Enquanto os filhos eram pequenos, normalmente era eu que comprava as roupas deles. Certa época, quando eu estava particularmente atarefada no serviço, houve uma semana em que viajei e meu marido, buscando as crianças na escola, encontrou uma das meninas tão malvestida, com a calça com a cintura frouxa, que passou com eles na loja e os abasteceu de camisas, blusas, shorts. Todo mundo gostou. Mas no geral isso era comigo mesmo.
À medida que cresciam e que manifestavam gosto pessoal, eu os acompanhava às lojas. Aí, alguns traços de personalidade deles, já vislumbrados em outras ocasiões, afloravam. Por exemplo, para o controle das semanadas (o equivalente a um picolé por dia), tínhamos um livro de contabilidade, onde cada um registrava o valor do que recebeu, o quanto e em que gastou, e o saldo. Sim, trabalhávamos com HISTÓRICO, DEVE, HAVER e SALDO. Era o famoso “livro verde”.
Pois bem, um dos filhos era controlado, equilibrado e mantinha os gastos compatíveis com a receita. Outro era absolutamente guardador, gastava em nada e suas semanadas se acumulavam, formando o que os outros chamavam de “o império”. O terceiro, não na ordem de idade, gastava tudo no mesmo dia, sempre tinha motivo para gastar mais e nos implorava por adiantamentos, que ora dávamos, ora não dávamos. Sei que estava sempre no vermelho.
Com as roupas, era o mesmo. O guardador não se importava com o que vestia, pelo contrário, era até apegado a elas. Uma vez, insistindo em vestir uma camisa muito velha, já apertada, eu disse que aquela roupa já não estava servindo e ouvi: “Não, mãe, se eu não respirar ela fica boa.”
O controlado, equilibrado, oh, céus!, que trabalheira acompanhá-lo às compras. Está bem, acompanhá-la... Que dificuldade para escolher uma simples calça jeans! “Levo esta ou esta?” Eu dava meu palpite. Mas vinham as objeções: “Ah, mas esta..., sei não, e se... porque...” E passávamos horas no shopping e às vezes voltávamos sem uma peça de roupa sequer.
Bersuit Vergarabat-Mi Caramelo
Já com a perdulária não havia a menor dificuldade de escolha: ela queria simplesmente tudo, sem noção e sem censura. Acompanhava as propagandas pela televisão e queria porque queria “marshmallow caramelow”, que detestou. Vendo anúncios de xampu, pediu que comprássemos “caspa”.
Shampoo anti-caspa, Pantene- imagem google
Uma vez, saímos com ela especialmente para comprar um agasalho para a escola. Eu já tinha a ideia exata do que precisávamos: um casaco de malha azul marinho. Está bem, o meu papel era aquele, provê-la da roupa adequada para a ocasião. Mesmo assim, até hoje me arrependo de não haver atendido ao pedido dela, ela toda saltitante, toda peruinha: “Já sei o que quero, mãe, compra esse aqui, compra!” Mas mães costumam ser racionais e bobas.
Por que não a deixei levar para casa o casaquinho cor de mel, com linda raposinha de pele como gola?
La tarde es Caramelo, Vicente amigo