita do que todos nós já sabemos, cada qual a seu modo: mudança e finitude são os pressupostos da vida, aos quais cada um responde a seu modo. E ainda assim, Calvino não deixa as coisas caírem no lugar-comum.