Por Ana
Laura Diniz
Johnny Depp no papel de Barnabas Collins: impressionante atuação e caracterização |
Eu amo os filmes de Tim Burton. Falo logo de cara porque
assim fica fácil para quem lê, acionar os possíveis filtros de qualquer análise
que faça a respeito do mencionado diretor. E vou além. Amo a interpretação de
Johnny Deep para as produções de Burton: casamento perfeito.
Em “Sombras da Noite”, oitava parceria entre o diretor e
ator, não foi diferente. Dessa vez, o enredo não conseguiu
superar ainda "Edward Mãos de Tesoura" (1990), “A Noiva Cadáver” (1994) – o
ator empresta a sua voz para o personagem Victor
Van Dorst – e "Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" (2007), mas Depp, também produtor, e grande elenco, não decepcionam, e o filme é para
ser visto e revisto.
Cheio de piadas que levam ao
humor negro, o sobrenatural vem à tona mais uma vez fugindo do lugar-comum.
Mais que a incansável beleza de Depp, o que atrai a muitos
naturalmente para seus filmes, a capacidade que ele tem de se vestir e se revestir
de múltiplos personagens, sem que ele seja o mesmo em todos, é impressionante.
Seu personagem, Barnabas Collins, tem uma
riqueza de unidade incrível, e sua postura corporal intensifica situações que,
novamente, leva também ao humor.
A trama começa em 1752, e Barnabas, filho
de um empreendedor
inglês que fundou, na América, a cidade de Collinsport, é amaldiçoado pela
bruxa Angelique (Eva Green), após a mesma ter um romance descartado por ele – e
condenar toda família Collins à desgraça.
Barnabas perde então os seus pais
e por tabela, seu grande amor, Josette (Bella Heathcote), que, enfeitiçada, se joga num precipício.
Não tendo mais nada do que ama junto a ele, Barnabas se joga em seguida – mas não
morre: é transformado em vampiro.
Eis a última vingança da furiosa
Angelique, que o sepulta acorrentado em um caixão. O plano era deixá-lo assim
por toda a eternidade, mas a ela não imaginou que, dois séculos mais tarde, no
início da década de 1970, um empreendimento imobiliário desenterraria o
vampiro.
Isso tudo acontece de forma
rápida, nos primeiros vinte minutos, e a partir daí a trama verdadeiramente tem
o seu início. E haja risada, pois tantos séculos passados, tudo é novidade para
Barnabas – do asfalto às lojas e carros – até o choque de gerações.
Nesse quesito a interpretação
de Depp supera. O texto acompanha numa riqueza de vocabulário, muitas vezes
erudita, a postura “rígida” do personagem: forma de andar, de sentar, de falar,
de agir; tudo ganha novo aspecto de conduta e dois mundos se contrapõem ao
mesmo tempo que se somam: o passado no presente; e o presente no passado.
E Barnabas volta para casa.
Descobre que há descendentes ainda em Collinsport, e o que resta da família é tão
perturbada quanto decadente. Michelle Pfeiffer, que há tempos andava sumida das
telinhas, interpreta Elizabeth, a matriarca da família. Lá, estão alguns dos
conflitos mais interessantes provocados pela adolescente rebelde (Chloë Grace
Moretz, de "Kick-Ass"), a psiquiatra bêbada
(Helena Bonham Carter, na sétima participação nos filmes do marido Burton), o
mordomo ranzinza (Jackie Earle Haley) e o garoto que vê fantasmas (Gulliver
McGrath, de "A Invenção de Hugo Cabret").
Se Barnabas não pode mudar o
que vê a sua volta, pelo menos tentará recuperar o prestígio dos Collins. Para
isso, o protagonista enfrenta sua antiga algoz Angelique, agora uma rica
empresária da cidade. Mais do que uma rival, a bruxa imortal é também uma
amante cruel, o que torna tudo muito mais divertido.
Com participações especiais de
Christopher Lee e do roqueiro Alice Cooper, como ele mesmo, "Sombras da
Noite" termina com total possibilidade de sequência. Será possível que
esse seja o plano de Burton e Depp? Ou tudo dependerá do resultado nas
bilheterias? É viver pra saber.